Será que o WhatsApp é a saída para melhorar a comunicação da sua escola?

Comunicação escolar
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14/12/2022

Não é preciso ir a um passado tão distante para observarmos o quanto a tecnologia tem transformado nossa maneira de se comunicar e de interagir com o mundo.

Se compararmos o cenário que vivíamos há apenas cerca de 15 anos, as diferenças já são identificadas facilmente: no início dos anos 2000, a internet já começava a ser reconhecida como um meio de comunicação sem fronteiras, em contrapartida, os celulares ainda não eram tão comuns no Brasil.

No contexto escolar, a troca de informações com os pais ainda era limitada às formas analógicas que, de forma geral, eram feitas por meio de reuniões presenciais, bilhetes, agendas escolares ou no máximo ligações para telefones fixos.

No entanto, nossa realidade hoje apresenta novos contornos. Vivemos em um país onde o número de celulares em 2016 foi maior do que o número total de habitantes, sendo a proporção de 244 milhões de celulares para 210 milhões de pessoas, segundo dados da Anatel.

Desse montante, dados da “Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas”, realizada pela Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo (FGV-SP)”, apontam que 75% (168 milhões) são do modelo smartphone, ou seja, possuem sistema operacional inteligente que se assemelha aos usados nos computadores.

Junte esse dado aos avanços tecnológicos e às novas ferramentas que estão à nossa disposição hoje e ficará cada vez mais difícil ignorar o impacto que a tecnologia da comunicação causa na vida cotidiana de toda nossa sociedade. E as instituições de ensino não ficam de fora.

Você consegue imaginar a comunicação da sua escola hoje ainda sendo feita exclusivamente por meios analógicos?

Enviar informações por WhatsApp é confiável?

Com a popularização dos smartphones, a comunicação da escola com seu público direto (alunos, famílias e funcionários) ganhou novos elementos.

Além do envio de emails e da possibilidade de falar com eles de forma praticamente instantânea, por meio de ligações feitas para os telefones celulares, as formas de diálogo e de interação passaram a incluir o envio de mensagens via SMS e por aplicativos voltados para a comunicação – medida que tornou mais prático e rápido o envio de informações, além de ser mais sustentável do ponto de vista ecológico e de representar economia de tempo e de recursos gastos em ligações.

Com tantas ‘vantagens’ somadas à possibilidade de não precisar pagar pelo uso, os aplicativos de troca de mensagens gratuitos, como o WhatsApp, por exemplo, passaram a ser considerados alternativas para a comunicação escolar. No entanto, não demorou muito para que os problemas começassem a surgir e os educadores que haviam se rendido a ele, passassem a reconsiderar essa escolha.

Na instituição de ensino onde atua o diretor administrativo Cezar Pazinatto, o Colégio See-Saw Panamby, de São Paulo, foi a falta de seriedade no envio de informações oficiais da escola que colocou em xeque a eficiência da ferramenta.

“Havia certos ruídos na comunicação levados para dentro da escola por meio do aplicativo, sendo os grandes problemas, os tais grupos de mães no WhatsApp”, conta.

Privacidade e Prejuízo

Aliás, a comunicação extraoficial e sem controle que são comuns nesses grupos que reúnem pais e mães pode, inclusive, causar prejuízos financeiros aos colégios.

Em Minas Gerais, a simples referência a uma possível incidência de caspa em uma aluna, feita por uma professora no grupo de mães no WhatsApp, resultou em prejuízos financeiros, já que a escola de Belo Horizonte foi condenada a pagar R$ 10 mil reais de indenização à família da estudante.

Segundo o entendimento do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o episódio feriu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e causou dor, sofrimento e humilhação à jovem.

Neste caso, o problema, segundo a advogada Patrícia Peck Pinheiro, especialista em direito digital, é que o WhatsApp não assegura a privacidade e o controle necessários à comunicação em âmbito escolar.

"Ao envolver dados ou informações sobre crianças ou adolescentes, o meio de comunicação deve ser sempre o mais reservado possível para preservá-los. Cautela e discrição são a melhor forma de proteção”, alerta.

Ainda no quesito privacidade e segurança, outro desafio identificado pelos educadores no uso dessa ferramenta diz respeito à linha tênue que fica na comunicação entre o que é pessoal e o que é profissional, tendo em vista que esse meio de comunicação primordialmente usa o número de telefone pessoal do professor/funcionário.

Desta forma, é preciso ponderar sobre até que ponto a natureza da interação permitida por esses meios é adequada para a comunicação no ambiente escolar.

