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Em 2024, 120 denúncias de bullying foram feitas à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF): um aumento de 243% em relação ao ano de 2023.

No Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, lembrado nesta segunda-feira (7), é preciso alertar que o bullying nunca foi uma brincadeira e que, desde 2024, é crime tipificado no Código Penal.

🔎 O que é o Bullying?

Intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência física ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo. A intimidação se dá por atos de humilhação, de discriminação ou de ações verbais, morais, sexuais, sociais, psicológicas, físicas, materiais ou virtuais.

 A pena para quem faz bullying é uma multa que pode variar o valor dependendo da gravidade da conduta.

“Se condenado na pena de multa, o juiz determina quantos dias de multa o réu deverá pagar, de acordo com a gravidade do crime (por exemplo, 10, 30, 100 dias). Depois, define o valor de cada dia-multa, que pode variar entre 1/30 e 5 vezes o salário mínimo vigente, conforme a condição econômica do condenado”, diz o advogado criminalista Guilherme Augusto Mota.

A judicialização é a melhor resposta?

O advogado criminalista Guilherme Augusto Mota afirma que a inserção do bullying no Código Penal é uma forma do Estado reconhecer juridicamente um fenômeno que foi negligenciado ou banalizado como “brincadeira de criança”. No entanto, o especialista ressalta que “a resposta normativa é necessária, mas não suficiente: o fenômeno tem raízes sociais, psíquicas e culturais que não se resolvem unicamente pela via penal”.

Ou seja, o problema do bullying, segundo o advogado, não se resolve somente punindo os agressores, pois é preciso uma reformulação de estruturas que toleram, silenciam ou reproduzem a violência. A questão não se resume apenas a “vítimas inocentes” e “agressores perversos” já que todos os envolvidos, como os que assistem, silenciam ou se omitem, têm um papel na perpetuação ou superação do ciclo, segundo Guilherme Augusto Mota.

Para o advogado, a judicialização excessiva pode gerar efeitos graves na formação de adolescentes, ou seja, a resposta ao bullying deve ser também pedagógica e não apenas sancionatória.

“O bullying é, muitas vezes, a face visível de uma teia de negligência, de ausência de políticas públicas e de déficit na formação emocional. O papel do Estado é também — e sobretudo — o de fomentar um ambiente pedagógico seguro, inclusivo e pautado em valores democráticos. A responsabilização é legítima, mas deve vir acompanhada de estratégias preventivas e restaurativas“, afirma o advogado.

Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola

O Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola foi criado em 2016, por meio da lei n° 13.277/2016. Ao g1, o Ministério da Educação destaca que a lei é resultado do Projeto de Lei n° 3015/2011 do deputado Artur Bruno (PT-CE).

O dia 7 de abril foi escolhido por conta do ataque na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, na Zona Oeste do Rio, que ocorreu em 7 de abril de 2011. O ex-aluno, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou na escola com duas armas e fez 62 disparos contra os estudantes: 12 crianças de 13 a 15 anos morreram.

“A data consolidou-se como um marco simbólico na agenda de proteção da infância e da juventude, reafirmando o compromisso do Estado e da sociedade com a construção de ambientes escolares seguros, acolhedores e promotores de direitos”, diz o Ministério da Educação.

Consequências do Bullying

A violência ocorrida no ambiente escolar pode deixar marcas na vítima. Segundo o Ministério da Educação, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, 39,1% dos estudantes de 13 a 17 anos relatam ter se sentido humilhados por provocações de colegas nos 30 dias anteriores à pesquisa. As principais motivações mencionadas incluem:

  • Aparência do corpo (16,5%);
  • Aparência do rosto (10,9%);
  • Raça/cor (4,6%);
  • Orientação sexual (2,5%).

O bullying esconde muitas violências como racismo, capacitismo, gordofobia. É preciso identificar qual é a violência que a vítima está sofrendo, porque essa abordagem vai ser diferente em cada uma. Não é possível tratar todas as violências da mesma forma.” – Catarina de Almeida Santos, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

Para a professora Catarina de Almeida Santos, para identificar a violência, é preciso olhar para cada estudante e suas características. Em crianças vítimas de bullying, os principais sinais aparecem em mudanças de comportamento e em reações físicas, como:

  • Fobia escolar;
  • Apatia ou retração emocional;
  • Falta ou excesso de apetite;
  • Queda no rendimento escolar;
  • Ataques de pânico ou de ansiedade;
  • Asia, vômito ou mal-estar; entre outros.

