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A educação infantil é a etapa mais importante da educação básica, por atender um período notável do desenvolvimento humano. Por isso, em 25 de agosto comemora-se o Dia Nacional da Educação Infantil. Uma data importante e que suscita o debate sobre o acesso ao ensino na primeira infância. 

A primeira infância compreende a fase dos 0 aos 6 anos e é um período decisivo para a aquisição de capacidades fundamentais que refletirão na vida adulta desses pequenos.

“A educação da criança pequena, antes não entendida como uma necessidade, hoje é reconhecida como direito. E o direito à educação só é pleno quando alia acesso à qualidade”, afirma Andréa Patapoff Dal Coleto, pedagoga e doutora em Psicologia Educacional pela Faculdade de Educação da Unicamp.

De acordo com ela, a educação infantil deve basear-se nos critérios fundamentais de qualidade que são a promoção de um ambiente que desperte o desenvolvimento cognitivo, social, físico e afetivo e que proporcione condições adequadas para assegurar o bem-estar infantil e a ampliação de suas experiências.

“O brincar é o principal modo de expressão das crianças. Nas brincadeiras que fazem com outras crianças, com adultos, ou mesmo sozinhas, as crianças têm oportunidade para explorar o mundo, organizar seu pensamento, trabalhar seus afetos, ter iniciativa em cada situação. Existe na criança uma força empreendedora para aprender, mexer, explorar e conhecer a alegria da ação e do sucesso”, enfatiza Andréa.

Professora de Educação Infantil, Nária Ribas diz que esta etapa é muito rica de descobertas e uma das fases mais importantes do desenvolvimento da criança. “É nesta fase que ela tem a possibilidade de experimentar e vivenciar diversos momentos que contribuem para sua formação. É nas interações e através das brincadeiras realizadas que constrói seus conhecimentos, potencializando suas competências e habilidades”, destaca.

 

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Dia Nacional da Educação Infantil: estudo enfatiza importância da primeira infância

Em entrevista ao Escolas Exponenciais sobre o Dia Nacional da Educação Infantil, Andréa citou a pesquisa de James Heckman, premiado pelo Nobel de Economia em 2000, para enfatizar a importância da educação infantil.

Segundo ela, por meio de estudos, James constatou que as crianças que tiveram oportunidade de frequentar na primeira infância uma escola de qualidade (até os 6 anos) geraram uma transformação positiva e significativa na vida adulta.

Ao final da pesquisa, o estudioso se deparou com renda mais alta, baixos números de prisão e gravidez precoce, além de menor dependência dos programas de transferência do Poder Público. 

“Por isso, a educação infantil pode, com certeza, contribuir para o pleno desenvolvimento da criança. Para isso é fundamental oferecer um ambiente que potencialize experiências diretas em que as crianças possam construir conhecimentos a partir da sua própria ação, de forma a apoiar seus interesses em querer explorar, expressar sentimentos e ideias, conviver com crianças e adultos, participar, questionar, pesquisar, criar estratégias para resolver seus problemas, desenvolvendo assim sua autonomia”, afirma Andréa.

 

Das brincadeiras ao ensino de qualidade

Nária Ribas, professora de educação infantil, afirma que a ideia de considerar essa fase apenas como um período de brincadeiras e cuidados devido à necessidade de as mães trabalharem, faz parte da própria construção histórica das creches. 

No entanto, ela enfatiza que “vem se reestruturando ao longo dos anos mostrando que a educação infantil faz parte da educação básica, portanto é considerada escola com a responsabilidade de garantir um ensino de qualidade e com equidade, levando em consideração as potencialidades das crianças e a construção de suas competências, apontadas inclusive no documento que norteia toda a proposta da Educação Infantil, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular)”.

