A profissão docente é uma das mais duras que existem no mundo, e isso não é discurso vitimista de educador, é dura mesmo. O salário não é legal, as condições não são legais, a organização do nosso tempo não é legal, mas talvez, o mais duro disso tudo: é a profissão que existe mais pitaqueiro por metro quadrado. Pitaqueiro que não sabe de nada do assunto, e que apenas dá pitaco ruim.
A impressão que me causa é que, ao matricular o filho na escola, o responsável ganha imediatamente um diploma de pedagogia, psicologia, e licenciatura em todas as áreas imagináveis. É mãe querendo ensinar como o professor deve dar aula de redação, pai querendo ensinar quantas folhas de tarefa para casa devem ser dadas, mãe com a certeza de que o trabalho deve ser feito da maneira que ela acha melhor, pai que acredita ter que ensinar de um jeito X e não Y, porque “no meu tempo era assim que faziam e deu certo comigo”.
O trabalho docente carece de mais credibilidade. E a gente precisa se fazer mais valorizado, para além das questões trabalhistas. É preciso valorizar a prática e os métodos da docência. No final das contas, uma aula é fruto de estudo e técnica, assim como a construção de um projeto arquitetônico. Eu, pedagogo, não ouso questionar o atendimento médico que meu filho vai receber, porque aquele que o atende tem técnica, estudo e é especialista no que fala.
Eu nunca vi em uma sala de cirurgia ninguém tentando ensinar ao cirurgião qual ferramenta usar, ou qual procedimento fazer. Engenheiros não permitem que pessoas sem conhecimento específico executem seus projetos.
Por que nós, docentes, temos que escutar tanta gente de tanta área a nos ensinar como fazer? Docência não é lazer. É profissão. Temos formação para isso.
Professores e professoras têm, além de formação adequada, algo chamado experiência. A nossa experiência é valiosa, cada aluno que temos nos ensina diariamente um pouco mais e nos faz aperfeiçoar nossa prática. Isso ninguém tira de um docente. É valioso.
Movimento “Obrigado por compartilhar”
Eu sugiro, professores e professoras de todo o Brasil, que juntos façamos o movimento do “Obrigado por compartilhar”.
É bem simples, cada vez que um pitaqueiro tentar lhe ensinar como fazer, mandar um bilhete enorme na agenda de como ensinar tal conteúdo ou gastar meia hora da reunião de pais mostrando a melhor maneira para ensinar o cálculo do Seno, proclame o seguinte texto:
“Obrigado por compartilhar _________________ (Coloque aqui o nome do remetente), mas eu, como especialista na área, com formação adequada e experiência única, vou analisar a sugestão e, se acreditar que é relevante, levarei para frente.”
Após falar esse texto, faça cara de professor feliz – cara de diário de classe preenchido e entregue. Cara de vitorioso. E siga…
É importante nos posicionarmos enquanto profissionais que somos e defender a nossa prática. Nunca, nunca mesmo, meu caro colega de profissão, deixe que alguém menospreze seus conhecimentos. Você é especialista. Nós somos especialistas.
Coluna por
Rafael Mansur
Rafael Mansur (@rafasmansur) é antes de tudo, um orgulhoso neto, filho e pai.
Pedagogo pela Universidade do Estado de Minas Gerais, com MBA em Gestão de Projetos pela USP, tem toda a formação focada na educação e no dia a dia escolar. É gestor educacional, atua também enquanto consultor de mais de 10 instituições de ensino. Foi curador da Bienal do Livro de Contagem, premiado por seus projetos em prêmios nacionais e reconhecimentos internacionais, tanto na área de cultura, quanto educação.
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