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Em tempos de corte de custos e de economia em baixa, as oportunidades de usufruir de serviços ou de produtos gratuitos saltam aos olhos dos que desejam alternativas para aliviar o orçamento. Esse modelo de negócio também vem atraindo as escolas que, por vezes, recebem ofertas e optam por contratar serviços desse caráter. No entanto, muito embora essas propostas sejam tentadoras, elas podem representar verdadeiras “pegadinhas” e colocar em perigo colégios, pais e alunos com consequências diretas ou indiretas. Afinal, já parou para pensar nos desdobramentos jurídicos que podem causar a venda de dados privados de terceiros para exploração comercial?

Neste artigo, vamos abordar as características dos modelos de negócio grátis vigentes hoje na internet e seus possíveis riscos aos cidadãos e aos educadores. Confiram!

 

Existe ‘almoço grátis’?

Para Chris Anderson, considerado uma das vozes mais experientes e perspicazes no centro da nova economia e editor-chefe da revista norte-americana Wired (publicação especializada em tecnologia, ciência, entretenimento, design e negócios) a resposta é não: Não existe almoço grátis! Ou seja, os produtos gratuitos sempre exigem algo em troca. Isso porque da mesma forma que adquirir, oferecer um serviço grátis é também um artifício utilizado por algumas empresas, especialmente as mais jovens, que querem atingir seu público de maneira mais rápida e direta para consumirem novos produtos ou agregar clientes a um novo negócio.

Para isso, muitas vezes elas se valem de modelos nem sempre tão claros ao consumidor, que vão desde a troca da gratuidade pelo fornecimento de dados pessoais; pela veiculação de propagandas à revelia do usuário; apenas de forma parcial e válida para algumas funcionalidades ou sem comprometimento com inovação do produto. No cenário escolar, estamos falando de softwares, ferramentas e aplicativos cuja gratuidade pode comprometer o sigilo de dados contratuais que a escola possui com alunos e familiares ou, simplesmente, não atender com qualidade às necessidades do colégio.

Em artigo publicado na revista Wired, Anderson elenca os principais modelos de negócios usados por empresas online na hora de oferecer produtos gratuitamente – formatos que, hoje, já são oferecidos às instituições de ensino por uma parcela de fornecedores de sistemas escolares.

Veja como podem ser oferecidos os serviços grátis, conforme Chris Anderson:

 

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Entre os listados que mais valem a pena serem discutidos no âmbito escolar, estão:

Modelo de software livre: atividades a que as pessoas dedicam tempo ou capacidade computacional sem fins comerciais. Um exemplo de software livre é o Linux, desenvolvido por programadores voluntários. Outro exemplo é a Wikipedia. Os aspectos negativos neste modelo são a falta de suporte e atendimento (a menos que se contrate uma empresa particular), além da ausência de garantias de inovação, já que depende de voluntários para aprimorarem e darem continuidade ao sistema. Esse é um dos raros modelos exclusivamente gratuitos e que não possuem interesses comerciais atrelados explícitos ou não. Ou seja, todos os demais exigem avaliação e muito cuidado antes da contratação.

Modelo publicidade: o mesmo usado pela TV aberta e pelo rádio: o consumidor não paga nada, porém a empresa que os oferece, vende publicidade. Bons exemplos seriam o Google ou o Facebook. Ao criar a página oficial de seu colégio no Facebook, por exemplo, você terá um espaço para divulgar as atividades escolares, em contrapartida, receberá propagandas, a partir dos dados fornecidos e dos seus hábitos (leia-se: páginas curtidas, links clicados etc.), que servirão como informações valiosas para rede social direcionar anúncios mais precisos.

Modelo subsídios cruzados: também chamado de “venda casada”, no qual há a venda de determinado produto e, “de graça” o cliente recebe algo adicional. O alerta neste caso é que quando você adquire um serviço para sua escola e de brinde recebe um software, você coloca em risco sua independência e liberdade. Isso porque quando você é “obrigado” a usar determinado sistema oriundo da venda casada, não consegue escolher com autonomia as melhores opções de fornecedores ou prestadores daquele serviço específico – medida que compromete sua competitividade frente a outros colégios, principalmente se esse sistema vai atender a alguma área estratégica ou se envolve diretamente pais e alunos. Outro aspecto a ser avaliado é que, por ser um brinde, certamente não terá as atualizações e evoluções que um serviço pago teria.

Modelo “freemium” ou “premium”: Nas escolas, vemos esse modelo de negócios aplicado em softwares, serviços e aplicativos, normalmente em duas versões: uma básica e grátis e outra mais avançada que exige pagamento. Alguns exemplos seriam empresas que fornecem serviços de simulados do Enem, onde o aluno não paga para usá-lo, mas a versão disponibilizada para a escola é paga, já que conta com mais acesso e recursos. Um dos cuidados a serem observados nesse modelo é analisar o que você está abrindo mão ao optar pela versão gratuita, pois algumas vezes as reais intenções da empresa ficam camufladas e o intuito é coletar seus dados para fins nem sempre tão claros.

 

Cuidados especiais na área da educação

No campo da educação, a divulgação de informações pode ser ainda mais perigosa, tendo em vista que se tratam de dados de terceiros (pais, alunos, funcionários) que acabam sendo expostos sem que eles saibam ou consintam, levando as escolas a abrir a privacidade dessas pessoas de forma descuidada, o que pode provocar sérios embates judiciais. Sabemos que, normalmente, os colégios estão sempre atentos a este ponto, mas o perigo está em você confiar em uma empresa e, posteriormente, ser surpreendido com mudanças e reviravoltas internas dessa companhia que venham a ter como consequência alterações nos termos de serviços do sistema contratado, depois que toda a sua escola já estiver utilizando.

