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Entenda a importância da parceria escola e família na formação de valores

Comunicação escolar
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A escola transmite conteúdos enquanto a família ensina valores: por muito tempo assim eram definidos os papéis dessas duas importantes instituições da sociedade na formação de valores dos alunos.

Porém, com as mudanças nas relações sociais e com as novas dinâmicas de composição e de funcionamento das famílias, fica cada vez mais difícil estabelecer os limites que permeiam esta relação, principalmente quando a ética e os valores morais estão no cerne do debate e da preocupação dos brasileiros.

Embora seja um tema polêmico, pais e educadores concordam em um ponto: a escola e a família devem ser parceiras na missão de formar cidadãos de maneira integral, alinhando expectativas e unindo esforços para que o aluno seja o maior beneficiado.

Mas, como trabalhar essa corresponsabilidade dentro da escola de forma que a atuar como um agente ativo no processo, mas sem se sobrecarregar de incumbências que não estão no seu escopo?

Confira 8 tópicos para levar em consideração sobre a parceria escola e família na formação de valores dos alunos.

1. A responsabilidade da formação de valores

Todas as relações humanas são permeadas por valores universais, por isso hoje fica inviável afirmar que a formação desses valores e do caráter é de responsabilidade apenas da família. 

O aprendizado e o exercício desses valores passam obrigatoriamente pela escola, tendo em vista que ela é uma instituição social de frequência obrigatória, onde as crianças são inseridas no coletivo.

“O aluno precisa ser visto como um ser humano integral e todos os que estão envolvidos com ele contribuem com sua formação”, defende Káthia Kobal, coordenadora pedagógica da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I do Colégio Vital Brazil, de São Paulo.

Para ela, a responsabilidade na formação de caráter e de valores é da família em primeiro lugar, porém, posteriormente, a escola vem para consolidar o que foi ensinado em casa.

Camila Faria Zanetti, coordenadora pedagógica do Colégio Tarsila do Amaral, de Limeira (SP), entende a questão de forma semelhante.

“Toda e qualquer escola de educação básica tem como um de seus principais objetivos o dever de preparar seus alunos para vida, como cidadãos de bem. Mas a escola não faz o papel da família e nem esta faz o papel da escola. É necessário que haja participação mútua entre as partes”, afirma Camila.

2. Contato social na infância

A família é o primeiro grupo onde a criança obtém contato e relação social. Uma das funções mais importantes das famílias quando a criança ainda é um bebê é, justamente, dar início a este processo de socialização, repassando aos pequenos padrões de conduta e de moral de acordo com os valores que acreditam e com a cultura na qual estão inseridos.

Porém, quando a criança começa a frequentar o colégio, tem início uma nova fase nesse processo de socialização. Se antes a criança vivia em um mundo mais "fechado" e protegido, ao entrar na escola passa a ter contato e a estar exposta a diferentes realidades, modelos de criação e valores.

E é nessa convivência que as competências sociais e emocionais da criança começam a ser desenvolvidas, com objetivo de capacitá-la a enfrentar os desafios da vida.

“A partir do momento que ela entra na escola, a escola se torna responsável por inserir a criança no coletivo. A noção de respeito e valores se constrói tanto em casa quanto na escola, apesar de serem relações e instituições diferentes. Uma complementa a outra. Não há como viver em sociedade se não trabalhar a questão dos valores”, afirma a psicóloga, psicopedagoga e terapeuta de casal, família e comunidade, Sandra Cristina Trambaiolli De Nadai.

Entretanto, é importante entender que, muito embora a escola tenha o papel de exercitar os valores construídos pelas famílias, isso não significa que ela determine o que é certo ou errado, mas sim, que trabalhe questões que desenvolvam os valores ético e moral nos alunos.

“Trabalhar valores no colégio significa abrir espaço para debater sobre sentimentos e buscar um comportamento empático não só entre alunos, mas também entre todos os que circulam pela escola, contribuindo fortemente para a formação social dos estudantes e também para o aperfeiçoamento de sua identidade e autoestima”, diz Vania Bueno Frau, diretora pedagógica da Escola Ser, de Campinas (SP).

