Falta de curso específico limita uso de tecnologia em sala de aula
Nos últimos anos, a tecnologia tem desempenhado um papel cada vez mais significativo nas salas de aula brasileiras, tanto no ensino público quanto no privado, abrangendo regiões urbanas e rurais.
Dados recentes da pesquisa TIC Educação revelam que 94% das escolas de ensino fundamental e médio possuem acesso à internet. No entanto, mesmo com esse avanço tecnológico, ainda persiste alguma resistência ao uso das tecnologias digitais por parte de alguns professores.
De acordo com o estudo, 61% dos estudantes mencionam que a proibição do uso de celular é um dos principais motivos para não utilizarem a internet na escola, e 64% apontam que os professores não usam a internet em atividades educacionais.
Essa falta de adoção das tecnologias por parte dos educadores pode ser atribuída a vários fatores, incluindo a falta de apoio das próprias escolas na oferta de formação adequada.
De acordo com a mesma pesquisa, 75% dos professores relatam que a falta de cursos específicos dificulta a adoção de tecnologias digitais nas atividades educacionais com os alunos.
Para enfrentar esse desafio, a formação e o apoio contínuos são fundamentais para capacitar a equipe pedagógica a incorporar eficazmente a tecnologia no ensino.
“Quando se pensa em uma escola inovadora, é fundamental que a equipe pedagógica esteja devidamente apoiada para atuar como facilitadora no dia a dia da sala de aula. Isso pode ser alcançado por meio de formações presenciais, acompanhamento contínuo e o uso de plataformas de aprendizagem para os professores”, explica Victor Haony, assessor pedagógico da Mind Makers, solução educacional do grupo Somos Educação.
Outros entraves para a resistência
Além da falta de apoio das escolas, outros motivos contribuem para a resistência dos professores ao uso da tecnologia em sala de aula. Muitas escolas ainda mantêm o foco exclusivo na preparação para vestibulares, tornando o sistema educacional excessivamente centrado em conteúdo.
Isso, de acordo com Victor, pode dificultar a implementação de atividades inovadoras, que geralmente demandam mais tempo do que o modelo tradicional de ensino.
Quando os professores percebem que essas atividades inovadoras exigem mais dedicação, muitos optam por permanecer com os métodos tradicionais.
“Com isso, o sistema se torna muito conteudista, inviabilizando, por vezes, a execução de atividades diferenciadas, as quais costumam demandar mais tempo do que o modelo convencional (lousa e explicação)”, destaca Victor, que também é professor.
Outro obstáculo é a falta de uma rede de apoio entre a equipe pedagógica. Atualmente, a sala dos professores raramente é usada como um espaço para compartilhar informações e ideias sobre práticas de ensino inovadoras. Isso resulta na perda de oportunidades valiosas para a troca de conhecimento entre colegas e para a implementação de abordagens mais eficazes.
Tecnologia em sala de aula como aliada do professor
No entanto, a tecnologia pode ser uma valiosa aliada para os professores. Ela pode tornar conceitos abstratos em algo concreto, facilitando a compreensão dos alunos. Simulações virtuais, por exemplo, podem ser usadas para ilustrar conceitos complexos, como a corrente elétrica.
“Por vezes, nós, professores, queremos mostrar de modo ilustrativo algum contexto, imagem ou experimento para os alunos em sala de aula, mas nem sempre temos todos os recursos disponíveis, então por que não criar um link ou um QRcode para acessar uma página que ilustre o conteúdo?”, sugere Victor.
Além disso, a tecnologia possibilita experiências virtuais, como visitar museus renomados, que podem enriquecer o processo de aprendizado e expandir o horizonte dos alunos.
Durante o período da pandemia da Covid-19, muitos museus criaram modos de visitação online e gratuitos, que permanecem disponíveis até hoje. “Essas visitas podem orientar os alunos na busca por informações sobre obras de arte, por exemplo, complementando o conteúdo estudado nos livros”, recomenda o professor.
A pesquisa
A TIC Educação é realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Os dados foram divulgados em setembro após uma coleta de informações realizada entre outubro de 2022 e maio de 2023.
A pesquisa envolveu 131.804 escolas em âmbito nacional com 10.448 entrevistas no total, sendo 1.394 escolas, 959 gestores, 873 coordenadores, 1.424 professores e 7.192 alunos.
O estudo tem como objetivo investigar o acesso, o uso e a apropriação de tecnologias digitais em escolas públicas e particulares brasileiras que ofereçam ensino fundamental e médio, em relação ao uso desses recursos por estudantes e educadores em atividades de ensino e de aprendizagem, assim como por gestores em atividades de gestão escolar.
Foto: Imagem de pch.vector no Freepik.
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