Ensino integral: mais tempo na escola melhora desempenho?
O Programa Escola em Tempo Integral é uma das ações lançadas pelo Ministério da Educação (MEC) no primeiro semestre deste ano. A meta do governo federal é ampliar 1 milhão de matrículas no ensino integral e alcançar, até o ano de 2026, cerca de 3,2 milhões de alunos atendidos nesta modalidade.
“A educação integral é uma concepção que compreende que a educação deve garantir o desenvolvimento dos sujeitos em todas as suas dimensões – intelectual, física, emocional, social e cultural – e se constituir como projeto coletivo, compartilhado por crianças, jovens, famílias, educadores, gestores e comunidades locais”, destaca o Centro de Referências em Educação Integral (CREI).
A modalidade é cada vez mais requisitada pelos pais por conta da correria do dia a dia. Mas, afinal, passar mais tempo na escola melhora o desempenho dos alunos? Quais os benefícios de entrar ainda de manhã e só sair no final da tarde da escola? O modelo é indicado para todas as faixas etárias? Essas e outras respostas você confere a partir de agora!
Ensino integral vai além do tradicional
Professora, psicóloga e pedagoga docente da Faculdade de Psicologia da PUC-Campinas, Rita Khater afirma que o ensino integral é extremamente oportuno, especialmente depois da maioria dos colégios ficar muito tempo fechado, com o modelo remoto, por conta da pandemia da Covid-19.
“Na pandemia, todos foram prejudicados, tanto alunos de escolas públicas como de particulares, mas observou-se que as crianças da rede pública não tinham recursos para as questões audiovisuais, tão pouco os professores tinham preparo específico para as aulas”, comenta.
Portanto, pontua a pedagoga, o ensino em tempo integral, se bem executado, oferece aos alunos a oportunidade da recuperação da socialização e das propostas acadêmicas.
Segundo a diretora do Núcleo de Educação Integrada (NEI) da Fundação Romi, em Santa Bárbara d’Oeste (SP), Ericka Vitta, o tempo que a criança e adolescente permanece na escola com atividades que sejam realmente de desenvolvimento, de habilidades e competências, é o melhor para eles, principalmente, porque a grande maioria dos pais, atualmente, trabalha e não conta com pessoas para cuidar dos filhos.
“Quando esse aluno permanece em atividade, com o propósito definido, com atividades que desenvolvam não só as competências letradas, mas a questão da matemática e outras como o teatro, a música, a dança, esse aluno terá sem dúvida nenhuma maior desempenho e desenvoltura para sua vida adulta”, afirma Ericka.
Vantagens de ficar mais tempo na escola
Ambas as especialistas defendem o ensino integral para todas as faixas etárias. “Ficar na escola é extremamente diferente do que ficar em casa. No colégio, os alunos estão longe da televisão, da rua, estão sob cuidados de profissionais direcionados ao desenvolvimento das crianças, com propostas muito mais efetivas do que se estivessem em casa”, comenta Rita.
De acordo com a pedagoga, a escola em tempo integral deve oferecer possibilidades de desenvolvimento integral do aluno – emocional, físico, acadêmico e afetivo.
“Olhar para criança ou adolescente de modo integral e oferecer não só questões acadêmicas, mas questões de valores, de convivência em sociedade, coletiva, hábitos adequados, respeito às diferenças”.
Para a diretora do NEI da Fundação Romi, toda atividade que favoreça o desenvolvimento da criança, seja físico, emocional ou cognitivo, é sempre bem-vinda.
“É comprovado que as crianças que têm contato com outras crianças, com atividades que desenvolvam as competências socioemocionais, que aprendem a lidar com as emoções, com o outro, a brincar, a brigar no bom sentido, a ser desafiada, é muito positivo, tanto para os alunos da educação infantil como para os maiores”, diz Ericka.
No caso da educação infantil, a diretora do NEI afirma ser preciso levar em consideração que os pequenos necessitam de um espaço maior de atividades não sistematizadas, no sentido de deixar o brincar livre e de se desenvolver através da natureza, entre outros. “Essa questão lúdica é muito importante, não que nos outros anos não seja, mas na educação infantil temos um desenvolvimento global dessa criança que se faz necessário”, explica.
O que priorizar no ensino integral
Escolas com ensino integral devem oferecer um projeto educativo que contemple todas as inteligências – tempos e espaços de aprendizagem e de interação.
Segundo Ericka, um projeto de educação integral é pensado na sua totalidade. Se a criança ficar oito horas na escola, por exemplo, essas oito horas devem ser divididas de forma com que esse aluno tenha tempo do ócio criativo, de realizar as atividades com calma, oportunidade de desenvolver o pensamento lógico e outras atividades do ‘mão na massa’, como criar e inventar, além de trabalhar o letramento e alfabetização.
Impacto no futuro
No NEI da Fundação Romi é oferecido período integral ou semi-integral para o ensino infantil e ensino fundamental 1, e obrigatoriamente o modelo integral para alunos matriculados no ensino fundamental 2 e ensino médio.
“Acreditamos em um projeto sistêmico, de desenvolvimento de múltiplas inteligências. Para isso, levamos em consideração não só o currículo escolar, mas também um projeto que esteja associado, inter-relacionado, que faça com que os alunos pensem em rede para desenvolver questões de lógica como a robótica e outras atividades e áreas extremamente importantes para o desenvolvimento global dessa criança/jovem”, afirma a diretora do Núcleo de Educação Integrada.
Segundo Ericka, quanto mais atividades de desenvolvimento, de aprendizado, de investigação e desafios forem oferecidas aos alunos, podendo incluir nessa estratégia o ensino integral, melhor ele se desenvolverá no futuro, seja para o mercado de trabalho ou nos estudos que optarem após a conclusão do ensino médio.
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