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Quais são os passos necessários para tornar minha escola uma instituição capacitada a oferecer ensino bilingue? Essa é uma pergunta que visita as salas de reuniões de gestores escolares com frequência. Ainda falta ao Brasil documentos oficiais que sirvam de orientação e direcionamento para a Educação Bilíngue, que não está inclusa, por exemplo, na Base Nacional Curricular Comum (BNCC).

Diante desse cenário, o Edify Education, sistema de ensino bilíngue presente em 400 escolas do País, elaborou o Currículo Edify, documento que funciona como um guia com diretrizes para escolas que queiram conhecer os passos necessários para fomentar o ensino da língua inglesa em toda a grade da instituição. As informações podem ser consultadas por gestores escolares por meio deste link.

O Escolas Exponenciais conversou com a co-CEO do Edify Education, Marina Dalbem, sobre a trajetória que levou à criação do Currículo.

EX: O que é o Edify Education e como ele foi pensado na sua criação?

Marina Dalbem. O Edify Education foi fundado em 2017 como uma solução para um problema super importante no Brasil, que é a falta de acesso ao inglês de qualidade dentro das escolas. As escolas não entregavam um bom inglês e isso forçava os pais a colocarem seus filhos nos cursos extracurriculares, que foi o que a gente também, provavelmente na nossa geração, teve que fazer para aprender a falar inglês fluentemente. E aí, obviamente, como é um custo extra alto para as famílias, poucas crianças têm, de fato, acesso a fazer um curso de inglês extracurricular depois da escola. E isso leva a um contexto em que menos de 1% dos brasileiros é fluente em inglês, menos de 5% fala sequer alguma coisa. Então, como que a gente vê a solução para esse problema? A gente olhou para outros países do mundo que tem influência muito melhores e nesses países quem ensina inglês é a escola. A gente pensou como conseguiria mudar essa situação e desenvolveu um produto em conjunto com escolas que toparam pilotar junto com a gente em 2017. Um produto que insira dentro do currículo regular das escolas cinco horas semanais de contato com a língua inglesa. E aí a gente lançou o Edify, em 2017, com mais ou menos 5 mil alunos de algumas escolas que toparam fazer isso com a gente. Desde então a gente vem crescendo bastante por causa do interesse das escolas e dos pais em fazer de fato uma proposta de valor que inclua o inglês dentro do currículo. Chegamos em 103 mil alunos espalhados pelo Brasil inteiro. A gente hoje só não está no Acre, então eu espero que esse ano a gente consiga chegar lá.

Como funciona o acesso às soluções e os pilares de conteúdo?

O propósito da companhia em tudo que a gente faz é focado em fazer dessa geração uma geração bilingue. No começo, em 2017, tínhamos um produto que a gente chama de Premium, que entrava em escolas acima de R$ 1.000, R$ 1.200 de mensalidade. Desde então, lançamos um produto novo, que é o Essential, que se propõe a entrar em escolas a partir de R$ 400 de mensalidade. É um produto bem mais acessível, que também entrega fluência, com professores qualificados para fazer isso acontecer dentro de sala de aula. Nós seguimos três grandes pilares. Um deles é um conteúdo inovador, uma abordagem que faz com que as crianças de fato aprendam inglês de uma forma mais lúdica, que elas não tenham aquele receio que muitos dos adultos têm e que cria aquele trauma com a língua inglesa, então é muito lúdico, é muito divertido, é contextualizado. Seguido de uma formação de professores bem puxada, então a gente ajuda as escolas, desde selecionar os professores que estão dando essa disciplina até identificar se eles estão com algum problema de desenvolvimento linguístico ou de prática pedagógica dentro de sala de aula e ajuda a desenvolvê-los nesse sentido. E, por último, a gente mede tudo ao longo do caminho. Quando a gente começa a ganhar escala, é importante saber que o professor está conseguindo dar aula e que esse aluno esteja conseguindo aprender. A gente vai medindo, por exemplo, se as aulas estão sendo bem sucedidas, a gente observa a aula junto com o professor, a gente assiste, a gente faz formulário de feedback com cada um dos professores. E com o aluno a gente faz mensurações recorrentes através da nossa plataforma digital, se ele está acompanhando o conteúdo ou não dentro de sala de aula. Esse tripé de formação de professores, mensuração e conteúdo acaba sendo o que nos permite entregar essa proposta dentro de sala de aula.