3. Comunique a identidade da escola

Tendo em vista essa corresponsabilidade na formação integral dos estudantes, comunicar com clareza para as famílias quais são os princípios e quais as regras de convivência da instituição é uma forma de evitar conflitos no que se refere aos valores trabalhados pela escola.

Para isso, além de um posicionamento de marca que dê conta de transmitir como sua instituição atua neste quesito, é preciso informar aos pais, desde o momento em que eles demonstram interesse pela escola, quais são os princípios que a regem e de que forma ela os trabalha no cotidiano.

"Quando a gente procura uma escola para os filhos, normalmente a gente procura uma escola que dialogue um tanto considerável com nossos próprios valores, crenças e nosso jeito de encarar o mundo. Então, cabe essa reflexão primeira da família: o que eu quero de fato?”, opina Juan Otarola, coordenador pedagógico da Teia Multicultural, de São Paulo.

É neste caminho de esclarecer quais são seus pilares e o que espera de seus alunos que o colégio Albert Sabin, de São Paulo, atua já ao recepcionar as novas famílias.

“No primeiro encontro com os pais, na integração de alunos novos, a gente expõe nossos valores, nossos princípios, nossa missão, nossos pilares e que são inegociáveis. Então eles já vêm muito cientes. A gente nem sempre vai concordar em tudo porque temos de pensar no coletivo, mas uma vez que estão aqui conosco, eu não os vejo desalinhados com nossos princípios”, afirma Dioneia Menin da Silva Oliveira, coordenadora pedagógica de Educação Infantil e Ensino Fundamental I do Colégio Albert Sabin.

Para a educadora, o conceito da convivência voltada para o coletivo é justamente um dos pontos positivos da atuação da escola neste quesito, tendo em vista que a instituição de ensino harmoniza e traz para a prática o exercício dos valores de forma mais desafiadora, se comparado ao núcleo familiar.

"Nas famílias, há diferentes graus de princípios e valores, sendo alguns mais importantes que outros e, como a escola não vai mudar seus princípios e prioridades para atender questões pessoais, ela traz um equilíbrio para essa equação”, afirma.

Porém, é fundamental ressaltar que o aprendizado moral e ético dos alunos no âmbito escolar não se dá apenas por aulas ou disciplinas que contemplem discussões nesse campo, mas, especialmente, quando está incorporado ao projeto político pedagógico da escola e, principalmente, quando faz parte da prática cotidiana de toda instituição.

Em outras palavras, não adianta a escola “ensinar” uma postura ética e os estudantes observarem professores usando o horário de planejamento de aula para cuidar de assuntos pessoais, por exemplo.

4. A família não pode terceirizar suas responsabilidades 

Atento ao novo perfil de sua clientela, o Colégio São José, de Santos (SP), sentiu necessidade de fazer um reajuste no seu papel frente à formação holística dos alunos.

Considerando a variação na dinâmica das famílias que, não apenas contam com a mulher atuante no mercado de trabalho, mas por vezes têm pais e mães conciliando jornadas de dois ou mais empregos, a instituição escolheu se posicionar de forma empática para atender às demandas desse tipo de público.

“Quais são nossos pais hoje? Tem muitas mães que têm seus filhos sozinhas. Tem pai e mãe que trabalha fora o dia inteiro. Tem muitas famílias que não cuidam, mas tem famílias que cuidam dentro da possibilidade de sua rotina. Então a gente tem de se colocar um pouco no lugar dessas famílias e ajudar naquilo que for possível”, pondera a diretora Maria Cleonice Machado.

As famílias têm a preocupação de não darem conta sozinhas de formar um cidadão com valores éticos e clamam que as escolas possam ajudá-las nesse processo. Mas, é preciso deixar claro que a proposta da escola ser uma parceira não significa que os pais têm o direito de terceirizar suas responsabilidades. 

Para evitar conflitos e maus entendidos neste sentido, uma comunicação direta e franca é o melhor caminho.

