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“A escola começa muito antes de uma sala de aula, ela começa com um diálogo, seja ele por meio digital, seja por papel […] Nós temos que pensar em práticas engajadoras não somente dentro da sala de aula, mas a escola precisa vivenciar isso”. 

A fala de Giordano Vasconcelos, professor de ciências e Supervisor educacional da Organização Educacional Farias Brito, é um convite aos gestores escolares – diretores, coordenadores e orientadores educacionais – para pensarem em práticas engajadoras e transformadoras, a partir da perspectiva da gestão 4.0.

Esse modelo de gestão, segundo ele, é fruto de mudanças globais e visa ressignificar valores e posições no processo pedagógico, levando em consideração principalmente dois fatores:

  • O usuário das ferramentas pedagógicas – o aluno e o professor;
  • O produto, no caso a escola. 

O supervisor da Farias Britas ainda traz como cerne da gestão 4.0 as conexões sociais, cuja necessidade ficou evidenciada na pandemia. “A pandemia veio como um catalisador para que muitas escolas literalmente virassem a chave do dia para a noite, e realmente começassem a pensar naquilo que eles já deveriam estar fazendo há muito tempo, você está se conectando ou você está se desconectando?”, questiona. 

Principais desafios

Para que o engajamento aconteça, é necessário que o gestor se conecte, primeiramente, com sua equipe com objetivo de despertar uma motivação intrínseca e replicada em sala de aula. Entretanto, Giordano já alerta sobre a existência de possíveis atritos na adoção de tais práticas, as principais são: 

  • Modelo de entrada na universidade;
  • Resistência social;
  • Resistência pedagógica
    • Formação;
    • Elaboração de práticas engajadoras.

Se tratando de resistência pedagógica, por exemplo, sabe-se que a maioria dos professores que hoje estão na sala de aula não tiveram um processo de formação acentuado ao longo da sua formação. E com a chegada da pandemia, eles literalmente precisaram adaptar seu modo de ensino da noite para o dia e elaborar práticas engajadoras, o que exige habilidades diferentes no ponto de vista de Giordano.

“É diferente de você ler um livro, por exemplo, saber o conhecimento e simplesmente colocar em um quadro, reproduzir aquilo que está na lousa. Educação não é isso.Elaborar práticas engajadoras desprende uma maior quantidade de energia, uma maior quantidade de tempo, você tem que pensar como você vai causar uma inquietude para ele poder pensar por ele mesmo e não você está pensando”.

Mas como já dito, a gestão 4.0 tem muito mais a ver com mudanças de perspectiva, ou seja, é um processo, e não existe um guia universal para se fazer essa transição. Em parceria com o supervisor do Farias Brito, trouxemos algumas dicas e exemplos para te ajudar a desenvolver suas próprias práticas engajadoras. Confira abaixo. 

Dica 1: conheça o seu usuário

Não é de hoje a narrativa de que o aluno precisa ser colocado no centro do processo de aprendizado, assumindo o papel de protagonista, como prevê a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Porém, o que Giordano tem observado ao longo da sua carreira como educador, é que muitas escolas ainda enxergam o professor como centro de conhecimento.

“A escola ainda traz uns resquícios de uma escola que ainda está presencial, uma escola onde o professor é o centro do domínio do conhecimento, se colocando na frente, com quadro, com pincel ou giz na mão, e os alunos são colocados em fileira para poder ouvir. Isso é uma mudança muito drástica de uma escola 2.0, 3.0 para a escola 4.0”, relata.

Assim, o primeiro passo para se construir práticas engajadoras é entender o contexto das pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizado. De um lado, os alunos nativos digitais; do outro, os professores que precisaram se reinventar com o ensino remoto emergencial. 

Porém, esse aluno que é um nativo, pode não ter o know how adequado para uma boa articulação no ambiente digital. Na análise de Giordano, as crianças e os jovens ao mesmo tempo que têm acesso ao Spotify, o WhatsApp, o Instagram, o TikTok, enfrentam questões como o isolamento e o luto, mas também precisam frequentar as aulas online, seja pelo Google Meet ou pelo Microsoft Teams, que ainda são encaradas como uma obrigação.

Ou seja, manter os alunos ativos e engajados hoje é o maior desafio dos professores. Esses profissionais, por sua vez, também precisam ser enxergados dentro desse novo processo de ensino-aprendizado instaurado com a pandemia. Cabe ao gestor a sensibilidade em entender que alguns professores em home office também possuem filhos em casa e precisam conciliar atividades profissionais e pessoais. 

