Consciência Negra: como promover a educação antirracista nas escolas
Apesar de alguns avanços no que diz respeito à equidade racial, nos últimos anos, pessoas negras permanecem vivenciando a exclusão e a marginalização diariamente. Segundo dados da pesquisa Percepções sobre o racismo no Brasil, de 2023, 64% dos brasileiros entre 16 e 24 anos consideram que o racismo começa na escola.
Essa desigualdade pode ser observada em pesquisas como a elaborada pelo Todos pela Educação, que revelou um cenário preocupante: o acesso e a conclusão de estudantes negros ao Ensino Médio equivale a uma década de atraso, se comparada aos indicadores de estudantes brancos. “Combater o abandono escolar dos jovens requer principalmente políticas inclusivas, acesso equitativo, apoio psicossocial, treinamento de qualidade para professores e envolvimento da comunidade”, afirma Deborah Fracischelli Amoni, diretora geral do Curso Evidente.
Por outro lado, algumas medidas de enfrentamento já vêm sendo criadas no âmbito educacional. Em 2023, completaram-se 20 anos da implementação da Lei 10.639, que tornou obrigatório o estudo sobre a história e cultura afro-brasileira no currículo oficial de educação nacional. Tendo em vista este panorama, Clarissa Lima, assessora pedagógica da Plataforma Amplia, Sistema de Ensino para a Educação Básica, discorre sobre a importância da temática antirracista no âmbito escolar.
“A educação antirracista pode acelerar a ruptura do pensamento moderno/colonial que induz a um complexo de superioridade de algumas pessoas sobre outras. Ela promove conhecimento plural, agregando valores para uma sociedade pacífica, verdadeiramente democrática, com direitos e oportunidades iguais para todos os cidadãos. Por isso, o assessor pedagógico pode se revelar um facilitador para as escolas que pretendem posicionar-se como antirracistas”, afirma Clarissa Lima.
Existem também uma série de ferramentas e conteúdos que podem ajudar a promover uma educação antirracista no dia a dia das escolas. Algumas delas:
Letramento racial: rodas de conversa em sala de aula
Por ser uma prática pedagógica que proporciona uma participação coletiva de debate acerca de determinada temática, as rodas de conversa contribuem grandemente para o processo de conscientização dos estudantes. A assessora pedagógica do Programa Líder em Mim, Fabiana Santana, diz que esse processo é chamado de Letramento Racial. “Segundo a Academia Brasileira de Letras, Letramento Racial é um conjunto de práticas pedagógicas que têm por objetivo conscientizar o indivíduo da estrutura e do funcionamento do racismo na sociedade e torná-lo apto a reconhecer, criticar e combater atitudes racistas em seu cotidiano”, conta ela.
“Quando propomos rodas de conversas em sala de aula para abordar o tema, estamos criando um ambiente em que o estudante será estimulado a desenvolver competências socioemocionais como “construção de relacionamentos, alinhados com a BNCC no que diz respeito à competência de empatia e cooperação, sendo assim capazes de compreender a importância de respeitar os outros para uma sociedade melhor, tanto em ambiente físico quanto digital”, afirma Fabiana.
Manual gratuito para educação antirracista nas escolas
A Camino School, escola da zona Oeste de São Paulo, desenvolveu o Manual para Escolas Antirracistas, que traz orientações práticas e pedagógicas para auxiliar no enfrentamento do racismo estrutural e inspirar instituições públicas e privadas a adotarem uma postura antirracista no dia a dia.
De fácil leitura, o material está disponível gratuitamente na internet para que todas as escolas interessadas em se aprofundarem no tema e atuar efetivamente contra o racismo possam se instruir. Além de orientações, o manual traz dados atuais sobre a desigualdades de raça no país e um glossário de conceitos para o letramento racial.
“A diferenciação do manual está na proposta de desenvolvimento de ações específicas para as instituições de ensino, contribuindo diretamente para as práticas antirracistas”, afirma Leticia Lyle, diretora da Camino School. “E, para tal, a gestão precisa implementar as orientações, os professores necessitam trabalhar em sala de aula de forma positiva as contribuições das populações afrodescendentes e indígenas. Para além disso, os estudantes e familiares precisam estar atentos para identificar situações de racismo estrutural e seus derivados”, finaliza Leticia.
Filmes e séries que abordam a temática do racismo
A escola é o espaço perfeito para descontruir o racismo, o preconceito e a discriminação. Assim, a sétima arte pode contribuir para que os educadores, por meio da apresentação e discussão de filmes, construam um caminho em que crianças e jovens se sintam pertencentes ao espaço escolar. Magna Celene Parreiras De Assis, coordenadora de Segmentos do Anglo Alante, listou 4 produções audiovisuais que retratam a luta de homens e mulheres contra a discriminação racial, ao longo dos últimos séculos. Confira!
- Doze anos de escravidão (2014) – conta a história de Solomon Northup, um homem negro livre, excelente violinista, que vive em paz ao lado da esposa e filhos. Até que um dia é sequestrado, acorrentado e vendido como um escravizado, passando 12 anos nessa condição violenta, marcada por constantes humilhações físicas e emocionais.
- Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil (2016) – O documentário retrata o caso de uma família de empresários na década de 1930 levavam meninos negros dos orfanatos para serem explorados no trabalho em uma fazenda do interior de São Paulo, um caso de escravidão em pleno século XX.
- Mandela – O Caminho da Liberdade (2013) – O filme é inspirado na biografia de Nelson Mandela, líder sul-africano, que conta a história de uma criança negra que vivia numa pequena aldeia rural que conseguiu ser eleito de forma democrática para o cargo de Presidente da República da África do Sul. Mas, sua luta pelo fim do apartheid, regime racista e segregacionista do país, o levou para a prisão e durante 27 ficou preso por acreditar na possibilidade de construir uma sociedade pacífica e mais igualitária para todos.
- Escravidão – Século XXI (2021) – A série documental, com cinco episódios, retrata o trabalho análogo à escravidão no Brasil atual. A partir de relatos daqueles que sobreviveram à exploração do trabalho, em pleno o século XXI, a série dá visibilidade à “cultura da escravidão” que ainda faz parte do cotidiano de norte a sul do Brasil.
Foto: Imagem de Freepik.
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