Quais as principais mudanças que uma escola deve estar disposta a fazer para modificar o currículo em busca do ensino bilíngue?

Acho que a primeira coisa que a gente já via tendo que acontecer é essa parte de ajustar um pouco a matriz curricular da escola para inserir a carga horária mínima necessária para conseguir chegar em algum trabalho de fluência mais adequado, que são as cinco horas semanais. A escola já precisaria fazer isso de largada. E precisaria também, aos poucos, ir fazendo esse cruzamento curricular que a gente acha que é muito importante. Não resolve aumentar a carga horária, mas o inglês continuar sendo como se fosse um apêndice, não inserido no currículo escolar. Ou seja, por exemplo, você vai fazer um trabalho de literatura ou algum trabalho de sustentabilidade e o inglês continuar tocando em um outro ritmo, e isso não fazer parte de uma integração curricular que faça sentido para o aluno, porque, no final das contas, o inglês sendo uma linguagem e uma ferramenta que, no final do dia, é uma ferramenta de comunicação, a gente quer que ele consiga usar a língua para algum fim. Nesse contexto, ele precisa usar para um fim que faça sentido para ele. E isso vai ser o que ele está vendo na escola, o currículo que ele está consumindo na aula de história, na aula de geografia, na aula de matemática. E como que ele consegue fazer com que esses saberes se cruzem. Então, uma primeira necessidade de adaptação é a escola ver a língua inglesa não como um apêndice, mas como uma linguagem tão relevante quanto as demais disciplinas e conseguir ajustar um pouco essa carga horária.

Qual é o papel do professor nesse processo?

O professor deve ter mais horas de dedicação, para ele não ser um professor que fica completamente desconectado do DNA da instituição. Como especialista, o professor de língua inglesa muitas vezes é aquele professor que não necessariamente está super conectado com a proposta da escola, não participa de conselhos de classe. Tem algumas coisas que acho que são essenciais para fazer do inglês, de fato, uma disciplina core das escolas. A gente entrega os planos de aula e tem uma matriz curricular. Quando o professor entra em sala de aula, o coordenador da escola, o mantenedor da escola precisa entender o que está acontecendo e que competências e habilidades estão sendo desenvolvidas dentro daquela disciplina.

O currículo foi elaborado para um modelo integral ou existe a possibilidade de ajustes em conformidade com o aluno?

O nosso currículo foi criado realmente desde a educação infantil até o ensino médio, mas obviamente é sempre extremamente necessário que a gente tenha clareza do que esse aluno consegue entregar se ele entra, por exemplo, no meio do circuito. A gente vê isso acontecendo muito frequentemente dentro da sala de aula. Por exemplo, a gente entrou em várias escolas lá em 2017. Imagina que essas crianças que fizeram toda a jornada delas até hoje, até 2023, já estão bastante fluentes. Mas entra um aluno que veio de outra escola e que não tem o mesmo nível linguístico, ele precisa estar amparado e precisa conseguir acompanhar a partir de agora. Então o currículo também nos dá essa ajuda, porque a gente consegue ver exatamente o que ele perdeu para trás e como que eu consigo fazer ele catch up em todos os sentidos. Como é que eu vou priorizar isso do ponto de vista de desenvolvimento mais personalizado para aquele aluno que não conseguiu pegar a jornada início, meio e fim? A gente desenvolve a partir daí toda uma jornada de personalização, digamos assim, nas nossas plataformas digitais para garantir que os alunos que não passaram por todo esse currículo até então consigam fazer um catch up, especialmente no quesito comunicação, que é uma coisa que só o inglês consegue entregar nesse sentido. A parte de letramento digital, a parte de sócio emocional e o learning for life, a gente consegue, obviamente, fazer referências que ocorrem na Base Nacional Curricular Comum e que provavelmente esse aluno teve acesso mesmo numa escola que não tivesse o programa, por exemplo.

Foto: Imagem de Freepik.

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