Após denúncias de racismo, PUC-SP terá letramento racial obrigatório para professores
A PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) criou uma comissão para estruturar um curso de letramento racial obrigatório para professores. A demanda foi apresentada durante greve de estudantes no mês passado, deflagrada após denúncias de racismo.
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Em ato assinado nesta terça-feira (10), o reitor Vidal Serrano Nunes Júnior definiu um grupo de seis docentes para planejar, estruturar e acompanhar a criação e o início das atividades da disciplina.
A universidade diz que a ação considera “o compromisso institucional com a promoção dos direitos humanos, da equidade racial, da educação emancipadora e da formação cidadã”.
O início do curso, presencial, é previsto para agosto.
A comissão também está organizando um curso online de letramento racial, aberto e gratuito para todos.
Denúncias de injúria racial
A ocupação da PUC foi puxada pelo coletivo de alunos negros, o Saravá. Nela foram solicitadas ações concretas contra graduandos, professores e funcionários envolvidos em casos de preconceito. Outras demandas sociais surgiram, como a situação de bolsistas.
“Nos últimos anos, estudantes de toda a PUC-SP relataram diversos casos de abuso, assédio, preconceito e descaso presentes dentro de salas, corredores, eventos internos e externos da faculdade. E nestes anos, nunca tivemos uma devolutiva factual e efetiva da universidade, na verdade, tivemos cada vez mais repressão, perseguição e omissão”, afirmou o Saravá.
O coletivo recebe anonimamente histórias de estudantes discriminados.
Num dos relatos, ocorrido em meados de 2024, uma aluna — a única não branca da turma — afirma que uma professora, após perder o celular, a acusou de roubo e pediu para olhar a bolsa dela, justificando que o aparelho poderia ter deslizado para dentro dela.
A graduanda registrou um boletim de ocorrência por injúria racial e levou o caso à ouvidoria da universidade, que propôs uma conversa frente a frente para resolução do conflito. A denunciante recusou.
Na secretaria de educação do curso, ela diz que foi obrigada a repetir o enredo várias vezes para professores diferentes. Eles prometeram conversar com a colega envolvida. Dias depois, informaram que a aluna teria, de qualquer maneira, aula com aquela docente novamente. Ela seria a única com formação para dar a disciplina.
As opções apresentadas foram trancar a disciplina ou seguir em frente.
Devido a outras denúncias de injúria racial, a especialista foi removida da disciplina que ministrava, mas voltou à grade da denunciante, em outra aula. Todas as sextas-feiras, elas se encontram.
A estudante afirma ter recebido várias mensagens da docente no WhatsApp. A mulher diria que não era racista, que tinha amigos pretos e até já beijou pessoas pretas.
Segundo a jovem, a PUC foi procurada novamente e disse que a profissional não seria demitida por estar há mais de 40 anos na casa, tornando o desligamento muito caro.