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Além das tensões com os próprios exames, um dos pontos mais desafiadores para os vestibulandos é a escolha do curso superior. Por isso, é fundamental que as escolas acolham os estudantes do ensino médio e reforcem que essa não significa, necessariamente, uma decisão determinante sobre a profissão. E uma das possibilidades para debater esse assunto com os alunos é por meio do Projeto de Vida.

É o que explica Gabriel Assis, professor de Projeto de Vida da Camino School, escola trilíngue da zona Oeste de São Paulo. “A decisão sobre o curso superior não garante a carreira das pessoas. Funciona mais como um norte do que como um fator determinante”, explica o Assis.

“Eu, por exemplo, sou formado em Engenharia de Produção, trabalhei dois anos na área e não me realizei”, conta Assis. “Então, fui trabalhar com educação, onde tive oportunidade de desenvolver grandes projetos de formação de educadores e hoje sou professor da Camino School”, comenta Assis. 

Mesmo tão jovens, muitos estudantes se cobram no sentido de saber exatamente todo o percurso que vão trilhar nas carreiras. Como não se pode ter controle sobre o futuro, essa tentativa de previsão se torna muito angustiante. Nesse sentido, as instituições de ensino deve estar atentas para o acolhimento das dúvidas, no alívio de pressão das escolhas e na orientação voltada ao autoconhecimento.

Projeto de vida

O Projeto de Vida é uma das  competências gerais previstas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que devem ser trabalhadas na trajetória escolar. O objetivo é ajudar os estudantes no desenvolvimento de habilidades, que no mercado de trabalho são chamadas de soft skiils,  como cooperação, respeito e análise de mundo, e que ajudam diretamente na vivência com o vestibular.

Um dos temas centrais trabalhados pelo Projeto de Vida, especialmente no primeiro ano do ensino médio, é o autoconhecimento, fator que auxilia na decisão do curso superior, como conta Assis.

“Na trajetória escolar existem situações que sinalizam interesses do estudante, mas, em muitos casos, não se tem tempo nem condição de refletir a respeito”, explica o professor. 

“Por isso, é necessário que as escolas percebam que, assim como é importante que o currículo dê conta de explicar o funcionamento do mundo, também é fundamental aplicar propostas para explicar o funcionamento dos estudantes, auxiliando na formação da identidade pessoal”, sugere Assis. 

Nesse contexto, a escolha do curso superior prevê uma série de conhecimentos desenvolvidos no decorrer da vida escolar, que superam a familiaridade com os números ou a boa redação. “Refletir sobre quem somos é refletir, também, sobre o ser humano que queremos ser, não apenas do ponto de vista de profissão, mas também de valores”, explica o professor. 

Além de ajudar os estudantes a desenvolverem autoconhecimento, as escolas precisam considerar outras competências socioemocionais, como empatia, autocontrole e habilidades de relacionamento. “A construção de uma inteligência emocional madura vai ser uma forte aliada dos estudantes no momento de preparo para o vestibular”, explica Gabriel Assis. 

Prestar ou não prestar vestibular logo depois do ensino médio?

Levando em consideração o crescimento da expectativa de vida do brasileiro, escolher o curso superior aos 17 ou 18 anos pode ser considerado antecipado, mas nem todo mundo tem a possibilidade de esperar.

“Algumas pessoas com condição privilegiada vivem um ano sabático após a conclusão do ensino médio para fazer intercâmbio, por exemplo, ter novas experiências e se descobrir”, comenta Assis. “Porém, a maioria dos estudantes não têm essa oportunidade e muitos já cursam o ensino médio junto ao técnico para poder garantir uma ocupação, uma atividade econômica”, pontua Assis.

Para o professor, cada experiência é singular e, portanto, não existe recomendação universal sobre a melhor idade para prestar vestibular. “Depende de uma série de fatores, como conjuntura familiar, social e econômica”, ressalta Assis. “Esse cenário reforça a relevância de uma disciplina de Projeto de Vida bem construída pelas escolas”, conclui o professor. 

 

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