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Um dos momentos mais delicados vivenciados por uma família é, sem dúvida, a separação. E a situação sempre fica mais tensa quando envolve crianças. Afinal, se de um lado há pais tentando organizar os sentimentos e absorver a nova dinâmica, do outro há filhos e filhas inseguros e amedrontados com o novo cotidiano com pais separados. Além das crianças apresentarem novos compartimentos em casa, na escola também algumas mudanças podem acontecer.

 


 
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Segundo a psicóloga Melannye Naves Nascimento, que administra o perfil @psicologadasmaes no Instagram, a rotina estabelecida e o vínculo familiar oferecem à criança sentimentos de amor e proteção. Sendo assim, a separação dos pais é uma fonte de estresse aos pequenos, pois altera consideravelmente sua vida. Por isso, o rendimento escolar também costuma ser prejudicado.

“Hoje já sabemos que o estresse infantil está associado a inúmeros distúrbios, tais como pesadelo, insônia, choro descontrolado, birras, enurese, gagueira, desobediência, depressão e ansiedade. Em se tratando do rendimento escolar, inúmeras pesquisas já mostraram que a separação dos pais afeta negativamente a vida escolar dos filhos. Em 2015, nos Estados Unidos, pesquisadores do Center for Marriage and Families, parte do Institute for American Values, mostraram que o divórcio dos pais atrapalha a vida escolar dos filhos, em qualquer ciclo educacional”, esclarece.

E esse turbilhão de emoções que a nova configuração de ter pais separados pode desencadear nas crianças já é esperado pelos psicólogos. “Normalmente, as crianças apresentam agressividade, combinada com rebeldia e choro dependendo da idade”, pontua psicóloga comportamental cognitiva e neuropsicóloga Rúbia Letícia Portalupi Fuganholi Peressim. “As crianças temem perder o amor do pai ou da mãe diante do processo de separação. Ou, o que é muito comum, a criança se culpa. Ela acaba atribuindo a si alguma responsabilidade pelo distanciamento dos pais. Então, a reação mais comum é o aumento do nível de ansiedade. Algumas apresentam melancolia”, completa a psicóloga perinatal e parental Camilla Alves Lima Vasconcelos.

 

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Porém, Melannye destaca que não é a separação dos pais em si que afeta o rendimento escolar das crianças, mas, sim, a forma como os adultos conduzem a situação. “Um casal que não se entende, mas também não se separa, causa os mesmos danos. Os pais são os maiores responsáveis pela estabilidade psicológica dos filhos, sendo parte fundamental para que o processo de aprendizagem aconteça de maneira eficaz. Sabendo disso, precisam ter a consciência que o casal está se separando, mas a entidade pai e mãe não irá se separar nunca”, reflete. 

Nesse sentido, um dos pontos fundamentais que interferem no desempenho dos filhos na escola é a comunicação falha entre pai e mãe. “Para que esse luto de ter pais separados seja vivenciado de forma mais saudável, é importante que os pais se comuniquem bem, inclusive sobre as questões de educação dessa criança. Como, por exemplo, sobre como vão orientar as atividades escolares, como vão acompanhar o rendimento escolar, que tipo de orientação vão dar sobre rotina de estudo. Se os pais têm dificuldade na comunicação, o rendimento da criança pode ficar comprometido porque ela recebe comandos diferente de pai e mãe”, ressalta Camilla. Nesse processo, pai, mãe e escola podem atuar em conjunto para que a nova fase seja acolhida, respeitada e superada pela criança.

 

Como lidar com os alunos

Ao decidir pela separação, o ideal é que pai e mãe informem à escola sobre a nova dinâmica da família. Isso é fundamental tanto do ponto de vista de questões práticas, como também para que a instituição de ensino possa observar e comunicar qualquer mudança no comportamento da criança. “É papel fundamental da escola tentar se aproximar da família, na medida do possível, e acolher essa criança. Dar tempo para essa criança sentir a dor dela, respeitar essa criança nesse período que ela se encontra enlutada, onde vai precisar se encontrar. Não forçar a barra, não diminui-la. A escola precisa acolher e respeitar, compreendendo que a educação cognitiva, ou seja, o aprender o conteúdo não está dissociado do aprendizado emocional”, destaca a psicóloga perinatal e parental Camilla Alves Lima Vasconcelos.

Para a psicóloga Melannye Naves Nascimento, também é responsabilidade da escola fazer encaminhamentos a outros profissionais caso identifique novos padrões de comportamento do aluno.

“Caso haja uma mudança do comportamento e um déficit na aprendizagem, a equipe técnica da escola deve traçar novas estratégias para acolher e elaborar novas práticas junto ao corpo docente, de modo a minimizar o impacto do divórcio dos pais na vida emocional, social e escolar das crianças”, recomenda.

 

Como se relacionar com pais separados

De acordo com o Código Civil Brasileiro, o “poder familiar” é um conjunto de direitos e deveres que pai e mãe possuem, em igual proporção, sobre os filhos e filhas. Em caso de separação, os direitos e deveres do pais continuam sendo o poder de participar da criação e educação da criança, assim como todas as decisões que refletem no seu desenvolvimento e bem estar. O fim do relacionamento amoroso não anula os direitos e obrigações do pai na participação da vida do filho.

Então, como devem ser enviados e comunicadas as informações escolares de filhos de pais separados? No Colégio Cermac, a diretora pedagógica Roberta Mardegam afirma que, em caso de separação, tanto pai, como a mãe passam a ser informados separadamente sobre a vida escolar das crianças. “A não ser que tenha restrição judicial, então, para não ter problemas legais enviamos apenas para o responsável legal. Do contrário, a gente manda para os dois participarem da vida das crianças”, explica.

Para a psicóloga Melannye Naves Nascimento, essa é a postura mais recomendada para as instituições de ensino lidarem sobre as questões escolares que envolvem alunos com pais separados. “É importante que a escola encaminhe bilhetes para ambos, já que os dois são responsáveis pela criança. As reuniões também devem acontecer preferencialmente com a participação de todos. É necessário um diálogo aberto entre a escola e os pais sobre as obrigações e a rotina da criança em relação à guarda e os dias em que cada um será responsável por buscá-la, visto que acordos legais devem ser cumpridos”, afirma.

A jornalista Clara Nunes*, de 32 anos, mãe de Lara, de 6 anos, possui a guarda da filha, que estuda em uma escola de Americana (interior de São Paulo). Apesar de os comunicados do colégio serem enviados apenas para a genitora, o pai da menina também é convocado para participar das reuniões. “Quando envolve comportamental da Lara, ele é chamado também. Depois das férias ela ficou muito indisciplinada, então, chamaram nós dois”, conta.

A parceria da família com a escola é extremamente importante para formação de valores. Veja aqui como é possível fomentar esse relacionamento.

*nome fictício para preservar a identidade da fonte.