4 min de leitura

Os ataques racistas sofridos pelo jogador de futebol brasileiro Vinícius Jr., infelizmente, são os capítulos mais recentes de uma longa série de violências sofridas por ele em partidas disputadas ao longo dos últimos meses, como já falamos por aqui. Para especialistas, apesar de a solução para crimes como esse estar longe de ser simples, o combate ao racismo passa, necessariamente, pela escola.

Para a coordenadora do ErêYá – Grupo de Estudos em Educação para as Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lucimar Rosa Dias, “nós estamos vivendo um momento em que, além das pessoas negras, outros indivíduos estão percebendo a importância de falar sobre racismo. Precisamos de uma Educação que respeite o ser humano na sua completude e o Brasil tem uma história de desrespeito à população negra e indígena”.

Dessa forma, a escola é o ambiente ideal para o combate ao racismo.

 

Dados para refletir sobre o combate ao racismo

Um levantamento realizado pelo Todos Pela Educação, em 2020, aponta que cerca de 74% dos jovens brancos concluíram o Ensino Médio com até 19 anos, enquanto apenas 53% dos jovens negros e 57% dos pardos finalizaram os seus estudos.

“O Brasil é, hoje, a maior nação negra fora da África. Portanto, esse percentual de pessoas que não concluem seus estudos básicos deveria ser algo chocante, pois naturaliza a estrutura de privilégios por conta da cor”, avalia o assessor de História da Aprende Brasil Educação, professor Altemir Schwarz.

Ele lembra que é importante repensar constantemente a sociedade e a cultura para que esses abismos possam ser transpostos, uma vez que o racismo se constitui em um sistema de opressão que nega direitos, entre eles a educação.

Lucimar explica que, na verdade, é necessário começar a falar sobre isso em casa, desde a primeira infância. “Esses processos acontecem no âmbito familiar, mas também nas instituições educacionais, porque as crianças hoje vão muito cedo para a escola e, se é uma criança negra, ela precisa ter um repertório para entender que vive em um país racista, mas também para entender que ela pode se considerar uma pessoa bonita, inteligente, que pode ser o que ela quiser, desde muito pequenina”, afirma.

Educação antirracista

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira tem 56% de negros, um percentual muito mais alto que o dos Estados Unidos, por exemplo, que é de apenas 13%. “Mesmo com a maior parte dos brasileiros se reconhecendo como negra, ainda há um enorme estigma ligado a essas pessoas. Mesmo quando o negro consegue alguma mobilidade social, que é o caso do Vini Jr., por exemplo, ainda há quem não o veja como merecedor dos espaços que ocupa”, destaca Schwarz.

Ele afirma, ainda, que um ambiente diverso, como é a escola, tem muito potencial para reduzir preconceitos, construir uma sociedade mais humanizada e praticar o combate ao racismo “Na escola temos, juntas, pessoas muito diferentes entre si. Então essa é uma ótima oportunidade para demonstrar que, apesar das diferenças, todos devem ser respeitados”, completa.

Nesse sentido, Lucimar lembra que uma educação antirracista é feita de bons exemplos. “Não adianta dizer a meu filho que ele não pode discriminar, se eu tratar pessoas negras como cidadãs de segunda categoria”, ressalta. É preciso, então, garantir que as crianças vejam – e não apenas ouçam – os adultos com quem convivem sendo antirracistas no dia a dia.

Ao mesmo tempo, as crianças também trazem questionamentos para a família sobre determinados valores. “A vida é feita de incoerências, mas a gente tem que perseguir essa coerência com a justiça social e com a solidariedade. O racismo opera nas relações, então eu preciso estar o tempo todo me olhando, me perguntando como mãe, como pai, como avô e também olhando e perguntando para esse meu filho o que ele está fazendo da sua vida em termos de constituição de humanidade”, finaliza.

Você pode gostar disso:

O que é necessário para construir uma escola antirracista?