Um exemplo dessa possível confusão de papéis se dá quando um professor, que dialoga com seus alunos e pais por grupos no WhatsApp, acaba tendo que responder mensagens em seu horário de lazer ou até mesmo quando está em sala de aula – atitude que pode comprometer a qualidade e o foco do seu trabalho.

O WhatsApp na escola gera uma comunicação dispersiva

Por falar em falta de foco, essa também é uma das principais queixas no diálogo e na troca de mensagens feitas pelos grupos de WhatsApp compostos por membros da escola e das famílias.

Imagine a dinâmica da comunicação dentro de um grupo onde participam professores, coordenadores e 30 mães ou pais de uma sala de aula do infantil de uma escola.

Nesse cenário, você já imaginou quantas notificações podem circular por dia neste grupo? São demandas individuais para a coordenação que se misturam às observações pontuais dos professores para um pequeno grupo ou para algum estudante em especial, em meio a recados gerais e ao reporte de saídas antecipadas, etc.

Enfim, uma miscelânea de temas que, além de sobrecarregar os participantes com tantas notificações (e muitas vezes comprometer a memória dos aparelhos), pode levar à dispersão e a não absorção de comunicados realmente importantes, tanto por parte dos pais, como da escola.

Fora a posição vulnerável que a instituição pode acabar ficando frente às famílias. Afinal, ela tanto pode ter que atuar como mediadora de discussões comuns entre os pais dentro do próprio grupo, como também acaba sendo a responsável pela exposição dos números pessoais de telefone de cada participante.

Com o WhatsApp falta gestão na comunicação escolar

Outro risco importante para a escola é desconhecer a existência de grupos criados por funcionários, onde são veiculadas informações da instituição sem o seu consentimento, e todos os desdobramentos que essa ação pode causar.

Isso porque quando qualquer agente da escola envia um comunicado aos estudantes ou as famílias, independente do canal que esteja usando para isso, ele está representando a instituição. Ou seja, naquele diálogo ele se torna o porta-voz oficial do que a sua escola pode dizer e passa a representá-la frente aquela situação.

E quando isso é feito a partir de aplicativos genéricos, corre-se o risco de perder o controle e a visibilidade por parte dos gestores e diretores do que está sendo informado.

Sendo assim, dificilmente quem lê veicula que aquela notícia pode estar sendo dita somente em nome de um professor, por exemplo. E a depender do teor, isso pode resultar em um destaque negativo para a escola e ter consequências relevantes na credibilidade do colégio.

Outro ponto no qual o WhatsApp pode não atender com eficiência a comunicação escolar diz respeito à postura diligente e proativa que os colégios devem ter quanto ao armazenamento do fluxo de toda a sua comunicação.

Essa medida traz vantagens à instituição do ponto de vista da organização e gestão cotidiana, e também tem extrema valia como prova documental em disputas judiciais.

Neste quesito, o grande problema é que o WhatsApp permite excluir as mensagens. Ou seja, manter documentada a comunicação por essa ferramenta é uma tarefa quase impossível.

Afinal, quem garante que comunicados importantes não sejam excluídos pela família ou pelo funcionário que os enviou, propositalmente ou não, e assim a escola ser acusada de negligenciar informações?

Então, será que vale a pena?

Segundo Patrícia, para tentar evitar intempéries com o uso de aplicativos genéricos, a escola precisa definir regras de convivência e de comportamento digitais entre sua equipe, professores, pais e alunos, sempre se questionando quais os limites, as melhores formas de uso e se existem alternativas que atendam de forma mais precisa às particularidades do contexto escolar.

Esses questionamentos, conforme argumenta, devem contar com a participação de todos os agentes envolvidos no processo comunicacional, de forma que sejam avaliados os riscos e os possíveis prejuízos pedagógicos que o uso de meios informais podem trazer à relação família-escola.

De acordo com a especialista, tanto pelo conflito de interesses, como pela falta de credibilidade das informações, esses meios podem alimentar boatos ou até mesmo criar situações mais sérias, como no caso de veiculação de mensagens e imagens indiscriminadas, que podem levar a instituição de ensino não apenas a ter sua credibilidade arranhada, mas também, a enfrentar processos judiciais, como no que houve na escola de Belo Horizonte (MG).

Por isso, apesar da necessidade evidente de se ter meios mais práticos e ágeis para o diálogo escola-pais, o colégio deve ponderar se realmente vale a pena eleger o WhatsApp como seu comunicador oficial.

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