Professor premiado fala sobre a importância do aluno protagonista
O aluno protagonista é aquele que está no centro do seu próprio processo de ensino e aprendizagem, com liberdade e autonomia para buscar informações e soluções para os problemas que encontra nesse caminho.
Ouvir o que o aluno quer aprender é um caminho, apontado pelo arte-educador Jayse Ferreira, para que o aprendizado seja significativo na vida desse estudante.
Ferreira foi escolhido como um dos 50 melhores professores do mundo pelo Global Teacher Prize. No próximo dia 21 de julho, o educador participa do Workshop Escolas Exponenciais, onde vai ministrar a palestra: “Como tornar o aluno protagonista do processo de aprendizagem”.
Em entrevista exclusiva ao Escolas Exponenciais, Ferreira falou sobre o evento, sobre seu projeto premiado e sobre a importância do protagonismo estudantil. Confira!
Escolas Exponenciais: Primeiramente, gostaria que você contasse um pouco sobre como surgiu a ideia de desenvolver o projeto que o levou a ser indicado ao Global Teacher Prize.
Jayse Ferreira: O projeto que venho desenvolvendo com a escola trabalha muito a questão do protagonismo. O prêmio Global Teacher Prize busca ideias inovadoras, que possam se replicar em qualquer parte do mundo.
Eu ouvi meus alunos e uma coisa que eles questionavam muito era que a escola não tinha muita ligação com a realidade deles, ou seja, os filmes, os jogos, as séries, o que eles gostam de consumir fora da escola, a escola não abordava.
Então, minha ideia foi juntar o querer do aluno com o que ele tinha que aprender. Como professor de artes, comecei a lecionar conteúdos que tinham a cara do que eles assistiam.
Por exemplo, se eu iria trabalhar cinema, comecei a abordar através dos filmes que eles estavam assistindo. Muitos dos temas eu tocava em séries e jogos.
Então, desenvolvi o projeto “Vamos encurtar essa história”, onde eu chamava os alunos a repensarem esses temas dentro dos conteúdos que eles tinham que estudar.
A ideia era chamar os alunos a repensarem finais de filmes e de séries, reescrevendo esses finais, trabalhando a escrita autoral junto com a sétima arte, que é cinema. Nós produzimos três curtas, em cima dessas releituras.
Como na minha cidade não tem cinema, acabei utilizando a própria comunidade, foi para o meio da rua para projetar para toda a comunidade ver o trabalho dos alunos.
EX: Por dois anos, você também ganhou o prêmio Professores do Brasil, com projetos que desenvolviam o protagonismo dos alunos. Como você vê a importância de as escolas desenvolverem projetos que impulsionam o protagonismo de crianças e adolescentes?
Jayse Ferreira: A escola não pode estar a par da vida do aluno. Toda vez que a gente só mira, só foca no conteúdo, e esquece que está lidando com pessoas, com angústias, dores e vontades, a gente erra.
Temos sempre que conciliar o que ele tem que aprender casado com a realidade dele. Essa é a importância de trabalhar o protagonismo, dando voz ao aluno.
Muita vezes os educadores ensinam da melhor maneira que eles acham que o aluno tem que aprender, mas esquecem de ouvir o aluno.
Gosto de fazer esse comparativo com o cardápio de um chef ou dono de um restaurante. Eu só posso servir o melhor prato se eu souber os seus gostos. Então, só posso ensinar da melhor maneira se eu conheço meu cliente, meu aluno.
Trabalhar o protagonismo é dar vez e voz ao aluno, para que ele aprenda da mais diversa forma possível. É interessante focar nisso também. Nem todo aluno aprende só escrevendo, só ouvindo. Há várias múltiplas maneiras de ensinar, porque temos múltiplos alunos com muitas diferenças.
Respeitar essa diferença, ouvi-los em primeiro lugar, é o papel chave da escola que vai fazer sucesso. A gente só chega longe se eu conheço, escuto e ando ao lado do meu aluno.
EX: Como a educação artística auxilia no desenvolvimento das competências e habilidades dos estudantes?
Jayse Ferreira: As competências e habilidades que você pode trabalhar nesta disciplina são infinitas. A arte é super interdisciplinar. Eu posso abordar temas como língua portuguesa, história, inglês, tudo isso casa e a arte põe isso em cena.
Trabalha muito bem o protagonismo, pois o aluno pode criar. Ou seja, a parte imagética. Ele faz os seus filmes, inventa seus desenhos, tudo isso ele põe no papel.
Isso é uma competência para o século 21, que vai requerer principalmente a criatividade. A gente precisa estimular em nossos alunos esse protagonismo, que é tão requerido no mercado de trabalho.
E a arte é uma disciplina que pode trabalhar isso diretamente. Juntando com outras disciplinas, fazendo o aluno a pensar várias saídas. A arte é uma das disciplinas mais importantes, que infelizmente, a gente sabe que não é tão valorizada.
EX: Para o futuro, qual seu maior sonho quando pensa na educação dos meninos e das meninas do nosso país?
Jayse Ferreira: Para o futuro, que eu espero que esteja muito próximo, o que eu desejo é uma escola diferenciada. Nós passamos por uma pandemia, estamos ainda vivendo resquícios dela, mas já demonstrou que a escola do passado não funciona.
Não é atrativa, o aluno realmente evade, é muito conteudista e valoriza pouco as competências que os alunos trazem da vida para escola.
Para o futuro, eu imagino uma escola criativa, inovadora, onde o aluno tenha vez e voz, se abra para ouvir o aluno e planejar conteúdos que ele acha interessante.
E, assim, seja uma escola literalmente democrática. E, principalmente, que a sociedade valorize os profissionais. No futuro, eu imagino uma escola onde os pais vão super valorizar o professor e o aluno vai me ver como aquela cara: ‘quero ser um professor’, que é alguém que é valorizado pela sociedade, bem remunerado.
É uma escola um pouco utópica, mas é essa escola que eu venho lutando. Onde tem aluno protagonista.
EX: Por fim, você vai participar de um workshop em Salvador, certo? Qual será o tema da sua palestra e quais as principais reflexões você deve levar aos participantes?
Jayse Ferreira: O nome da minha palestra é “Como tornar o aluno protagonista do processo de aprendizagem”. As principais contribuições que eu quero dar, são práticas. Professor quer saber como replicar isso em sala de aula e o protagonismo pode, sim, ser ensinado com ideias simples.
Vou demonstrar dois projetos que eu realizei, um deles o premiado, que me levou ao Global Teacher Prize, mostrando bem mão na massa, explicando como a gente faz, como escutar os alunos, como trazer a comunidade para colaborar, o que é fundamental. Não podemos esquecer que a escola existe dentro de um contexto, de uma comunidade, e é super importante que ela participe.
Quero convidar todo mundo para assistir e ver que dá para fazer uma educação diferenciada, respeitando o querer do aluno, chamando ele para pensar contigo e, assim, a gente vai ser uma escola que vai fazer a diferença na vida dele.
Workshop em Salvador
Para saber mais sobre o evento em que Jayse Ferreira vai mostrar a importância do aluno protagonista, confira essa matéria: Workshop revela tendências do mercado educacional de Salvador e saiba como participar. As inscrições estão abertas e podem ser feitas aqui.