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Desenvolver a criatividade de professores e de alunos, investir no autoconhecimento, focar em um ensino lúdico e leve para conduzir o processo de aprendizagem. Parece que a receita acabou de ser feita sob medida para que as escolas enfrentem este momento de pandemia internacional. Mas é o que a escola Teia Multicultural vem fazendo desde 2005, quando inaugurou em Perdizes, zona oeste de São Paulo.

A escola pratica uma educação horizontal, na qual educadores e estudantes desenvolvem juntos o processo de aprendizagem, sempre baseado em projetos interdisciplinares. Os alunos têm as aulas tradicionais da Base Nacional Comum Curricular, como Português, Matemática, História e Geografia, mas também têm aulas de Yoga, Música, Artes Plásticas, Dança, Moda, Design, Empreendedorismo…

“O nosso grande diferencial é que os nossos alunos aprendem todo o conteúdo de maneira muito dinâmica. Nosso objetivo é ensinar, na prática, para que serve todo o conteúdo estudado. Por isso, a parte teórica sempre vem depois da prática, do conhecimento pela via empírica. Tudo é feito de forma muito leve”, diz Lucas Piacentini, diretor administrativo e relações públicas da escola Teia Multicultural.

A escola tem cerca de 150 alunos do ensino infantil ao ensino médio, que estudam em turmas de 12 alunos cada, sempre em período integral. A mensalidade média é de R$ 2.800, com alimentação incluída. 

A pedagogia inovadora, que tem as artes cênicas como eixo principal, foi resultado da experiência de vida da mãe de Lucas, Georgya Corrêa, fundadora da Teia Multicultural.

“Quando a minha mãe tinha cerca de 8 anos, ela foi morar na Índia com a minha avó, que era tradutora do Osho (guru indiano). Lá, ela teve um tipo de ensino bem diferente daquele que acontecia no Brasil. Depois, já adolescente, teve outra experiência nada tradicional, pois meu avô fazia turnês de teatro e ela passou a estudar de forma autodidata. Já aos 20 anos, quando ela própria dava aulas de teatro, percebeu que seus alunos melhoravam muito o desempenho escolar por causa do teatro. E então, anos depois, decidiu estudar Pedagogia e seu trabalho final da faculdade deu origem ao que é hoje a Teia Multicultural,” conta Lucas.

A equipe da escola criou um método de ensino adaptando o design thinking para conseguir desenvolver os projetos pedagógicos e vincular os conteúdos entre eles. 

“A gente estudou gestão de projetos, adaptando técnicas muito inovadoras de gestão empresarial para o universo escolar,” diz Lucas.

“O nosso aluno pode até ter uma aula de Matemática sentado em uma cadeira em sala de aula, copiando lição, mas é muito mais provável que ele esteja aprendendo correndo na quadra, contando batimentos cardíacos e trabalhando Matemática junto com Biologia.”

 

 

Do modelo presencial para o modelo digital

Em meados de março, quando a escola teve que fechar as portas para evitar a disseminação do coronavírus, os gestores se reuniram com os professores e decidiram usar a plataforma Google Classroom para manter seus alunos estudando em casa.

“A gente percebeu que era uma plataforma muito completa, gratuita, e com muitas ferramentas internas,” explica. Outra ferramenta que vem sendo bastante usada é o Youtube.

No primeiro momento,  a escola optou por manter entre 6 e 8 aulas por dia, repetindo nas casas dos alunos o mesmo que era feito na escola, por meio de videoaulas e lives. Depois de alguns dias, Lucas conta que eles perceberam que era melhor reduzir a carga, com atividades mais curtas, mais dinâmicas e divertidas, de cerca de 20 minutos cada. 

Um exemplo de atividade para os pequenos? “A gente pede que o aluno reúna em casa materiais recicláveis que representam formas geométricas, depois que faça um boneco e invente uma história sobre ele.” 

O tema da pandemia de Covid-19 também vem sendo abordado com os alunos por recomendação do MEC. Lucas conta que eles aproveitaram o assunto em diversas disciplinas como Ciências (para falar sobre o vírus), Matemática (para estudar velocidade de propagação) e para incentivar cuidados com higiene pessoal, principalmente com os alunos mais novos.

“A gente utiliza temas da atualidade para trabalhar conteúdos. Não tem como todo mundo estar falando sobre coronavírus e a gente não falar sobre o assunto. O que a gente faz é buscar essa convergência.”

A importância (e limites) dos pais

A escola vem apostando fortemente na participação dos familiares neste momento, para promover troca, interação, trabalho em conjunto entre pais e filhos. Mas Lucas atenta que os pais não são substitutos dos professores.

“Se o aluno não souber responder sozinho, a gente prefere que ele diga isso para a gente, sem constrangimento. Muitas crianças ficam mais ansiosas ao fazer as tarefas com os pais, querem acertar, chamar atenção, e isso pode ser traumático. É muito importante que os pais, neste momento, valorizem os pontos positivos de seus filhos e não ressaltem somente os pontos negativos. As pessoas estão mais nervosas, vivendo uma situação inédita e difícil. É preciso trabalhar da maneira mais leve possível, para que sobrem boas recordações deste período, quando todos ficaram juntos em casa.”

 

Impacto social para além dos muros da escola

Passado este momento inicial de adaptação de um modelo de ensino presencial para as aulas a distância, a escola deseja ajudar alunos menos favorecidos financeiramente a manter seus estudos, apesar do fechamento das escolas públicas. A equipe espera aproveitar o seu know-how e o seu potencial para expandir o modelo de ensino que pratica. 

“Eu sempre tive vontade de atingir alunos além dos nossos muros, de investir mais no digital, para disseminar a nossa pedagogia inovadora e contribuir com a educação de outras crianças além de nossos alunos, em diversas partes do Brasil,” comenta Lucas.

No momento, a estratégia é fazer pesquisa com alunos de escolas públicas, para ver como eles recebem esse tipo de apoio pedagógico, sem estarem habituados à metodologia aplicada pela Teia Multicultural.

“A gente está testando com uma amostragem de alunos ainda bem pequena. A nossa ideia é ver o que precisamos ajustar para disponibilizar todo o nosso conteúdo gratuitamente, para o máximo de alunos de escolas públicas possível. Muitas crianças não estão estudando.” 

Lucas sabe que não vai conseguir atingir as crianças de poder aquisitivo extremamente baixo, porque as famílias precisam ter algum recurso digital em casa para receber as aulas, seja um computador, um tablet, ou mesmo um smartphone. Mas ele está confiante de que poderá ajudar pelo menos uma parte das crianças que está longe das escolas e até mesmo alunos de outras escolas particulares, sem tantos recursos.

 

Ensinar o que é mais importante

“O ser humano tem uma forte ilusão de controle e esta situação está nos tirando da zona de conforto e nos levando para uma nova realidade. Isso é um exercício de autoaperfeiçoamento, de lidar com as adversidades com jogo de cintura, com flexibilidade. Está nos levando a lidar com a impermanência, sem perder o eixo. Nos fazendo navegar neste mar de incertezas, sem perder o equilíbrio, para manter bem as nossas crianças. Está nos fazendo valorizar as relações humanas e colocar isso em primeiro lugar.“

“Muitas oportunidade surgem quando a gente sai da zona de conforto e vai para o desconhecido. É nesse espaço que a gente se reinventa, desenvolve resiliência e a criatividade entra como grande diferencial. É difícil, mas é um bom treino para o ser humano.”

 

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