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No momento de escolher o colégio para matricular o filho, os pais se veem diante de uma longa jornada. São horas de pesquisa, conversas com outros pais, parentes e amigos em busca de referências seguras, além de visitas para conhecer na prática o modo de funcionamento de cada instituição. Critérios como proximidade, material pedagógico, atenção com o filho, valor da mensalidade e modelo de gestão são levados em conta. Mas, para grande parte das famílias, a escolha por uma instituição é feita, sobretudo, a partir da afinidade que elas têm com a filosofia e com a linha pedagógica daquela escola. Ou seja, a forma como pensa, entende e aplica seus conceitos sobre o que avalia ser uma boa educação costuma ter um peso central nesse percurso.

Em busca de atrair famílias que comunguem dos mesmos princípios, as escolas vão se posicionando e se diferenciando no mercado: algumas decidem atuar mais focadas na “preparação para o vestibular”, outras apostam no “aprendizado através das artes”, tem as que avaliam como essencial a atenção dada ao “desenvolvimento das competências sócio-emocionais”, ao mesmo tempo que outras se posicionam como escolas “internacionais”, ou seja, trabalham com eixo central no ensino bilíngue e nas oportunidades de vivência no exterior, entre outras.

Cada uma ao seu estilo, as instituições investem a fundo para conquistar e convencer pais e alunos a darem crédito à sua proposta. Porém, nem sempre todo esse empenho se reverte em satisfação a longo prazo. Os problemas cotidianos, os ruídos na comunicação e a falta de clareza e constância no diálogo com os pais e alunos podem tomar grandes proporções e romperem com a credibilidade apresentada inicialmente. E o resultado da ausência de reforços frequentes sobre o projeto da escola pode levá-la a enfrentar um dos seus mais temidos desafios: perder alunos para os colégios concorrentes.

Mas, afinal, há caminhos para preservar o encantamento inicial e garantir a permanência do aluno ao longo de toda a trajetória estudantil?

 

Comunicação do princípio ao fim

Em muitos casos, os pais perdem o encanto pelo colégio por uma simples razão: já não se lembram mais dos princípios e dos propósitos que os levaram a matricular seus filhos naquela instituição. Com o passar do tempo, eles podem ficar em dúvida se a escola está entregando a proposta oferecida inicialmente e, até mesmo, se eles próprios ainda desejam que os filhos permaneçam aprendendo com base naquele projeto.

Além disso, as impressões passadas pelos filhos pesam bastante na decisão de mantê-los ou não na mesma escola. Uma pesquisa realizada em 2016 pelo Instituto Hart Research Associates, de Washington (EUA), revelou que, na hora de pensar na renovação da matrícula, o bem-estar socioemocional dos filhos é o item que apresenta a segunda maior preocupação por parte dos pais (fica atrás apenas da capacidade de pagar os estudos). Por isso, criar um ambiente onde a comunicação seja permanente é a primeira estratégia para manter pais, alunos e escola em sintonia.

Nesse sentido, uma das medidas que se faz necessária é identificar para as famílias quais os canais de comunicação oficiais para a troca de informações com a escola. Isso porque eles ajudam a ‘estancar’ a disseminação de conversas paralelas por vias extraoficiais, como grupos de WhatsApp, por exemplo, onde os assuntos são debatidos de forma volúvel e, até, irresponsável. Quando não trabalhados com consistência pela escola, essas conversas paralelas podem contribuir para o sentimento de desencanto generalizado, a ponto de “contaminar” boa parte dos integrantes, gerando um movimento de insegurança quanto ao trabalho realizado por aquela instituição.

 

Será que o WhatsApp é a saída para melhorar a comunicação da sua escola?

 

Ponte entre ensino fundamental e médio

Foi o que aconteceu três anos atrás em um tradicional colégio da região de Campinas (SP). Incertos quanto à proposta de ensino oferecida aos alunos do ensino médio e atraídos pelo marketing de um novo colégio da cidade, os pais passaram a discutir o assunto nos grupos de WhatsApp. O que era um “burburinho” cresceu a tal ponto que o resultado foi uma verdadeira debandada da instituição, com a saída de aproximadamente 15 alunos do último ano do ensino fundamental. Foi preciso muito empenho, criatividade e comunicação para reajustar o foco e evitar que o problema se repetisse nos anos seguintes.