“Falar em parceria significa que tanto escola quanto família tem interesse em comum, que é o aluno. Quando percebemos um desajuste nesse ponto, buscamos o diálogo para levar ao entendimento e à conscientização sobre qual é a responsabilidade de cada um dos agentes nesse processo de educação global”, considera a psicóloga Sandra De Nadai.

5. Valores no currículo escolar

Desde 2014, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) chama a atenção para a importância do aprendizado de valores, visando uma formação mais holística e plena dos estudantes. 

A entidade afirma que as escolas devem estar aptas a transferir ensinamentos que colaborem com a construção de cidadãos responsáveis, dizendo ainda que esse tipo de educação é tão prioritária quanto a tradicional, já que os alunos de hoje serão os responsáveis pelas decisões do amanhã.

Desta forma, as instituições de ensino estão cada vez mais atentas para trabalhar as questões morais no seu currículo, agindo em parceria com as famílias na promoção de alunos mais preparados para agir e transformar o mundo.

Neste caminho, grande parte das instituições de ensino têm optado por atuar no desenvolvimento de virtudes de maneira transversal, ou seja, aproveitando cada tema ou situação vivenciada na rotina dos alunos como oportunidade de ajudá-los na formação de valores. Uma das estratégias mais usadas, neste sentido, é propor dilemas em sala de aula e abrir o debate, provocando a reflexão e estimulando o pensamento crítico dos estudantes.

“Todo conteúdo ensinado na escola foram vivências, foram contextos sociais. Eles não deixaram de estar permeados pelas relações humanas o tempo todo. Então não tem como você contar um fato histórico sem dizer como eram as relações humanas naquela época e contextualizar com a realidade de vivemos hoje. Você já está trabalhando aí os valores e princípios”, observa Dioneia Menin da Silva Oliveira, coordenadora pedagógica do Colégio Albert Sabin (SP).

Como exemplo, ela cita a abordagem que a escola faz quando introduz para os alunos o clássico livro “Moby Dick”, de Herman Melville. Trabalhado na aula de Português do 5º ano do Ensino Fundamental, os estudantes discutem, por exemplo, a mudança na forma como o animal era visto no século passado – quando a obra foi escrita – comparando com os tempos atuais.

“É um exemplo muito pontual, de como as pessoas lidavam com a baleia na época que era vista como um monstro do mar que as ameaçava, que precisava ser caçada. Já hoje, lidamos com a baleia que precisa ser preservada, que corre risco de extinção. Esse é um contexto onde estamos trabalhando valores”, explica.

6. Trabalhando o tema na prática

No Colégio Nahim Ahmad, de Guarulhos (SP), os valores também são trabalhados de maneira interdisciplinar, com uma ênfase especial na postura dos educadores, que são aconselhados a serem parâmetros para os alunos das virtudes ensinadas.

“Orientamos aos professores que incluam as discussões dos valores nos planejamento das aulas e dos projetos, e que se sejam eles, também, referência de tais condutas em suas atitudes”, conta a mantenedora, Aline Ahmad.  

Patrícia Serra de Zoppi, orientadora pedagógica do Ensino Fundamental II, diz que no colégio a preocupação em trabalhar o convívio saudável e o respeito entre os estudantes vai além, e começa já no minuto de silêncio que inicia cada dia de aula em todas as turmas. “É o momento da reflexão, de diminuir o pensamento acelerado, de trazer as atenções para aquele momento”, explica.

Para praticar o aprendizado de virtudes, o Ahmad incentiva também o voluntariado e a solidariedade, por meio de campanhas sociais de arrecadação e de visitas às entidades filantrópicas. Recentemente, ao trabalhar poesia na disciplina de Português, por exemplo, os alunos do Ensino Médio tiveram a iniciativa de escrever suas próprias poesias e distribuí-las nas ruas, como forma de espalhar o amor.

