Não acordamos todos os dias para aprender algo novo. Acordamos para ter novas experiências. E são justamente essas experiências que nos fazem aprender. A longo prazo, nos tornamos seres humanos mais evoluídos, críticos e desbravadores. Para que o aluno aprenda na escola, o foco não deveria estar no conteúdo, mas sim na qualidade das experiências que vão estimulá-lo a aprender algo novo. Dessa forma, desde cedo, o estudante aprende a canalizar sua criatividade para construir algo que possa transformar o mundo. É preciso despertar emoções para aprender!
Precisamos ir além das aulas expositivas
Na sala de aula, a interação do professor com o aluno pode ser de troca e estimulante ou pode ser confusa e desinteressante, com alguns alunos aprendendo e outros não. 90% dos alunos de 13 a 21 anos estão insatisfeitos com as suas aulas, segundo a pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção, realizada pelo Portal Porvir, que ouviu 132 mil estudantes de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal.
As aulas expositivas não engajam, são pouco aplicáveis no dia a dia e apresentam baixa retenção de aprendizado, chegando a ser 3 vezes menos eficazes do que simulações práticas. A solução para esse desafio se torna intuitiva quando escutamos o que os estudantes querem. Os pedidos mais frequentes são aulas com tecnologia e atividades práticas.
Para aprender, é preciso emocionar!
Nos recordamos mais facilmente dos momentos que mexeram com nossas emoções. Na escola, não é diferente. Recordamos melhor dos conteúdos que foram transmitidos utilizando algum ingrediente emocional. Um dos maiores estudiosos do cérebro na atualidade, o espanhol Francisco Mora, é enfático quando o assunto é aprendizagem: “Não se pode aprender nada além daquilo que desperta nossa emoção”.
Para Mora, ensinar bem significa, em essência, emocionar primeiro. Isso significa despertar a curiosidade, um dos ingredientes básicos da emoção. Partindo desse ponto, é possível conquistar a atenção e desenvolver os processos de aprendizagem e de memória: “Desde que somos mamíferos, há mais de 200 milhões de anos, a emoção é o que nos move. Os elementos desconhecidos, que nos surpreendem, são aqueles que abrem a janela da atenção, imprescindível para a aprendizagem” (El País).
Tecnologia, uma ferramenta para engajar os alunos.
Desde muito cedo, crianças possuem acesso a jogos digitais e redes sociais. Os estudantes também querem utilizar a tecnologia para aprender, é o que aponta a pesquisa do Portal Porvir. As ferramentas digitais permitem trabalhar com resoluções de problemas reais e fazem parte da rotina das crianças e jovens. Por meio dos jogos, os estudantes entram em um mundo imaginário onde são desafiados e se sentem mais livres para errar. Isso estimula a curiosidade e criatividade das crianças.
Criança gosta de palestra? Depende.
Em uma palestra que realizei para 200 alunos do Ensino Fundamental em uma escola pública em Paraíso-SP, apenas 67 possuíam celulares. Durante os 60 min da palestra, eles podiam votar nos desafios propostos e reagir aos slides.
Logo no começo da palestra, eu me surpreendi. Os alunos não paravam de apertar as opções de corações, likes e carinhas. Foram mais de 30 mil reações aos slides! Inicialmente, não havia nenhuma disputa nem havia feito nada para para induzi-los a essa ação. Mas havia algo novo: essa foi a primeira vez que os estudantes tinham tido acesso ao Wifi e estavam utilizando o celular dentro da escola. Eles ficaram engajados do início ao fim da palestra.
Quando percebi que os alunos estavam curtindo a nova experiência com o celular, criei uma disputa: quem fosse da turma da frente deveria apertar o botão de like, e quem fosse da turma do fundão deveria apertar o coração. O engajamento aumentou ainda mais. A partir desse momento, havia uma disputa, um elemento surpresa, e isso despertou a emoção deles. Agora, cada um fazia parte de um time. Para ganhar, era preciso estar dentro do jogo!
Primeiro, eu engajei os alunos a partir de um elemento surpresa. Conquistei a atenção deles. O próximo passo foi comentar sobre o conteúdo que eu havia preparado baseado nas respostas deles. Toda experiência ocorreu de forma interativa, mexendo com as emoções deles.
Coluna por
Felipe Baldi
Felipe Baldi é fundador da tangram, edtech que ensina matemática, educação financeira e empreendedora utilizando jogos. Engenheiro Químico, atuou como consultor em diferentes países e trabalhou em startups. Fundador de um projeto voluntário para preparar alunos de escolas públicas para Olimpíadas de Matemática.