Um dos princípios pedagógicos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) da educação infantil indica que as crianças são protagonistas de sua aprendizagem. “Isso implica considerar que as crianças aprendem agindo, sentindo e pensando, ou seja, gerando suas experiências em um contexto em que são oferecidas ricas experiências por meio das interações e das brincadeiras, em que a criança desempenha um papel dinâmico”, destaca Andréa, que participou como redatora da BNCC da Educação Infantil juntamente com o MEC (Ministério da Educação).

 

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De acordo com Ana Carolina Cardanha, coordenadora pedagógica da escola de educação infantil Ateliê Cerejeira, em São Paulo, o começo de toda grandeza em nossas vidas é a escola. 

“Ao entrarmos na escola, passamos a expressar nossos desejos, praticamos relações, aprendemos a nos reconhecer como ser no mundo e passamos a socializar. A socialização nos traz conhecimento, conexões, oportunidades afetivas e crescimento”. 

Diretora pedagógica da Teia Multicultural, escola de educação infantil também em São Paulo, Georgya Corrêa diz ser muito complexa a contribuição da educação formal, da unidade de ensino, no desenvolvimento das crianças que estão nesta fase.

A criança, até os 6 anos, afirma Georgya, está em processo de formação e finalização do cérebro. “Ao mesmo tempo, é um período de muitas conexões, inclusive com a parte emocional. E tudo isso junto exige da gente algumas coisas, entre elas é que quanto mais possibilidades de experiências ela tiver, mais amplitude ela vai ter enquanto possibilidades futuras na vida dela”, explica.

 

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Um dos maiores objetivos da educação infantil é a socialização, sendo um meio propício para a construção do alicerce das relações humanas. Nesse sentido, a escola precisa fortalecer o desenvolvimento da autonomia, no qual a criança tenha oportunidade de fazer escolhas, ter pequenas responsabilidades, sentir-se acolhida e segura para desenvolver sua personalidade com autoconfiança, respeito por si e pelos outros, questionando e criando ideias.

Segundo Georgya, isso só é possível por meio de experiências ricas e que vão além da parte intelectual, mas também engloba a psicomotricidade, os movimentos, coordenação motora fina, e mesmo sensibilidade diante das coisas. 

“Se a gente não encaminha oferecendo toda essa amplitude que a criança merece, estamos restringindo de alguma forma a experiência. E a restrição dessas experiências diminuirão, talvez, as possibilidades no futuro dela, de caminhos que ela possa seguir”.

 

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De acordo com Ana Carolina, a educação infantil tem como eixo estruturante as interações e as brincadeiras, que atingem cinco campos de experiências: o eu, o outro e o nós; corpo, gestos e movimentos; traços, sons, cores e formas; escuta, fala, pensamento e imaginação; espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. 

A coordenadora pedagógica afirma que tudo o que é vivido e experimentado na educação infantil contribui no processo de aprendizado, características que são desenvolvidas desde a primeiríssima infância impactam diretamente na forma em que as crianças adquirem e ampliam os conhecimentos aprendidos. 

“Isso significa que as competências e habilidades desenvolvidas na educação infantil são necessárias para que as crianças possam aperfeiçoar outras características nas séries seguintes. Por exemplo, para ser alfabetizada a criança precisa desenvolver a percepção visual, as noções de tempo e espaço, pensamento lógico entre outros e tudo isso começa a ser trabalhado na educação infantil”.

Pedagoga e pesquisadora, Andréa afirma que a educação infantil exerce um grande efeito para toda a vida. Segundo ela, as experiências vividas pelas crianças nos primeiros anos têm um impacto decisivo na arquitetura cerebral e, por conseguinte, na natureza e extensão das suas capacidades adultas. 

“As experiências físicas, afetuosas, estáveis, seguras e estimulantes que as crianças têm com as pessoas que cuidam e a educam nos primeiros meses e anos de vida são cruciais para o êxito de todos os aspectos do desenvolvimento”.

Para ela, investir na primeira infância favorece colocar as crianças no caminho para se tornar o tipo de adulto que pode levar adiante as responsabilidades de cidadania democrática e trabalhar em igualdade nos relacionamentos humanos.