A saúde mental nas escolas tornou-se uma prioridade crescente à medida que educadores e especialistas reconhecem a importância de um ambiente de aprendizado saudável e equilibrado.
Com o aumento dos casos de ansiedade, depressão e outras questões emocionais entre crianças e adolescentes, instituições de ensino têm adotado medidas preventivas e programas de apoio psicológico.
“O ambiente escolar deve ser seguro e acolhedor, portanto, os alunos precisam se sentir apoiados e compreendidos. Tais fatores ajudam a reduzir a incidência de exclusão ou mesmo bullying”, afirma Maria Laura Sanchez Toca, coordenadora de práticas inclusivas da Beacon School.
Além disso, afirma, quando é identificado questões de saúde mental precocemente, é possível atuar junto à família e aos profissionais de saúde para evitar que o quadro se agrave e tenha impactos no desenvolvimento do estudante.
“Ter uma boa saúde mental contribui para o bem-estar dos alunos, o que melhora a participação e o engajamento nas atividades escolares e na comunidade”.
Segundo Maria Laura, professores e família devem estar sempre atentos a mudanças bruscas no comportamento ou humor, como irritabilidade, tristeza prolongada ou explosões de raiva. Sinais como queda no desempenho escolar e queixas sobre dores físicas com alta frequência e sem uma causa aparente. Assim como isolamento social, comportamentos de autolesão ou mesmo comentários sobre suicídio.
Em casa, diz, é fundamental acompanhar a rotina de sono e perceber sinais de cansaço extremo ou mesmo falta de interesse nas atividades.
“Além de observar os sinais, a parceria entre escola e família é essencial para o bom cuidado das crianças e dos adolescentes. A troca de informações e percepções por meio de um diálogo aberto, muitas vezes nos ajudam a montar o ‘quebra-cabeça’ e compreender a real situação na qual o estudante está e poder ajudá-lo”.
O que a escola pode fazer
Através de aulas de Social Emotional Learning (SEL), por exemplo, os alunos podem ser estimulados a reconhecer, nomear e aprender a gerenciar as emoções. Maria Laura explica que essa aprendizagem melhora a concentração e o foco nas atividades. Além disso, um ambiente de acolhimento promove a autoestima e a confiança dos alunos, deixando-os mais à vontade para se arriscar e, consequentemente, para aprender.
“Para promover um ambiente saudável e de apoio, além de ensinar os alunos sobre saúde mental e habilidades para a vida, a escola pode incentivar a prática de exercícios físicos, a alimentação saudável, implementar programas de mindfulness, garantir um espaço seguro onde os alunos possam falar sobre suas preocupações e sentimentos sem medo de julgamento ou repercussões negativas, promover campanhas anti-bullying, projetos de solidariedade e atividades que incentivem o trabalho colaborativo”, sugere.
O bem-estar dos professores, no entanto, é fundamental para promover um espaço de sala de aula seguro, respeitoso e acolhedor. “Quando os professores estão mentalmente saudáveis, são capazes de inspirar, envolver e motivar os alunos, criando situações de aprendizagem criativas e servindo de modelos aos estudantes”, destaca a coordenadora.
Preocupação global com a saúde mental dos jovens
A crescente preocupação com a saúde mental dos jovens é uma pauta urgente no cenário mundial. No dia 17 de junho deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma revisão global sobre o tema, reforçando as recomendações do Plano de Ação Integral de Saúde Mental 2013–2030.
É importante que a escola esteja alinhada com essas diretrizes, realizando pesquisas frequentes entre profissionais para avaliar o clima escolar e a saúde mental dos colaboradores. Bem como investir em suas formações, focando no bem-estar deles e dos alunos.
Outra possível iniciativa está no que tange o dia a dia dos estudantes. Nesse sentido, é interessante promover um acompanhamento individual, através de rodas de conversa, palestras e atividades que abordem a saúde mental de forma aberta.
“Dessa maneira, todos se sentem confiantes para discutir suas preocupações, seja em pequenos grupos ou individualmente, fortalecendo a comunidade escolar e o suporte mútuo”, compartilha Maria Laura.
Professor: estresse e apoio no ambiente escolar
Mariana Bello, psicóloga e especialista em recursos humanos na FourC Bilingual Academy e na FourC Learning, destaca que a própria natureza do trabalho de professor envolve um nível significativo de estresse.
“Requer bastante atenção o tempo todo, um envolvimento emocional grande do professor em relação não só ao aluno, mas também no atendimento às famílias”, comenta.
O professor é frequentemente o ponto de contato tanto para os alunos e suas famílias quanto para a coordenação escolar. Nesse sentido, acaba sendo responsável por equilibrar as demandas burocráticas e administrativas que são inerentes a qualquer instituição de ensino. Assim como gerenciar uma série de tarefas diárias, sempre focando no desenvolvimento dos alunos, o que naturalmente resulta em estresse constante.
Segundo a psicóloga, as escolas podem ajudar a mitigar esse estresse oferecendo apoio em diversas situações. Isso pode incluir assistência com demandas excessivas, apoio em interações com famílias e alunos, e uma análise criteriosa da carga horária dos professores.
“É importante oferecer formação e instrumentalização para os professores, como treinamentos práticos que ajudem na gestão de sala de aula e no gerenciamento do comportamento dos alunos”, afirma.
Ambiente de trabalho saudável e de suporte para professores e alunos
A saúde emocional do professor está intimamente ligada à saúde emocional do aluno. “Como psicóloga e especialista em recursos humanos, observo que só conseguimos promover o desenvolvimento socioemocional dos alunos quando começamos esse trabalho com os educadores”, afirma Mariana.
De acordo com ela, um ambiente de trabalho saudável e de suporte precisa oferecer segurança psicológica, onde o profissional tenha liberdade para aprender com seus erros sem medo de punição. Portanto, esse ambiente deve incentivar o aprendizado contínuo, permitindo que os professores peçam ajuda quando necessário e sintam-se à vontade para enfrentar desafios e riscos.
A psicóloga considera fundamental os professores terem espaço para serem eles mesmos, sem receio de julgamento, inclusive quando enfrentam questões de saúde emocional. “Essa abertura para discutir e buscar apoio dentro do ambiente de trabalho é essencial para criar um clima de confiança e colaboração”, conclui.
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