“Iniciamos um trabalho de aproximação com as famílias e entre alunos do nono ano e do ensino médio. Eles passaram a participar de muitas atividades juntas, como excursões, semana das profissões e simulados, por exemplo, e, com isso, conseguimos manter os alunos nos anos seguintes e ter uma perda pequena.” comentou a coordenadora da escola, que preferiu não ser identificada.

 

Modernização

Se por um lado a tradição contou à favor no momento de matricular os filhos, a falta de modernização do colégio e a busca por uma oferta de ensino mais focada no vestibular foram os motivos que levaram a mãe Aline* a matriculá-los em outra escola, quando ingressaram no ensino médio.

Embora já conhecessem a competência da instituição – a mesma onde seu marido e demais familiares haviam estudado – ela conta que houve um desencantamento com a proposta pedagógica ao longo dos anos e as expectativas frustradas começaram a pesar quando os filhos finalizaram o ensino fundamental – o que acabou determinando sua escolha de levá-los para outra instituição.

Ao ser comunicada sobre a decisão de mudança, a direção argumentou que estava investindo em diferentes frentes de inovação, mas naquele momento a decisão já estava tomada. “Quando decidi tirá-los da escola fui pessoalmente comunicar a direção. Eles argumentaram que estavam se modernizando, mas percebi que não estava dando certo. Achei que a escola parou no tempo, algumas coisas não estavam a contento”, lembrou.

Ela afirma não ter se arrependido da decisão. “Achava a escola anterior mais fraca. Já no novo colégio, o material didático deu mais estrutura. Tanto é que os meninos passaram de primeira na faculdade”, contou.

 

Transição para ensino fundamental

O momento de transição entre ciclos é um dos que mais exigem atenção das escolas. Com novas expectativas e mudanças significativas quanto ao método de ensino, professores e disciplinas, é preciso dedicação extra à comunicação com os pais.

Para Juliana*, as dúvidas sobre a permanência do filho de 6 anos no colégio onde ingressou com apenas três meses surgiram justamente na passagem do ensino infantil para o ensino fundamental. Com o desejo inicial de manter a criança na mesma unidade até o ensino médio, ela conta ter ficado insegura quanto ao desempenho da equipe pedagógica e à atenção oferecida ao filho nesta nova etapa de ensino e chegou a formalizar um email destinado à coordenadora relatando sua insatisfação.

“Achei meio desorganizada essa transição do infantil para o fundamental. A escola não tem o mesmo cuidado e é muito claro isso, a gente sente essa diferença”, relatou.

Outra preocupação é que o ritmo mais acelerado de ensino e a pressão por resultados nesta nova etapa deixem em segundo plano a formação de valores – prioridade para ela e motivo pelo qual colocou o filho nesta instituição.

“Meu filho ama a escola, está lá desde os três meses e com a mesma turma, porque a escola não troca crianças de sala. Seus melhores amigos e suas melhores lembranças estão ali. Mas, pela personalidade dele, penso que uma escola que tivesse como valores o ser e as relações sociais e não a performance como prioridade, talvez fosse um ambiente onde ele se realizaria mais, o que me deixaria mais satisfeita como mãe, já que sei que desempenho nunca será seu maior problema”, destacou.

 

Voto de confiança

Ainda em dúvida sobre o que fazer e sem receber um retorno formal por email, a alternativa encontrada por Juliana* foi dar um prazo de seis meses para a escola mudar sua percepção.

“Estou dando o tempo que ela precisa para fazer as mudanças necessárias. Ninguém implanta grandes mudanças de uma hora para outra. Dei meu voto de confiança a ela e estou com meu olhar atento a esses pequenos detalhes do dia a dia”, contou.

Neste período, ela está acompanhando de perto a conduta da coordenação e afirma que, felizmente, tem sido surpreendida de forma positiva com uma postura de proximidade e de ênfase na comunicação que a escola tem adotado.

