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A Prefeitura do Rio de Janeiro abriu recentemente uma consulta pública sobre a possibilidade de proibir o uso de celular na escola durante todo o horário escolar. Atualmente, os alunos têm permissão para utilizar os aparelhos nos intervalos ou em sala, para atividades específicas. A proposta da Secretaria Municipal de Educação é restringir o uso ao longo de todo o período escolar.

O Escolas Exponenciais aproveitou a oportunidade para conversar com especialistas e explorar os possíveis riscos e benefícios dessa proibição.

Desde agosto, o uso de celulares nas salas de aula no Rio de Janeiro já é proibido, permitido apenas com a autorização dos professores para fins educacionais. O debate sobre a proibição total está agendado para ocorrer na primeira quinzena deste mês.

O pediatra Daniel Becker, que participou ativamente da decisão da prefeitura, destacou a perturbação causada pelo celular na atenção e aprendizado das crianças, tanto em sala de aula quanto durante o recreio. Becker ressalta que o celular pode trazer danos significativos à experiência escolar, afetando a vivência de relacionamentos, atividades físicas e brincadeiras.

O médico explica que o celular é altamente distrativo e viciante, prejudicando o aprendizado. Estudos realizados indicaram que crianças que tiveram um melhor desempenho estavam em salas onde o celular estava ausente. 

Além disso, Becker destaca que o celular pode ser utilizado para cola, bullying, filmagens não autorizadas de professores e cyberbullying em tempo real na escola.

Pediatra defende proibição do celular na escola até no recreio

Questionado sobre o uso de celulares nos intervalos das aulas, o médico enfatiza a importância do recreio como um momento valioso para o desenvolvimento das habilidades das crianças, como comunicação, autoconhecimento, empatia, colaboração, negociação, cooperação e solução de problemas.

De acordo com ele, a presença do celular no recreio transforma o espaço em algo silencioso, estático e sem interação, prejudicando aspectos fundamentais do crescimento infantil.

O especialista sugere diversas opções para implementar a proibição, como a entrega dos celulares na chegada à escola e a devolução na saída. Ele destaca que não há justificativa para o uso do celular na escola, que mina todos os aspectos da vida escolar da criança.

Becker destaca a necessidade de combater a epidemia do excesso de telas, ressaltando que a escola é um ambiente regulamentado, onde os adultos têm o poder de implementar regras. Ele enfatiza que a escola proporciona à criança a oportunidade de estar no mundo real, desenvolvendo habilidades essenciais para a vida, como atenção, foco, leitura, interpretação de textos e relacionamento humano.

Uso de celulares requer criação de novos formatos pedagógicos 

Fernanda Taxa, docente da PUC e especialista em alfabetização, linguística, matemática e ciência, faz uma reflexão sobre a presença dos celulares na sala de aula, citando o educador e filósofo Paulo Freire: “Ninguém começa a ser professor numa certa terça-feira às 4 horas da tarde… Ninguém nasce professor ou marcado para ser professor. A gente se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre a prática”.

Diante da crescente inserção da tecnologia virtual e digital na vida das pessoas, Fernanda argumenta que a educação, entendida como prática social, não pode excluir de forma exacerbada os dispositivos eletrônicos, já tão presentes no cotidiano de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos.

Para ela, a abordagem não deve se limitar à lógica do terceiro excluído, onde é uma escolha entre permitir ou proibir o uso de celulares na sala de aula. Pelo contrário. Fernanda propõe uma abordagem baseada na lógica do terceiro incluído, que considera a multiplicidade de interações difíceis de serem compreendidas com base em lógicas mais tradicionais.

O uso dos celulares, segundo a pedagoga, requer uma concepção complexa e a criação de formatos pedagógicos distintos dos tradicionais. Ela destaca a urgência de repensar práticas pedagógicas para se alinhar com o mundo contemporâneo, evitando a criação de uma dissonância irreparável entre gerações.

Fernanda acredita que “vivendo na era da sociedade do conhecimento”, mediada pela era digital, a inclusão digital na educação é fundamental. Ela destaca que existem inúmeras experiências, sites, blogs e aplicativos que demonstram como o uso de dispositivos móveis contribui para avanços na aprendizagem, promovendo uma abordagem mais livre, ativa e no ritmo do estudante, sem perder o caráter coletivo da sala de aula.

“É necessário abraçar a complexidade do uso de celulares na educação, buscando inovações e práticas críticas que acompanhem a evolução da sociedade, mantendo a sala de aula como um espaço de aprendizado coletivo e inclusivo”.

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