Sendo assim, a recomendação é sempre analisar a solidez econômica da empresa contratada, para ver se o modelo de negócios que ela oferece é sustentável. Não são raros os casos em que jovens companhias acabam sendo vendidas para outros grupos que acabam mudando as características do negócio, revendo contratos e, muitas vezes, descumprindo com o que foi acordado. Ou mesmo, empresas que se lançarem de forma aventureira e até irresponsável disponibilizando seus serviços, mesmo não sabendo como irão se sustentar para mantê-los em funcionamento.

E no campo da educação, essa prática é particularmente danosa, afinal qualquer novo sistema adotado por um instituição de ensino acaba mexendo com o cotidiano de muitos agentes da comunidade escolar que são envolvidos nos processos de implantação e de divulgação. Uma vez que esse serviço precise ser interrompido, ou passe por uma modificação muito brusca, por exemplo, ele pode gerar um desgaste grande entre pais, alunos e funcionários. Assim, fica evidente que a volatilidade nos negócios é uma característica muito ruim no âmbito das escolas, pois pode pôr em risco sua credibilidade e reputação frente aos seus clientes.

 

Outros aspectos e riscos a serem considerados pelos educadores

Os educadores que contratam serviços gratuitos também ficam sujeitos ao risco da empresa contratada ser apenas uma fachada, e o download e contratação do serviço seja usado como porta de entrada para a instalação de aplicativos e sites maliciosos.

Todavia, ainda que a empresa seja idônea, outro perigo latente, que passa muitas vezes despercebido, especialmente, quando se contrata companhias iniciantes, é de não haja investimentos em inovações e melhorias nos produtos/serviços oferecidos em modelos gratuitos. Por não obterem lucro na venda, muitas vezes os empresários não conseguem ter subsídios para aprimorar aquele software, sistema ou aplicativo oferecido gratuitamente para a escola. Desta forma, o colégio fica de ‘mãos atadas’ para solicitar melhorias e, dependendo da natureza e da importância desse serviço para o bom funcionamento escolar, é possível que surjam descontentamentos e frustrações por parte dos educadores, pais e alunos que não se sentirão plenamente atendidos pelo serviço, ainda que não se pague por ele.

Uma forma de as escolas se certificarem se farão bom negócio ainda é o velho e bom “boca a boca”, ou seja, ao receber a oferta de um produto gratuito, você deve buscar referências reais positivas e negativas daquela empresa e dos serviços prestados por ela com diretores e funcionários de escolas parceiras que já usam o serviço.

 

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Alternativas

Antes de aceitar qualquer oferta tentadora, um questionamento importante a se fazer é pensar se a médio e longo prazo, adotar sistemas gratuitos representam uma ‘economia’ que se justifique e que esteja alinhada com os valores da sua escola.

Ainda que o objetivo seja não comprometer o orçamento, talvez valha a pena apostar em alternativas mais assertivas como os softwares onde você paga pela licença de uso ou os chamados “SaaS” (Softwares as a Service) – modelo no qual o custo do desenvolvimento é dividido entre todos os clientes. Uma das vantagens do SaaS para o consumidor é que o pagamento é feito na proporção em que o serviço é utilizado. Por outro lado, as empresas investem em atendimento, inovação e qualidade para seguirem competitivas no mercado e, assim, serem eleitas pelos clientes. Cada vez mais, esse modelo está presente nos sistemas oferecidos para as escolas, em diversos tipos de produtos, tais como sistemas acadêmicos, sistemas de comunicação e cobrança, dentre outros.

Tenha em mente que quando você adquire um serviço, cujo modelo de pagamento é claro, os resultados são usuários satisfeitos. Isso porque há sustentabilidade e garantias de que o valor pago por ele vai retornar em investimentos e melhorias do próprio produto. Ou seja, pais, alunos e funcionários vão receber um serviço com qualidade, com suporte e atendimento dedicados, com uma boa entrega e que atenda às reais demandas do seu colégio. Dessa forma, pode ser bem mais vantajoso para você e para sua escola terem parceiros também interessados em crescer, evoluir e inovar com transparência na prestação de serviços em busca da excelência e a preços justos.

 

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Como se previnir

De forma geral, para se proteger dos perigos e evitar possíveis transtornos é preciso que se saiba que quanto mais explícito e transparente é o modelo de negócio, mais confiável é a empresa. Quando há dúvidas sobre os ônus e bônus dos serviços gratuitos, lembre-se que a principal finalidade de praticamente 100% deles é angariar dados e hábitos pessoais que depois serão explorados com objetivos comerciais. Tal como dizem os especialistas em marketing digital, quando não se paga por algum serviço ou produto, significa que é o consumidor, com as suas informações pessoais, o próprio produto a ser comercializado. Em outras palavras, a famosa história de que não existe “almoço grátis”: sempre se está abrindo mão de alguma coisa, seja da sua privacidade ou da inovação e sustentabilidade do serviço.

Portanto, é fundamental prestar muita atenção nos objetivos e nos modelos de negócios dessas empresas que oferecem serviços gratuitos e avaliar se ir afundo na contratação deles, mesmo com todos os perigos de tal ação envolve, é realmente uma escolha inteligente a ser feita por você e pelo seu colégio. Afinal, muitas vezes, sistemas já consolidados podem ser mais adequados à realidade educacional que exige solidez e relação de longo prazo com seus clientes.

 

Muito mais que um aplicativo escolar

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