“Um dia, por exemplo, a nova coordenadora passou de classe em classe dando retorno aos alunos sobre as demandas que recebeu e para saber de que forma poderia ajudá-los a melhorar a convivência na sala de aula. Ela estava com um monte de cartinhas feitas pelos alunos e com uma série de caixas que ficariam em cada sala para que eles se lembrassem sempre dos combinados. Ali eles depositariam também as queixas e seriam ouvidos pela escola. Ela também se mostrou disposta a se comunicar mais com os pais”, relatou.

 

Veja quais as expectativas dos pais em relação à escola

 

Pais sempre presentes

No colégio Dom Bosco, de Americana (SP), o caminho encontrado para promover a fidelização e aproximar os pais da escola foi estimulá-los a estarem sempre presentes, seja para tirar dúvidas sobre assuntos do dia a dia ou para auxiliar em eventos como a festa junina da escola ou o Dia das Mães. Segundo a orientadora educacional, Mirielly Carrara, essa conduta proporciona um clima de proximidade e aumenta a confiança das famílias.

“Mantemos muitos alunos sequencialmente, irmão atrás de irmão, primo, sobrinho, todos estudando na mesma escola. Uma coisa que faz diferença é a participação dos pais na escola. Eles são bem-vindos mesmo, são chamados a ficar no ambiente escolar como eles quiserem e a ajudar em várias atividades”, destacou.

“Mexer na ferida” e conversar abertamente sobre os problemas e os desafios da escola, levando transparência aos pais e alunos, é outra proposta do que vem contando pontos à favor da instituição. “Acho que isso faz toda a diferença. É um valor da escola ter esse ambiente de troca com as famílias. E isso deixa os pais encantados”, afirmou.

 

Ferramentas seguras de comunicação

Para reiterar seus valores de forma constante e manter os pais bem integrados sobre o cotidiano escolar dos filhos, já existem recursos desenvolvidos especialmente para esse tipo de comunicação, como o aplicativo da ClassApp, por exemplo. Com a possibilidade de envio de fotos, textos, enquetes, avisos, comunicados em geral de forma segura e clara para as famílias, ele acaba estimulando uma comunicação permanente e, assim, contribuindo para o fortalecimento de vínculos.

No colégio COC Lyva, de Ibitinga (SP), o uso do aplicativo tem servido para reforçar os valores da escola – como o cuidado pessoal e atento com cada aluno -, e evitar mal-entendidos em momentos de conflito. “Quando um aluno tira nota baixa porque conversa demais, se não chamarmos o pai para explicar o que está acontecendo, ele com certeza vai na onda do filho e o filho vai contar da forma dele. Então, de forma preventiva, mandamos uma mensagem para os pais contando o que aconteceu com o filho deles na escola. Acho que isso aproximou bem mais porque antes não tínhamos uma ligação tão rápida e eficiente com eles”, contou a mantenedora e diretora da escola, Maria Eugênia Ferraz Gomes.

Já o Centro Educacional Transformando Cidadão, de Mauá (SP), vale-se do ClassApp para enviar fotos da rotina dos professores com as crianças. Desta forma, eles conseguem oferecer maior segurança e tranquilidade aos pais, além de fomentar um discurso positivo sobre o modelo de atuação da escola entre seus amigos e familiares, contribuindo para a divulgação espontânea e melhora da imagem pública da instituição. “Pensando que o marketing pedagógico é um dos caminhos para manter nossos pais satisfeitos temos um plano de ação para cada faixa etária mostrando os trabalhos que são desenvolvidos dentro da escola. Quando solicitamos um material para ser utilizado em uma determinada atividade, por exemplo, enviamos fotos para que os pais podem visualizar esse material sendo usado pelas crianças e a sensação é de satisfação por ver esse processo – o que descarta as reclamações e ainda traz o apoio das famílias”, contou a mantenedora Katia Cilene da Silva.

 

E no seu colégio, quais estratégias estão sendo utilizadas para manter os pais permanentemente encantados pela sua proposta pedagógica?

 

*Os nomes foram trocados em respeito à privacidade das entrevistadas e das escolas citadas.