Outro ponto de atenção, no que diz respeito aos professores, são as diferentes habilidades com ferramentas digitais. “Nessa mesma perspectiva nós temos os professores que acabaram passando dessa linha do giz e indo para uma perspectiva onde eles tiveram que começar a falar de banda larga, resolução de câmera digital, velocidade de internet, microfones, editar vídeos, gravar vídeos, ou seja, foi uma mudança muito grande”, pontua o  supervisor da Farias Britas. 

Dica 2: encontre produtos para os seus cliente

Uma vez entendido o contexto dos usuários das ferramentas pedagógicas – alunos e professores – o próximo passo é  fazer uma análise da própria escola. Isso inclui a comunicação interna e externa, os processos administrativos e até mesmo a conexão gerada – ou que precisa ser gerada – com a comunidade local e o nicho pedagógico que a escola atende.

“A escola começa muito antes de uma sala de aula, ela começa com um diálogo, seja ele por meio digital, seja por papel, na portaria, os zeladores, a coordenação, a supervisão, a direção, é como você apresenta a sua escola […] Nós temos que pensar em práticas engajadoras não somente dentro da sala de aula, mas a escola precisa vivenciar isso” argumenta Giordano. 

Ao se posicionar como usuário do produto, ou seja, da escola, é possível “ver com os olhos do cliente” e então desenhar as práticas engajadoras que devem envolver e conectar as várias pessoas que fazem parte da escola, desde os alunos até os zeladores.  

5 exemplos práticas engajadoras para se inspirar 

Com 18 escolas espalhadas no Ceará e com um índice de aprovação significativo nos principais exames e vestibulares, a Organização Educacional Farias Brito tem como missão a implementação de uma prática pedagógica que visa à aprendizagem significativa. O supervisor educacional da instituição compartilhou conosco algumas práticas bem-sucedidas que utilizadas durante o ensino remoto. 

Google Classroom – As vantagens dessa solução do Google para as escolas são inúmeras. No Farias Brito, como explica Giordano, além de ser utilizada no dia a dia com os alunos, os professores puderam utilizá-la para gerar conhecimento e trocas entre si. 

“Colocamos um card dentro do Google Classroom, onde estamos criando vídeos onde os professores estão colocando informações, mostra como fazer um formulário, como estruturar um Google Classroom, como organizar isso tudo para que os professores consigam ter ideias e eles mesmos conseguirem montar aquilo que é pertinente para eles”

Podcasts –  Já os podcasts foram utilizados nas escolas da rede, principalmente, para falar sobre temas relevantes dentro do contexto educacional. Giordano exemplifica como podem ser utilizados por outras escolas: “Você pode pegar um professor que é um bom articulador, junto com outros professores, até mesmo com convidados e cada um gravar uma parte do áudio e você compilar, editar e colocar para os alunos, até para poder aumentar o repertório deles”.

Lives no Instagram – Sucesso na pandemia, as lives geraram entretenimento e levaram informação para as pessoas que se mantiveram em isolamento. Algumas escolas também se apropriaram dessa rede social para gerar conhecimento, como foi o caso da Faria Brito.

“Nós fizemos uma live no Instagram, que entrou uma das meninas que foi aprovada no MIT, ela falando para os outros alunos, ou seja, colocando os alunos para falar com os outros alunos, utilizando a mesma linguagem […] isso inspira pessoas, eu acho que a escola tem que ser uma inspiradora de sonhos, uma motivadora de sonhos”, relembra o supervisor.

Padlet – Ainda pouco conhecido, o Padlet é um software que permite o compartilhamento dos murais de conteúdo (imagens, vídeos, texto, links, gravações) com outras pessoas. Para escolas, essa ferramenta pode ser utilizada por alunos e professores com objetivo de gerar engajamento e proporcionar diferentes experiências de aprendizagem, 

Desmos – com essa ferramenta, o aprendizado da matemática se torna mais fácil e divertido. Isso porque, por meio de um processo de gamificação, os alunos aprendem a calcular porcentagens, frações, funções exponenciais e logaritmos de forma interativa e online. 

 

Assista a palestra completa:

Gestão pedagógica: Experiências práticas para aplicar na sua escola