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No último levantamento do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgado em 5 de dezembro, o Brasil apresentou um desempenho estável entre os anos de 2018 e 2022.

A avaliação, aplicada em 81 países para medir o desempenho de estudantes de 15 anos em matemática, leitura e ciências, revelou que o país permanece na parte inferior da tabela, com notas significativamente abaixo das médias dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Apesar de enfrentar inúmeras adversidades relacionadas à pandemia, como o fechamento de escolas e desigualdade digital no ensino remoto, o Brasil não registrou uma queda nos índices. No entanto, os resultados são preocupantes, destacando a necessidade urgente de melhorias na qualidade da educação.

O Pisa, aplicado a cada três anos, teve sua edição de 2021 adiada para 2022 devido às restrições impostas pela pandemia.

Entre os alunos brasileiros de 15 anos, que concluíram o ensino fundamental 2, 73% ficaram abaixo do nível 2 em conhecimentos matemáticos. Isso indica uma preocupante falta de habilidades básicas, como a incapacidade de realizar operações simples, como a conversão de moedas ou a comparação de distâncias.

Na média dos 81 países participantes, que incluem membros da OCDE e outros parceiros, o índice de estudantes abaixo do nível 2 é consideravelmente menor, atingindo 31%.

No que diz respeito à leitura e ciências, o Brasil manteve um nível estável de estudantes que não atingiram o nível 2 de proficiência, porém, permanece muito acima dos jovens dos países desenvolvidos.

Para Sonia Simões Colombo, CEO da Humus Educação e curadora do GEduc (Congresso Brasileiro de Gestão Educacional), o Brasil não tem feito o dever de casa para melhorar a qualidade da educação. Faltam políticas públicas que coloquem a educação brasileira no patamar de prioridades de investimentos em todas as esferas do espaço educativo.

De acordo com ela, as desigualdades sociais são realidades presentes em todos os estados brasileiros prejudicando a aprendizagem dos alunos. “A desvalorização do professor é um fato que está enraizado em nossa cultura, impactando na atração de novos talentos, formação acadêmica primorosa, educação continuada plena e reconhecimento do trabalho docente”.

Em muitos locais, afirma, encontramos uma atmosfera negativa no ambiente escolar que não estimula o aluno ao desenvolvimento de toda a sua potencialidade.

“Se não temos discentes estimulados para a realização das atividades e felizes por estarem em uma sala de aula, dificilmente irão absorver o que é proposto no processo de ensino-aprendizagem”, destaca.

Impacto dos resultados nas estratégias educacionais

Com a divulgação dos resultados do Pisa 2022, surge a reflexão sobre como esses dados podem influenciar as estratégias de desenvolvimento educacional no Brasil nos próximos anos.

É recorrente ouvir autoridades prometendo esforços intensificados para aprimorar a educação do país após cada edição do Pisa. No entanto, Sonia afirma que, muitas vezes, essas intenções permanecem apenas no discurso, sem tradução efetiva em ações transformadoras.

“Existem muitas falhas no nosso sistema de ensino que não prevê recursos suficientes englobando a estrutura escolar, as metodologias, as tecnologias, a capacitação contínua de todos os atores envolvidos na educação (professores, gestores, equipe de apoio)”, comenta a CEO da Humus Educação.

Sonia diz que já teve oportunidade de visitar e conhecer vários países que são referências em educação. Em todos eles, de acordo com ela, são encontrados relatos de que a transformação no país ocorreu a partir do momento que houve a implementação de uma diretriz forte, vindo dos órgãos governamentais, colocando a educação no centro das prioridades de investimentos, da atenção plena, do acompanhamento efetivo em todas as etapas do processo educativo e da cobrança pelos resultados.

“Não podemos continuar a ser ‘o país do futuro’. As políticas e diretrizes públicas precisam acontecer agora e continuarem sendo implementadas por todas escolas e redes educacionais sem perdermos o foco da importância desta transformação para o Brasil”, enfatiza.

Aspectos críticos que precisam ser melhorados no Brasil

Ao abordar os aspectos mais críticos para aprimorar o desempenho educacional do Brasil, torna-se evidente a necessidade de revisão e fortalecimento de diversos pontos-chave.

Segundo Sonia, uma das falhas reside na formação e na educação continuada dos professores. Para ela, a falta de valorização da carreira docente no país resulta em uma formação acadêmica insuficiente, enquanto a falta de recursos e condições de trabalho adequadas desestimula muitos profissionais, impactando negativamente na qualidade do ensino.

“A capacitação contínua dos professores é algo que os líderes de cada escola não podem deixar de lado. Precisam oferecer formações para acompanharem o movimento das mudanças no mundo atual. Por outro lado, cada docente também precisa procurar o seu próprio desenvolvimento e não se acomodar, não esperar apenas formações vindas da escola, pois existem inúmeras opções no mercado de capacitações, inclusive gratuitas”.

Sonia destaca que avaliar as competências e os resultados apresentados pelos docentes são fatores fundamentais para manter o norte da excelência. “Cabe ao líder de cada escola se atentar ao desempenho de sua equipe. O processo de desenvolver, acompanhar, avaliar, dar feedback e cobrar resultados não pode ser negligenciado”, conclui.

Entre os 81 participantes, o Brasil subiu, de 2018 a 2022:

6 posições em matemática (de 71º para 65º), ficando próximo a nações como Jamaica, Argentina e Colômbia;

5 posições em leitura (de 57º para 52º), perto de Costa Rica, Peru, Colômbia e México;

2 posições em ciências (de 64º para 62º), empatando com Peru e Argentina.

Foto: Imagem de Freepik.

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