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O isolamento social gerou efeitos colaterais em alunos de todas as faixas etárias. Além da necessidade de recuperar a aprendizagem, as escolas também estão enfrentando casos de irritação, intolerância, fragilidades de contato e crises de ansiedade. Por isso, é tão importante pensar em como cuidar da saúde mental e emocional dos estudantes.

Danila Di Pietro, especialista em Competências Socioemocionais e pesquisadora do Gepem (Grupo de estudos e pesquisas em educação moral) da Unicamp/Unesp tem observado que muitas escolas têm vivenciado situações um tanto quanto explosivas na combinação com estados emocionais sensíveis e a necessidade de ressocialização.

“O convívio com outras pessoas é necessário para o ser humano que conta com o outro para compor sua identidade. Entre os efeitos [do isolamento], está justamente a ausência da socialização. Isso significa que ao voltar para as escolas com mais frequência, esse contato com o outro precisa ser ensinado novamente, pois tivemos um grande intervalo sem a necessidade de precisar conciliar os interesses, os espaços e o afetos com pares”, explica Danila.

Mas como as escolas podem ajudar crianças e adolescentes a passar por essa fase difícil? Reunimos sugestões de atividades e também dicas de profissionais que têm sentido na pele os desafios de auxiliar os estudantes a cuidar da saúde mental e emocional. Confira abaixo!

Como cuidar da saúde mental e emocional: 6 sugestões de atividades

Para além da sala de aula, as atividades extracurriculares podem contribuir para o desenvolvimento socioemocional dos alunos, como:

Esportivas: os alunos podem desenvolver habilidades motoras e socioemocionais, lidando com frustrações, regras, desafios e o trabalho em equipe.

Teatro: possibilita aos estudantes externar suas emoções através de dramatização e interpretação de personagens, elaborando conflitos emocionais e desenvolvendo habilidades socioemocionais.

Dança: permite o desenvolvimento da expressão corporal, consciência corporal, autoestima e autorregulação.

Música: por meio dela, os alunos liberam as emoções, ampliam vocabulário, melhoram dicção e respiração, conhecem novos instrumentos, descobrem novos talentos e afinidades musicais.

Roda de conversa: aquela promovida sem a obrigação de se chegar a alguma conclusão. Todos os presentes, num número limitado, dialogam ao redor de um tema. Nessa roda, do mais tímido ao mais desinibido, todos vão ter o seu momento para opinar, com a garantia que ninguém vai concordar ou discordar. Isso ocorre, pois o objetivo não é o convencimento, e sim conhecer de que lugar o outro fala, qual a sua perspectiva. É um caminho para a boa convivência. Saiba como incorporar as rodas de conversa na escola.

Assembleias de classe: uma forma de tornar o ambiente escolar mais participativo e de convidar os alunos a serem protagonistas na criação desse espaço. A partir dela podem ser criadas regras e combinados para uma convivência harmoniosa, respeitosa e empática entre os alunos, professores e demais pessoas do cotidiano escolar.

Acolhimento: palavra-chave no retorno presencial e para a saúde mental

Com o distanciamento exigido no período mais crítico da pandemia da Covid-19, houve um aumento significativo de casos de alunos com dificuldades socioemocionais. 

No Colégio Novo Tempo, em São Paulo, estudantes que já vinham apresentando esse histórico se viram em situação ainda mais drástica e casos novos vieram a se manifestar, de acordo com a psicóloga educacional da unidade, Ivone Ferreira Santos.

“Sempre tivemos como princípio o acolhimento dos alunos e durante esse período intensificamos as ações preparando todo o corpo docente, psicologia e equipe gestora, como uma força tarefa no sentido de estarmos atentos às necessidades dos estudantes, sempre prontos a acolhê-los, oferecendo escuta ativa e compartilhando as vulnerabilidades para que todos pudessem oferecer apoio emocional durante os momentos de maior instabilidade deles”.

Segundo Ivone, o acolhimento desses estudantes se baseia em oferecer escuta, compreender e considerar as limitações e as vulnerabilidades, estabelecendo estratégias definidas em parceria com alunos, psicólogos e familiares e orientando os professores em relação às necessidades individualizadas.

Psicóloga e orientadora pedagógica do 1º e 2º ano do ensino médio no Colégio Cândido Portinari, na Bahia, Margarida Serrão afirma que as escolas precisam mapear as situações, pensar, conversar a respeito e desenvolver um trabalho de acolhimento. “Acredito que o melhor instrumento que temos é proporcionar oportunidades para que esses estudantes falem e a gente escute, para fazermos combinações e elaborarmos estratégias participativas de auxílio”, diz.

Dito isso, afirma Margarida, é importante não pensar que é possível neste momento retornar ao esquema anterior, do estudo, cobrança, exigência e da nota. “E por isso, nosso papel é amenizar esse retorno, oferecendo um espaço para a fala ou partilha. Tenho observado nas minhas experiências práticas, que o sujeito que não fala, pensa que é o único a estar se sentindo alheio, sem produzir como já produziu um dia. Então, esse espaço para perceber e descobrir com objetivo de colher soluções é um dos caminhos”, acredita. 

Espaços dirigidos fazem a diferença no socioemocional 

Para a psicóloga Margarida Serrão, após um tempo afastado, é natural que alguns estudantes apresentem receio, por conta da lacuna construída nos últimos tempos. 

“Por isso, é fundamental reiniciar, e sabemos que não é fácil, principalmente para alguns.  Portanto, não basta favorecer o encontro na sala de aula, recreio ou outros momentos, é preciso dirigir o espaço. Diante disso, acredito que a melhor solução é oferecer os espaços espontâneos e dirigidos”, pontua.

Neuropsicóloga e psicóloga escolar do Colégio Physics, no Pará, Karina Coelho afirma que o declínio da saúde mental dos alunos vem sendo observado desde os segmentos da educação infantil até o ensino médio. E para ajudá-los a enfrentar esse momento, ela sugere jogos lúdicos ou esportivos. 

“Os trabalhos em grupo e projetos de excursões de vivências práticas fazem com que gradativamente os alunos consigam ferramentas para seu aprendizado pedagógico e crescimento individual, pois a socialização e o comportamento social escolar precisam de percepção de cada um e de si mesmo para promover a disciplina, respeito e a diferença”, afirma. 

Dicas de como cuidar da saúde mental e emocional de crianças e adolescentes

Propostas que favorecem tanto a ressocialização quanto ao acolhimento, são ações que trabalhem: o autoconhecimento, a expressão de sentimentos, o reconhecimento de como as emoções são ativadas em contextos diversos. 

Para tanto, Danila Di Pietro sugere espaços de construção para tomada de decisões, elegendo regras que façam sentido nesse momento, além de espaços para resolução de conflitos, tanto privados, quanto coletivos.

“Atividades como dança, teatro, jogos cooperativos, rodas de acolhimento, jogos para identificar sentimentos, assembleias de classe e grupos de ajuda são exemplos de propostas que promovem os pontos ressaltados acima”, afirma.