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Já faz um tempo que o modelo de educação do giz branco no quadro-negro, do professor enquanto detentor de todo conhecimento e das carteiras dispostas em fileiras na sala de aula não dá mais conta de formar alunos capazes de compreender o complexo panorama contemporâneo. Sobretudo quando olhamos para crianças e adolescentes nascidos na era digital, fica claro que é preciso transformar esse cenário. Neste contexto, vem surgindo uma nova concepção sobre o que ensinar, sobre como ensinar e sobre quais recursos usar para promover um processo educativo que dê conta da atualidade: a chamada “Escola 3.0”

Para entender este novo conceito que está transformando conteúdos, habilidades, metodologias e recursos didáticos e tecnológicos é necessário acompanhar as mudanças sociais anteriores ao seu surgimento.

Na Idade Moderna e Contemporânea, duas grandes revoluções mudaram não apenas as relações de trabalho e de consumo, mas também a forma de se transmitir conhecimento: a Revolução Industrial e a Revolução Tecnológica. Fazendo um paralelo com a evolução da sociedade, a educação pode ser definida por três modelos de ensino: 1.0, 2.0 e 3.0. Vamos conhecê-los:

conheça a escola 1.0, 2.0 e 3.0
Diferenças entre de escola 1.0, 2.0 e 3.0

 

Princípios da Escola 3.0

O termo Escola 3.0 foi usado pela primeira vez em 2007, pelo professor Derek Keats, da Universidade de Witwatersrand, de Joanesburgo (África do Sul), mas o conceito vem sendo amplamente difundido nos Estados Unidos. O norte-americano Jim G. Lengel, escritor e professor universitário especialista em Escola 3.0, faz uma analogia deste novo modelo com o ambiente de trabalho contemporâneo:

“No ambiente de trabalho 3.0, muito diferente das fábricas, a maioria das pessoas, trabalha em pequenos grupos. Elas resolvem problemas juntas. Usam ferramentas digitais. Elas apresentam novas ideias para o outro. Robôs fazem trabalhos mecânicos. Elas trabalham com problemas que ninguém tinha visto antes. Elas devem recorrer à química, matemática, biologia, história e literatura para solucionar problemas. Elas devem reunir informações de várias fontes, a maior parte na rede de relacionamentos, chegando a muitos formatos diferentes. Elas devem ser multitarefas. Elas conversam umas com as outras. E usam ferramentas digitais para comunicação. Trabalham com um amplo círculo de pessoas, de todo o mundo.”

Para ele, existem seis princípios-chave distinguem a Escola 3.0 da 2.0:

princípios que distinguem a escola 3.0 da escola 2.0

Quer começar a aplicar os conceitos da educação 3.0 na sua escola? Saiba mais sobre um deles: o storytelling

 

Desafios da Escola 3.0

Os gestores que pretendem alinhar o trabalho da sua instituição aos preceitos da Escola 3.0 precisam estar atentos para não reduzirem as mudanças conceituais apenas à introdução de tecnologias digitais. Assim, para que seja efetiva, segundo defende o consultor em programas de Gestão Educacional e Estratégica, Marcelo Freitas, a Escola 3.0 precisa, especialmente, atrair profissionais que lidem com a cultura de inovação de maneira natural, além de ter um olhar arrojado para sua infraestrutura e para as práticas na sua gestão. Nas escolas em que esse modelo já vem sendo posto em prática, por exemplo, é comum que as divisões entre séries e níveis, antes fixadas à idade ou a passagem do tempo, tornem-se mais flexíveis – o que pede uma postura mais disruptiva por parte dos gestores.

Quando falamos sobre o ambiente físico da Escola 3.0, os especialistas sugerem que os espaços sejam dinâmicos e fluidos a ponto de propiciar trabalhos em equipe e trocas de experiências entre os alunos, garantindo que o aprendizado ocorra não apenas na sala de aula, mas em qualquer lugar. Escolas referências em inovação hoje, como a Concept e Avenues, por exemplo, priorizam uma arquitetura responsiva, com poder de influenciar diretamente na formação dos alunos.

