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A democracia no Brasil tem sido um dos assuntos mais comentados após o resultado do 2º turno das eleições presidenciais de 2022. A temática também entrou nas escolas, mas em muitos casos não foi pela porta de frente. Em algumas instituições de ensino, a política foi motivo de agressões, ofensas e racismo entre os alunos.

Um desses episódios aconteceu em uma escola de alto padrão localizada em Valinhos, interior de São Paulo. Oito estudantes foram expulsos após um aluno negro, de 15 anos, denunciar mensagens com conteúdos racistas, machistas, gordofóbicas e xenofóbicas em um grupo de WhatsApp, criado no mesmo dia da votação e que se posicionava contra o partido vencedor.

Para o professor de sociologia Yuri Norberto, falar sobre a democracia no Brasil é o único caminho para combater as violências nas escolas.

“Na escola há um conjunto de valores que faz com que eu tenha certeza de que aqui é o espaço para isso. O adolescente está se formando e ele está dentro desse ambiente por várias horas, onde tem um professor responsável que sabe falar sobre isso. Ou a gente fala sobre democracia nas escolas ou a escola vai ter esses episódios de violência”, pontua.

De acordo com Norberto, os adolescentes do Ensino Médio estão em fase de formação da própria identidade e da personalidade. “E na escola eles estão em um ambiente para aprender. É o lugar ideal para falar sobre democracia no Brasil, pois é um ambiente controlado e seguro, ideal para o aprendizado”, destaca.

O educador lembra ainda que a própria LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) preconiza formar os alunos para a cidadania. “Formar para cidadania é comunicar para eles sobre qual regime o país dele vive. O que é esse regime democrático? O que isso implica? O que isso implica, inclusive, na minha conduta?”, questiona. 

 

Como o debate sobre a democracia no Brasil contribui para o fim da violência escolar?

O professor Yuri Norberto também é idealizador do projeto Atheneu Políticas Públicas (POP), iniciativa em que estudantes do ensino médio da Escola Estadual Atheneu Sergipense, em Aracaju (SE), realizaram sabatinas com candidatos ao governo do estado.

Mesmo após passar quase um ano abordando política em sala de aula, o educador ressalta que ainda não tinha presenciado discussões sobre esse assunto, situação diferente do que vivenciou após o término das eleições.

“Passei 11 meses falando sobre democracia no Brasil e sobre política. Praticamente não tive nenhum problema. Mas entre o final do 2º turno até agora eu vi situações que não tinha visto. Coisas leves, mas eu não tinha visto ainda um aluno bater boca com outro aluno dentro do colégio. E eu vi agora”, conta.

E para combater esses casos, Norberto acredita que é necessário abordar o assunto nas escolas. “Não adianta fingir que nada está acontecendo. Se a gente não falar de política em sala de aula, eles vão brigar no corredor, vão para o tudo ou nada. Então, eles vão fazer tudo aquilo que não é política, que é a briga, o desrespeito. Eles não sabem como fazer isso por conta da imaturidade mesmo e quem sabe é que tem que ensinar”, ressalta.

 

Como falar sobre democracia no Brasil em sala de aula?

Norberto conta que, geralmente, conversa com os alunos ressaltando que “democracia não é conversar com quem você quer. É conversar com quem você não quer, com quem tem opiniões diferentes. Isso é fazer política”.

Para o educador, uma das formas de falar sobre a democracia no Brasil é abordar o papel das instituições e explicar como as leis funcionam. “Qual a função do TSE? Explicar sobre isso não tem divergência. Se o outro lado opera pela irracionalidade, a gente precisa operar pela racionalidade. Se o lado da violência opera pelo medo, precisa operar pelo acolhimento”, pondera.

Ainda segundo Norberto, também é papel da instituição de ensino explicar aos estudantes o que é política. “A montagem da sala de aula já é uma política. São 40 alunos que não escolhem com quem querem conviver. Eles são obrigados a conviver o dia inteiro com 40 pessoas que são diferentes. A escola precisa mostrar que, aquele exercício que ele faz de tolerância com o outro, já é um ambiente de política”, exemplifica.

 

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