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Quando se fala em desenvolvimento infantil, quase todos os olhos estão voltados para a educação formal como principal responsável pela ascensão social e sucesso na vida. Outros aspectos, como saúde física, mental e emocional; direitos individuais e investimentos econômicos não parecem coisa de criança. 

No entanto, desenvolvimento saudável em suas múltiplas dimensões durante os primeiros anos de vida faz as crianças se adaptarem melhor a mudanças e adquirirem novos conhecimentos com mais facilidade. Habilidades que as acompanharão durante todo o crescimento, levando-as a alcançar bom desempenho escolar, realização pessoal e oportunidades melhores de emprego, gerando cidadãos mais responsáveis.

“É como se você vacinasse esse desenvolvimento para enfrentar riscos e adversidades. Como combatemos os riscos? Não é passando a borracha, mas modificando o impacto negativo do risco”, afirma a psicóloga Maria Beatriz Martins Linhares, professora sênior da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e pesquisadora do recém-lançado Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância (CPAPI). 

Criado em 2021 pelo Insper com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o centro agrega outras sete organizações e dos 18 pesquisadores participantes, 12 são da USP. Com as pesquisas, eles esperam influenciar o poder público na formulação de políticas baseadas em evidências científicas. 

O CPAPI surge no âmbito do veterano Núcleo Ciência pela Infância, uma coalizão de entidades dedicadas à ciência, inovação, formação profissional e desenvolvimento de lideranças capazes de promover a qualidade de vida e a equidade de oportunidades a crianças pequenas.

Pequeno cidadão

“Primeira infância deveria ser a mãe de todas as políticas públicas, como um tema horizontal. Não podemos pensar em nada diferente de investimento na primeira infância se queremos um desenvolvimento sustentável para a sociedade. Tem razões humanitárias, psicológicas, mas tem razões econômicas também, além de razões éticas, de garantia de direitos.” 

Beatriz Linhares defende que a primeira infância corresponde ao período mais sustentável do desenvolvimento humano, mas reforça que a criação e o monitoramento de políticas públicas efetivas para os seis primeiros anos de vida da criança “dependem de um convencimento de diferentes agentes sociais”.

“Ao nascer, uma criança tem pela frente uma loteria da vida. E até os anos 1970, as crianças nascidas sequer tinham acesso ao Estado para garantir sua proteção”, lembra Naercio Menezes Filho, diretor do CPAPI e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em São Paulo. 

O economista destaca que altas taxas de mortalidade e pobreza extrema foram sendo combatidas com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a implementação de estratégias como o Saúde da Família, além de programas de superação do ciclo intergeracional de pobreza, como Bolsa Família, Aposentadoria Rural e Seguro Desemprego.