“Muitos deles se emocionaram. E dentro de tantos casos, uma menina me disse que nunca mais ia negar receber um panfleto na rua, porque o dela havia sido rejeitado três vezes e ela se sentiu muito mal com aquilo. A gente procura desenvolver esses projetos para plantar aquela sementinha do bem, do amor, do respeito. Pequenos projetos assim se tornam grandes”, conta.

7. Formação de pais e professores

Para ajudar os educadores a trabalharem temas ligados à educação de virtudes, o Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral) – composto por pesquisadores de diferentes universidades como USP (Universidade de São Paulo), Unesp (Universidade Estadual Paulista) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) -, desenvolvem programas de implantação de procedimentos em “Educação Moral” por meio de assessorias e cursos nas redes públicas e particulares de ensino. 

O “Somos Contra o Bullying”, por exemplo, é um dos projetos implantados nas escolas para resolução dos problemas de convivência.

O Gepem também atua na capacitação das famílias para o ensino de valores, por meio do programa “Formando pais: a educação daqueles que educam” – um curso de 20h, que discute sobre as diferentes formas de educação no núcleo familiar e suas consequências na formação da personalidade da criança.

“O objetivo não é ensinar, mas refletir na educação que oferecem para construção de valores, acompanhar de perto os filhos, estabelecer limites. Se a escola abre o espaço para que os pais busquem essa formação, eles agradecem. Muitas vezes quando eles vão para um trabalho que não julga, não culpa, mas que acolhe e oferece outras possibilidades, eles querem voltar e isso faz toda a diferença”, comenta a psicopedagoga Sandra Cristina Trambaiolli De Nadai, que participa desse projeto.

‍8. Inteligência emocional na formação de valores

O Colégio Pilares, de Santa Bárbara d’Oeste (SP), trabalha os valores da Educação Infantil ao Ensino Médio, dentro do programa “Escola da Inteligência”. Idealizado pelo médico psiquiatra, professor e escritor Augusto Cury, o objetivo do método é implementar uma cultura para o desenvolvimento da inteligência emocional e da saúde psicossocial, colaborando para construir relações saudáveis dentro e fora da escola.

“Antes de implantarmos o programa, há dois anos já tínhamos muito forte um trabalho com valores. Mas ele veio a somar muito no trabalho com alunos, família e equipe escolar no sentido da formação sociemocional”, conta Heliana Battaglia Beltrame, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental II e Médio.

Os alunos têm uma aula do programa por semana, onde são trabalhadas virtudes universais tais como respeito, honestidade, sinceridade, gratidão, cidadania, entre outras, voltadas para criar uma atmosfera de harmonia na convivência coletiva.

‍“A gente acredita que trabalhando esses valores, criamos na escola um bom ambiente para aprendizagem”, observa Heliana.

Já no Sistema Anglo de Ensino, o trabalho de virtudes é feito por meio do programa Olem (O Líder em Mim). Desenvolvido com os alunos do Ensino Fundamental, o programa trabalha diferentes hábitos de boa convivência buscando o desenvolvimento das competências socioemocionais.

A mudança comportamental acaba tendo impacto em toda comunidade escolar (equipe, professores, alunos e famílias), levando, inclusive, ao aumento do rendimento acadêmico, na medida que diminui os conflitos escola-família e os problemas de comportamento dos estudantes.

“A nossa grande preocupação é fazê-los entender, desde pequenos, que existe um grupo ao qual eles passam a pertencer, onde tem pessoas diferentes, que é o grupo escolar. Com o Olem, temos os nossos combinados com os alunos, que são as regras de convivência. E o tempo todo os valores estão inseridos”, explica a coordenadora pedagógica do Anglo Itu (SP), Rosane Fruet de Moraes.

A cada começo de ano, os pais são chamados para um evento na escola onde são demonstradas as diretrizes do programa. Já o acompanhamento do envolvimento das famílias é feito semanalmente, por meio de um caderno de atividades que as crianças levam para casa.

Em suma, a comunicação escola e família é muito importante para que essa parceria na formação de valores dos alunos dê certo. Um aplicativo de comunicação escolar como o ClassApp é um grande aliado das escolas para ter esse contato próximo e efetivo com as famílias.

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