Mais de 69 milhões de pessoas começaram o ano de 2023 com o nome restrito, segundo informações do Serasa. O número evidencia que são muitos os brasileiros que não têm um planejamento financeiro. E esse é um dos motivos para entender a importância da educação financeira nas escolas. Aproveite para conferir aqui como colocá-la em prática na sua instituição de ensino.
Com o intuito de se aprofundar ainda mais sobre esse tema, o Escolas Exponenciais conversou com Débora Hack Canabal, gerente de produtos e projetos da BEI Educação.
Durante a entrevista, a profissional fala a partir de quantos anos as escolas podem abordar a educação financeira em sala de aula e dá dicas de como fazer isso desde os alunos do ensino infantil até o ensino médio. Confira agora esse bate-papo!
Escolas Exponenciais: Qual a importância da educação financeira nas escolas?
Débora: Segundo a Serasa, 69,43 milhões de pessoas entraram 2023 com nome restrito. O endividamento dos brasileiros alcançou o maior nível histórico já registrado: 77,9% da população, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Entendemos que a pandemia contribuiu para potencializar estes resultados, pois neste período muitas pessoas perderam seus empregos ou seus empreendimentos (lojas, lanchonetes, etc).
Porém, em 2017 já fechamos o ano com 60,2 milhões de brasileiros negativados. Esses dados nos mostram que a maioria dos brasileiros não tem um planejamento financeiro, em muitos casos porque o apelo ao consumismo realizado pelos meios de comunicação é muito maior do que o incentivo à melhora da sua relação com o dinheiro.
Desta forma, entendemos que este é um tema que deve ser trabalhado na escola, estimulando os estudantes desde muito cedo à entender que é importante ter um planejamento financeiro não só nos momentos de tomar decisões importantes na vida (morar sozinho, casar-se, fazer um financiamento imobiliário, ter filhos, etc) mas também em seu dia a dia desenvolvendo comportamentos financeiros saudáveis como o consumo consciente.
EX: A partir de qual idade é possível começar a falar sobre educação financeira nas escolas?
Débora: Desde a educação infantil é possível conscientizar as crianças sobre o tema. Por exemplo, nesta etapa da educação básica (3 a 5 anos) é possível trabalhar com as crianças a importância de não fazer compras desnecessárias de novos brinquedos, mas sim trocar com os colegas e, assim, produzir menos lixo para o planeta (sem descartar brinquedos com perfeitas condições de uso).
Também pode ser estimulado nesta faixa etária a doação de brinquedos que não são mais utilizados pela criança, trazendo a consciência de não acumular objetos que não são utilizados em casa, além do exercício da empatia. O trabalho com essa faixa etária deve ser sempre concreto, pois é nessa idade que as crianças aprendem com as experiências proporcionadas a elas.
Já no ensino fundamental (anos iniciais – 6 a 10 anos) os estudantes estão aprendendo as 4 operações matemáticas. Desta forma, já podemos inserir contas simples para cálculos como o custo do mercado, de um passeio, de uma viagem. É muito importante que o professor conheça bem a sua turma, para que desta forma possa proporcionar experiências significativas.
Por exemplo, nesta etapa da educação básica o educador pode organizar um passeio ao mercado para entender os preços dos alimentos e a relação quantidade e preço dos produtos oferecidos ali. A comparação de preços entre mercados também é uma forma interessante de trabalhar ao mesmo tempo a educação financeira e os objetivos de aprendizagem de matemática, previstos na BNCC.
Nos anos finais do ensino fundamental (11 a 14 anos) já é possível trazer conceitos como orçamento, juros simples, juros compostos, inflação e poder de compra, pois as habilidades previstas na BNCC para esta etapa da educação básica permitem que os estudantes realizem cálculos mais complexos. Desta forma, os estudantes já podem fazer contas de compras parceladas com juros, cálculos de investimentos de renda fixa e também planejamentos financeiros para diversas situações e desta forma fazer melhores escolhas.
Já no Ensino Médio (15 a 17 anos) já é possível trazer temas como orçamento familiar, investimentos, financiamentos (com juros simples e compostos), formas de gerar renda, macroeconomia, microeconomia, lei da oferta e da demanda, consumo e consumismo. Nesta etapa da educação básica, podemos trabalhar com planilhas digitais utilizando fórmulas para cálculos com maior complexidade, presentes nas habilidades desenvolvidas na área de conhecimento de Matemática da BNCC.
Desta forma, temas como economia circular por exemplo são essenciais para trazer consciência aos estudantes sobre o desperdício. Um tema importante para trazer mais consciência em relação ao consumismo é a sustentabilidade, que possibilita a realização de projetos entre diferentes áreas do conhecimento, estimulando o protagonismo dos estudantes e a formação do cidadão mais consciente sobre suas ações relativas à proteção ambiental.
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EX: Como a educação financeira contribui para o consumo consciente?
Débora: Hoje em dia falamos muito sobre sustentabilidade e crise climática. Esses temas têm uma relação direta com a grande quantidade de lixo que produzimos diariamente, consequência do desperdício e do consumismo.
Quando trabalhamos a educação financeira na escola, nosso objetivo principal é a mudança de comportamento financeiro, e, consequentemente, a mudança de hábitos de consumo e o não desperdício. Desta forma, os estudantes começam a entender melhor os ciclos de produção de produtos e os princípios da economia circular, por exemplo e, a partir deste entendimento, é possível trazer mais consciência aos estudantes sobre seus hábitos de consumo.
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