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De uma hora para a outra, como pais e alunos se adaptam ao ensino a distância, substituindo o tradicional estudo presencial? Quem saiu na frente neste momento de extrema mudança foram as escolas que já tinham um modelo pedagógico fortemente baseado em tecnologia. É o caso da Escola Monteiro Lobato, em Diadema, no estado de São Paulo.

Com 340 alunos da educação infantil ao ensino médio, a escola já usava em seu dia a dia ferramentas virtuais, como um aplicativo de comunicação e o sistema Uno de ensino.

“Como a tecnologia já fazia parte da cultura da escola, o susto não foi tão grande; era uma questão mesmo de organizar as atividades a serem feitas em casa,” diz a diretora pedagógica da Monteiro Lobato, Marcia Eleane.

Segundo Márcia, todos os professores já tinham acesso fácil e diário à internet e se adaptaram bem ao novo esquema de trabalho. 

“Poucos pais disseram que os filhos só poderiam fazer as atividades usando os celulares deles, no final da tarde ou à noite, e nós então fizemos adaptações para esses casos. Mas são raros os que não tem um desktop ou notebook em casa para trabalhar,” afirma. 

Fechada oficialmente no dia 23 de março, a escola Monteiro Lobato, em Diadema, já não tinha mais quase alunos na semana anterior, desde que o Secretário de Educação pediu para que as pessoas que pudessem ficassem em casa. 

 

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“Naquela segunda-feira nós recebemos pouquíssimos alunos e, na quarta-feira, já não havia nenhum.  Nesse mesmo dia, reunimos a equipe para traçar a estratégia inicial para fazer a mudança das aulas presenciais para as aulas a distância.”

Os professores criaram atividades para serem realizadas em cadernos e apostilas para os alunos da educação infantil e fundamental 1 e algumas atividades na plataforma online. Já os professores do fundamental 2 e ensino médio utilizam mais o modelo virtual, organizando lista de atividades a serem encaminhadas aos alunos.

“Nós enviamos para as casas apostilas, cadernos com atividades e os professores vão explicando as atividades ao longo dos dias, de forma online. Eles estão gravando vídeos em suas casas, explicando os exercícios que os alunos devem fazer. Às vezes eles usam lousa, outras Powerpoint.“

A diretora diz que o maior desafio até agora foi em relação aos novos alunos que não estavam ainda adaptados com a tecnologia da escola.

“Outro grande desafio que enfrentamos foi que muitos pais não acreditavam que era possível o ensino acontecer em casa, sem a presença dos professores. Eles estavam preocupados, até subestimando os filhos. Achavam que não daria certo, que os filhos não conseguiriam se organizar de forma autônoma e se concentrar.  Agora eles percebem que, se eles seguirem todas as dicas e orientações que damos, esse aprendizado a distância dá certo.”

Márcia conta ainda que alguns pais dizem que a internet tem ficado sobrecarregada com eles e seus filhos usando a rede de casa.

“Por isso nós estamos buscando algumas alternativas para que os alunos não precisem ficar muito tempo online ou que eles possam ter opção. E também sugerimos fazer revezamento no caso de irmãos em casa, orientando para que quando um esteja online o outro esteja off-line.”

 

Ferramentas

Outra estratégia da escola foi criar grupos de WhatsApp para que os professores possam interagir com todos os alunos ou representantes, para tirar dúvidas, conversar . Além das ferramentas que já eram usadas antes da crise do Covid-19, a escola Monteiro Lobato incorporou em seu dia a dia o uso do WhatsApp, do aplicativo de reuniões Zoom e do Skype.

Os professores da escola têm a responsabilidade de manter o horário de trabalho, com pequenos ajustes de acordo com a necessidade dos pais. A orientação é de que eles bloqueiem a comunicação depois desse horário e no fim de semana. E está dando certo.

A escola está fechada e foi criado um acordo de compensação de horas com o pessoal que não pode fazer home office, como os profissionais que trabalham em setores como portaria, limpeza, manutenção e algumas pessoas da área administrativa. Uma pessoa do setor administrativo está sendo mantida online, assim como a coordenadora e uma assistente pedagógica.

Sobre o momento único de tanta convivência em casa entre pais e filhos, Marcia diz que é uma excelente oportunidade para os pais serem realmente pais: 

“Uma pessoa comentou comigo que a mãe descobriu somente esta semana que a filha gostava de brócolis. Este é o momento de aproveitar essas quatro paredes, com todo mundo junto trabalhando, estudando, cuidando da casa, e cuidando um do outro, para curtir isso. O pais devem aproveitar para conversar com os filhos, entender o que eles pensam, o que eles sentem e como podem ajudar.”

Sobre mudanças a longo prazo, a diretora da escola Monteiro Lobato acredita em uma reviravolta no mundo e no ensino.

“Eu acho que o mundo não vai ser mais o mesmo depois desta crise, um novo mundo está nascendo e ele vai começar a dar os primeiros passos na hora em que tudo isso acabar. E vai caber, a nós, educadores, ajudarmos essas crianças e esses jovens a recriar este mundo. E eu acredito que as escolas nunca mais vão ser as mesmas, e que elas precisam aproveitar isso de forma positiva para não “morrerem” lá na frente. Essa questão da tecnologia, do protagonismo do aluno em casa, a participação dos pais na vida escolar dos filhos… Isso vai dar uma reviravolta…”

 

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