 

O papel do professor na Escola 3.0

Já o perfil dos docentes neste modelo pede que eles atuem como mediadores ajudando o estudante a descobrir qual é a melhor forma de aprender, ou seja, indicando quais fontes e métodos existentes para se chegar naquele aprendizado, solucionando suas dúvidas e os auxiliando na formação do pensamento crítico.

Para isso, Sergio Ferreira do Amaral, coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica Aplicada na Educação, da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz que, na Escola 3.0, além de saber utilizar a tecnologia para melhorar o aprendizado, o professor precisa ser capaz de admitir não ter todas as respostas e estabelecer uma parceria com aluno visando troca de aprendizado com as crianças e jovens, mantendo sua autoridade, mas sem ser autoritário.

Já Ton Ferreira, mestre em Ciências pela USP (Universidade de São Paulo), chama a atenção para as más consequências que a falta de um treinamento direcionado aos professores sobre a utilização de novas tecnologias pode causar na evolução da aprendizagem dos alunos. “Se não houver uma mudança no que diz respeito ao preparo desses professores, continuaremos a ver docentes projetando numa lousa digital o mesmo conteúdo que projetaria numa tela branca ou num retroprojetor, por exemplo”, pontuou no webinar “Os Desafios da Educação 3.0”.

Para ele, esse novo modelo educacional também vai exigir que os docentes desenvolvam habilidades em gestão de projetos, de comunicação e de trato com mídias digitais e sociais. Com o famoso “trabalho em equipe” cada vez mais valorizado, ter um bom relacionamento com equipe, alunos e pais e ter a capacidade de inspirar serão habilidades tão ou mais importantes quanto o próprio conhecimento específico da disciplina.

 

O protagonismo do aluno

O conceito de protagonismo do aluno é um dos alicerces mais importantes da Escola 3.0. Nela, o estudante é o agente de seu processo de aprendizagem e participa de projetos que realmente despertem o seu interesse e fortaleçam a sua formação.

E, a partir do momento que revoluciona esse processo de aquisição do conhecimento, a Escola 3.0 passa a ser mais interessante do ponto de vista do aluno, que pode deixar de ver a escola como obrigação. Alguns especialistas defendem, por exemplo, que, com essa personalização do ensino, crianças e adolescentes podem se empenhar ao máximo na exploração das suas capacidades particulares, concentrando esforços em áreas, disciplinas e atividades nas quais se destacam, contribuindo, assim, para que o processo de aquisição de conhecimento tenha mais eficiência e prazer.

Porém, é preciso destacar que, quando falamos de um modelo com autonomia maior por parte do estudante, muito embora ele tenha liberdade de escolher o que quer estudar, as opções precisam se manter dentro dos padrões e atender a grade exigida pelo MEC (Ministério da Educação). Além disso, é fundamental que eles sejam constantemente estimulados a criarem responsabilidade pelo seu aprendizado, evitando que um ambiente com maior liberdade, seja interpretado como espaço livre para baderna.

Essa tarefa de auxiliar os alunos a compreender e a lidar com sua autonomia na educação deve ser dividida com os pais/responsáveis que, por sua vez, serão chamados a estarem presentes e participando cada vez mais da educação dos seus filhos. Neste contexto, a adoção de ferramentas e dispositivos que facilitem a presença da “hiperconectada” família contemporânea no cotidiano escolar dos filhos, como o ClassApp, por exemplo, estará alinhada com as demandas desse modelo mais moderno de educação.

Em entrevista exclusiva para o Escolas Exponenciais, a psicóloga norte-americana Susan Sheridan reafirma a importância do diálogo entre as instituições de ensino e as famílias. Veja as dicas que ela nos deu sobre como as escolas podem promover o engajamento dos pais na educação.

E na sua escola, como vocês têm incorporado a transformação digital no processo de aprendizado dos alunos?