Equipe de radiotelescópio leva conhecimentos de astronomia para escolas
Os coordenadores do projeto de construção do radiotelescópio Bingo, o primeiro do Brasil, pretendem levar conhecimento em astronomia também aos moradores e estudantes de Aguiar, município no sertão paraibano onde a tecnologia está sendo implementada.
Para isso, estabeleceram uma parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A ideia é que estudantes de física e comunicação da instituição visitem as escolas da cidade e de municípios vizinhos para falar de astronomia, tecnologia e do Bingo, explicou à assessoria de imprensa do projeto Élcio Abdalla, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e coordenador do Bingo.
“A ideia é que as visitas às escolas sejam periódicas. E alguns eventos já estão ocorrendo”, comentou Amilcar Queiroz, professor da Universidade de Brasília e um dos participantes do projeto. Nessas apresentações, minicornetas foram usadas para servir de exemplo de funcionamento de um radiotelescópio. “As minicornetas são de fato minirradiotelescópios e é por meio delas que conseguimos explicar de forma prática, visível e lúdica como é o funcionamento de um radiotelescópio”, complementou Queiroz.
O projeto
O Baryon acoustic oscillations in Neutral Gas Observations (Bingo) foi concebido para fazer a primeira detecção de Oscilações Acústicas de Bárions (BAO) a frequências de rádio. BAO é um método utilizado pela astrofísica para, por meio de oscilações acústicas, entender as aglomerações de galáxias e medir a expansão do Universo e a quantidade de matéria escura.
Um consórcio internacional foi formado para a construção e operação do radiotelescópio, reunindo cientistas de China, África do Sul, Reino Unido, Estados Unidos, Portugal, França, Uruguai e Brasil. O grupo recebe apoio da FAPESP (leia mais em: agencia.fapesp.br/24651/).
“A proposta é estudar a energia escura e também o fenômeno Fast Radio Bursts, ainda pouco conhecido e que está entre os fenômenos mais energéticos do Universo. Emitem, por vezes em milissegundos, o equivalente a toda energia produzida pelo Sol em três dias”, contou Abdalla.
Apelidado de “diamante do Sertão”, o instrumento contribuirá com a visão do hemisfério Sul para um trabalho sobre o fenômeno que já vem sendo realizado por meio do Canadian Hydrogen Intensity Mapping Experiment no hemisfério Norte.
“O Bingo vai além da construção de um radiotelescópio ao contemplar os três pilares do trabalho da universidade: pesquisa, ensino e extensão”, afirmou Abdalla. A parte de despertar o interesse da população local em astronomia tem a ver com um dos pontos menos teóricos do projeto: a realização de aulas de ciências nas escolas de Aguiar e redondezas.
O professor justifica essa faceta do planejamento: “O assunto não é necessário apenas para a comunidade científica, mas para a população em geral. Não podemos simplesmente falar para doutores, temos que colocar as pessoas a par, já que são elas que pagam pela nossa pesquisa. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços [ICMS] do pãozinho vai para esse trabalho também. Então nós temos, até como obrigação, contribuir para um desenvolvimento real e mostrar ao cidadão que a ciência é importante, que a ciência muda o mundo”.