A maioria das vítimas de bullying, em 2024, no DF foram meninas de 12 a 15 anos, segundo o levantamento da Polícia Civil do Distrito Federal (veja gráfico abaixo).

O perfil das vítimas de bullying por sexo e faixa etária em 2024 no DF. — Foto: PCDF/Divulgação

O que pode ser feito para combater o Bullying nas escolas?

Para combater o bullying, a melhor estratégia é a prevenção, como destaca a professora da Faculdade de Educação da UnB, Catarina de Almeida Santos. Ao g1, especialistas entrevistados afirmam que alguns caminhos para ações de combate ao bullying são:

  • Mediação escolar;
  • Formação continuada de professores;
  • Canais seguros de escuta;
  • Fortalecimento da cultura da empatia e da convivência plural;
  • Equipes multidisciplinares nas escolas para ser uma rede de acolhimento;
  • Desenvolvimento de conteúdos sobre combate ao bullying e respeito as diferenças;
  • Ensino a partir do diálogo;
  • Permitir que crianças e adolescentes enxerguem a si mesmos.

“O melhor caminho é desenvolver uma educação em que as pessoas entendam que é preciso respeitar o outro. […] Construindo um espaço de aceite e respeito na diversidade a gente se educa pela diferença”, diz a professora Catarina de Almeida Santos.

Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021 apontam que 46% dos professores relataram ocorrência de bullying em suas escolas, enquanto 70,1% das escolas desenvolvem projetos temáticos sobre o tema.

Para funcionar, as iniciativas devem ter uma intervenção sistêmica com o envolvimento de toda a comunidade escolar: professores, direção, corpo técnico, pais, responsáveis e funcionários terceirizados.

“Ações isoladas — centradas unicamente nos alunos, em campanhas moralizantes ou em fórmulas genéricas — não são eficazes. […] A prevenção exige corresponsabilidade institucional e sensibilidade para as realidades locais”, destaca o advogado criminalista Guilherme Augusto Mota.

Ou seja, tanto a desresponsabilização dos pais e a omissão por parte das escolas precisam ser considerados para reverter o ciclo de bullying, como destaca o professor da Faculdade de Educação da UnB Francisco José Rengifo. “Boa parte da publicidade das escolas particulares está associada com suposto processo da aprovação, independentemente da formação moral, ética e social do indivíduo”, diz o professor.

“Se quer combater o bullying tem que trabalhar numa dinâmica de autoconhecimento, de reflexão, de onde vem os valores que construí como indivíduo”, aponta o professor Francisco José Rengifo.

A escola, muitas vezes, oscila entre a omissão e a repressão no combate ao bullying, no entanto, tanto vítimas como agressores precisam de acolhimento e orientação qualificada, segundo o advogado criminalista Guilherme Augusto Mota.

“O bullying é um fenômeno coletivo e sua superação também deve ser”, diz Guilherme Augusto Mota.

Iniciativas em escolas do DF

No Centro de Ensino Médio 1 do Guará, um projeto para combater o bullying e a violência na escola foi desenvolvido por professores com foco no protagonismo do estudante. Os alunos interessados em participar da iniciativa passam por uma formação de técnicas de acolhimento e escuta.

Depois, eles conversam com outros estudantes e colegas que possam estar sofrendo bullying e encaminham os possíveis casos para os especialistas da escola. Ou seja, os próprios alunos fazem o primeiro contato com possíveis vítimas de bullying para oferecer ajuda.

Um outro projeto que foi implementado no Colégio Sigma é a Convivência Ética, com aulas semanais que incluem rodas de diálogo chamadas de Círculos de Confiança. Os estudantes se reúnem para conversar e refletir sobre situações que os incomodam.

De acordo com e escola privada, é o local onde os alunos aprendem a traduzir em palavras os sentimentos e preocupações.