7 min de leitura

A escola tem um papel de extrema importância na formação dos hábitos alimentares dos alunos e pode auxiliar, com abordagem da alimentação escolar, no processo das crianças aprenderem sobre como comer melhor, quais são os horários para comer isso ou aquilo, dentre outros. Ajudando os estudantes, a escola ainda possibilita que esses ensinamentos sejam levados para dentro de casa, melhorando a relação de toda a família com a comida.

Promover uma alimentação saudável ainda na infância é promover a saúde, crescimento e desenvolvimento, além de prevenir doenças como anemia, obesidade, cárie dental, problemas de coração, dentre outros.

“Algumas doenças são provenientes de uma alimentação errada, então a gente pode preveni-las desde o início da infância ensinando as crianças sobre os atos alimentares saudáveis”, resume a nutricionista infantil e escolar Andressa Ariane. 

A autora do e-book 7 Brincadeiras que Irão Fazer seu Filho Comer Melhor ressalta que criar uma criança que come saudável é ter um adulto com um menor risco de doenças cardíacas, com câncer, diabetes, hipertensão e tantas outras.

“Conscientizando a criança do que é saudável e do que que faz bem para saúde, a gente consegue criar uma criança equilibrada, pois ela vai saber o que deve comer e a quantidade. É claro que a gente não vai comer saudável em todos os momentos. Um dia a gente vai preferir algo não tão saudável e está tudo bem, pois é uma questão de equilíbrio”, diz.

Um levantamento de 2021 do Sisvan (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional), do Ministério da Saúde, traz os preocupantes dados sobre o IMC (Índice de Massa Corporal) de crianças e adolescentes do Brasil:

0 a 5 anos

5 a 10 anos

Adolescentes

Risco de sobrepeso: 18,3%

Sobrepeso: 16,3%

Sobrepeso: 20,1%

Sobrepeso: 8,6%

Obesidade: 10,4%

Obesidade: 10,2%

Obesidade: 7,78%

Obesidade grave: 7,49%

Obesidade grave: 2,9%

 

Como a escola pode atuar na educação alimentar e nutricional de crianças? Confira as dicas da Andressa:

Aulas de educação nutricional

Por ser parceira da família no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, a sugestão é adotar aulas de educação nutricional. “Assim conseguimos passar esses conhecimentos para as crianças de forma bem lúdica, fazendo uma interação para que elas entendam a importância de uma alimentação saudável”, explicou a nutricionista Andressa.

A ideia é que a criança desenvolva uma boa relação com a comida. Algumas das sugestões de atividades de Andressa é adotar roda de leitura, contação de histórias através da culinária, uma “roda” de alimentos para falar um pouquinho sobre cada um deles, mostrar um arco-íris da alimentação onde cada cor vai representar um nutriente, dentre outras.

Outra sugestão da especialista para as escolas que servem alimentação é conversar com os alunos quando há uma mudança no cardápio. “Temos que mostrar a importância da alimentação que está no cardápio, o porquê eles precisam consumir e o que que tem naquela preparação”, diz. “Podemos até fazer uma brincadeira perguntando quem vai ser o primeiro corajoso que vai provar aquele alimento e eles acabam se envolvendo”, sugere.

Confira também:

Segurança nutricional: como deve ser a alimentação nas escolas na volta às aulas presenciais?

 

Para escolas que servem merenda

O primeiro ponto que a escola deve levar em consideração na hora de montar o cardápio é conhecer seus alunos. Andressa sugere fazer um levantamento das principais características dos estudantes e suas preferências, identificar os hábitos alimentares regionais de onde a escola está, se existe alguma necessidade especial a ser incluída no cardápio e a faixa etária dos alunos que irão receber os alimentos.

“Outro ponto que se deve levar em consideração são os horários das refeições, com um planejamento para que uma refeição seja um pouco mais leve para não atrapalhar o almoço”, exemplifica a profissionais. 

Em relação às necessidades nutricionais, Andressa alerta que existem recomendações de micro e macronutrientes para cada modalidade de ensino e para cada faixa etária, que podem ser verificadas na resolução do FNDE nº 20/2020.

Ela também explica que a escola precisa conhecer seus recursos financeiros para verificar os equipamentos, utensílios disponíveis, o número de profissionais, estoque de alimentos, dentre outros.  

Montando a lancheira 

Para as escolas que não servem alimentação, uma forma de ajudar as famílias é sugerindo formas saudáveis de montar a lancheira da criança. A nutricionista Andressa indica a prática da Sociedade Brasileira de Pediatria de escolher um alimento de cada grupo: 

  1. carboidratos;
  2. frutas;
  3. proteínas;
  4. bebidas.

 

“A lancheira sendo composta dessa forma vai estar bem equilibrada”, resume a especialista.

Uma forma de estimular o interesse pelo lanche é integrar a criança no processo de montar a lancheira, dando a possibilidade que ela escolha o lanche que irá levar. “Ela fica mais interessada e ansiosa para o que vai estar comendo”, diz.

O peso dos pais

Não há dúvidas de que atualmente os pais estão bem preocupados com a alimentação dos seus filhos, uma vez que a obesidade é uma doença que cresce cada vez mais na infância. A nutricionista alerta que a maioria dos distúrbios alimentares na infância surge como um reflexo de um de um problema emocional, como a perda de um familiar, o divórcio dos pais, a carência de atenção e até mesmo a pressão social pelo corpo magro.

“Essa questão da pressão muitas vezes é reforçada em casa, mesmo sem intenção e sem querer. Muitas vezes os pais acabam reforçando esse tipo de distúrbio ao comentar na frente da criança que o filho está muito gordinho, que engordou ou até que está muito magrinho. A criança é uma ‘esponjinha’ e vai absorvendo tudo, favorecendo o distúrbio”, alerta.

Segundo ela, o isolamento, ansiedade, depressão e agressividade são comportamentos que precisam de atenção e observação por parte dos pais. A escola também deve ser parceira da família nesse aspecto caso perceba esses sinais nos alunos.

Além disso, Andressa lembra que são os pais que fazem as compras no mercado e precisam trazer os alimentos saudáveis para dentro de casa. “Não adianta os pais exigirem que o filho coma tudo de maneira saudável se em casa a gente não tem esses alimentos à disposição da criança”, alerta a nutricionista. “É um trabalho que envolve toda a família e precisa realmente se policiar em relação à questão dos alimentos mais saudáveis”, diz.

Ao perceber esses comportamentos, os pais devem avaliar buscar ajuda de um profissional adequado, com acompanhamento de uma nutricionista infantil e uma psicóloga para um tratamento mais aprofundado.

Mais informações

O site Comer Bem Sim, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Sociedade Brasileira de Diabetes, fornece diversos conteúdos voltados não apenas para as crianças, mas também aos pais, familiares, cuidadores, educadores, formadores de opinião e demais interessados em alimentação, nutrição, saúde e bem-estar. 

A página traz ainda dicas de como adotar e dar continuidade a novos hábitos para uma alimentação saudável, baseadas no Guia Alimentar para a População Brasileira, 2014, do Ministério da Saúde.

Confira também:

Alimentação escolar e o rendimento dos alunos