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A habilidade de contar histórias é uma tradição social que nos acompanha desde o tempo das cavernas. De lá para cá, centenas de milhares de histórias foram e são contadas todos os dias. Seja para fazer uma criança dormir ou para fechar um negócio bilionário, boas narrativas são poderosas armas de encantamento, comoção e convencimento.

A técnica que se vale de contar histórias para despertar identificação e destacar os valores de uma instituição já é muito utilizada por milhares de empresas para disseminar cultura, engajamento, valores e liderança dentro e fora das organizações. Até mesmo grandes marcas começaram a deixar para trás campanhas publicitárias milionárias e se focaram na própria história para despertar o desejo de compra dos consumidores. Mas, por que storytelling faz tanto sucesso?

Simples: porque um acontecimento bem contado é capaz de interagir diretamente com o emocional das pessoas e gerar empatia. Isso explica porque ficamos tão conectados a personagens e enredos do cinema, das novelas e séries, das peças de teatro, dos romances, dos contos da literatura do presente e do passado, já que a arte faz uso do storytelling com maestria!

Agora, se essa comoção acontece até com histórias de pessoas que não conhecemos, imagina o poder que essa técnica pode conferir às escolas que, com tantos acontecimentos diários, têm em suas mãos um material riquíssimo para transformar a comunicação tradicional entre diretores, pais e professores em um relacionamento mais próximo e afetivo? Por isso, não é à toa que muitos gestores escolares passaram a dar atenção e a estudar o uso do storytelling como estratégia de captação e retenção de alunos.  

 

Filme “Uma Escolha”: a realidade como inspiração

Em sua palestra sobre o poder do storytelling como ferramenta de educação e comunicação, realizada durante o “ClassUP – Escolas Exponenciais”, a cineasta inglesa, May Taherzadeh, diretora do Filme “Uma Escolha” (“Mercy’s Blessing”), contou sua trajetória para ilustrar o quanto o domínio das técnicas de narrativa pode, inclusive, transformar vidas.

 

O filme pode ser visto no site do VideoCamp.

 

No curta-metragem que escreveu e dirigiu, a cineasta retrata a educação de crianças no Malawi, na África, trazendo à luz o debate sobre igualdade de gênero e as escolhas possíveis no combate ao abandono escolar. O filme retrata a história de um casal de irmãos em pobreza extrema. Consciente das injustiças do contexto em que está inserido, o irmão mais velho tem o sonho de criar sua irmã de um jeito diferente. Ele luta para que ambos permaneçam na escola e um dia tenham a possibilidade de sair da condição em que a maioria da população local vive – especialmente, as mulheres.

De acordo com May, no Malawi, menos de 25% das meninas terminam a escola primária e apenas 3% dessas alunas concluem o ensino médio. Além disso, uma em cada duas garotas engravidam e se casam ainda na pré-adolescência, geralmente com homens que têm mais de 40 anos.

Foram essas trágicas estatísticas que levaram May a usar o seu trabalho como cineasta para abordar o tema, na intenção de inspirar pessoas de todo o mundo não apenas a se engajarem nas discussões que permeiam o filme, mas também a aprenderem a contar histórias.

 

As consequências do storytelling

Recomendado pela ONU e Unicef, o vídeo tem sido utilizado também como suporte de reflexão. De acordo com a cineasta, os temas em questão – privilégio, igualdade, sacrifício e responsabilidade – se conectaram com o público em todo o mundo. Além de ter sido premiado em 12 festivais de cinema ao redor do mundo, o filme é exibido por empresas e escolas de vários países para avançar nas discussões sobre direitos humanos.

May diz que embora o filme retrate uma história africana, ele traz temas universais de amor e sacrifício, esperança e desespero, que são comuns à sociedade como um todo. Nas palavras da cineasta, o filme inspira coragem para a mudança nas pessoas em todos os lugares, vivendo em diferentes circunstâncias.

Com o filme produzido, May retornou ao Malawi para exibi-lo à população local e se surpreendeu com a proporção das discussões sobre o curta-metragem. “Todo mundo tinha algo a dizer no fim da exibição. A evasão escolar ganhou destaque nos debates e nem era meu tema central. Quase todos os pais e mães prometeram que iriam se empenhar para que suas filhas não interrompessem os estudos”, diz.

Em outro país, o filme foi utilizado em uma escola para que os alunos fossem encorajados a produzir seus próprios vídeos, tomando como gancho a discussão do poder de escolha. Eles tiveram que entrevistar alunos que deixaram a escola e entender o motivo daquela decisão, e como isso influenciou no futuro de cada um.   

 

Como usar o storytelling na minha escola

À medida que evolui, toda organização acumula uma série de fatos e aprendizados associados à experiência adquirida. No caso das instituições de ensino, tanto a história de superação de um aluno, a conquista de um professor, a origem do nome da escola ou até mesmo o engajamento dos estudantes nas tarefas cotidianas ligadas ao propósito do colégio, por exemplo, podem ser um bons enredos para criar e compartilhar conteúdos estratégicos de forma mais leve e humanizada.

Em webinário promovido pela ClassApp sobre o tema, Flávio Azm Rassekh, consultor e estrategista de comunicação, destaca que para se ter boas histórias é preciso gerar oportunidades. E para que elas sejam reconhecidas é fundamental ter por perto pessoas com o olhar treinado nessa missão. Ou seja, orientar professores e funcionários e capacitá-los para narrar alguns desses momentos pode ser essencial para a escola suscitar boas histórias.

Se aquele colégio quer ser visto como uma referência na proteção ao meio ambiente, por exemplo, ele pode, de forma estratégica, treinar os docentes para fazer fotos, relatos ou até criar vídeos para os pais, periodicamente, mostrando as ações planejadas para reforçar esse valor. Ou seja, quando os estudantes estiverem engajados nas atividades na horta, no viveiros para animais, nas aulas de ecologia ou nos projetos de reciclagem, por exemplo, fazer um registro simples desses momentos e enviá-los aos pais pelo canal de comunicação oficial da escola, cria uma atmosfera para que as famílias sintam na prática, aquilo que o colégio cultiva internamente.

E o olhar atento ao cotidiano para inspirar histórias não precisa ser somente responsabilidade do corpo docente. Usar a criatividade para coletar depoimento de pais, alunos, ex-alunos e funcionários, por exemplo, também pode ser render materiais interessantes para contar histórias que reforçam a marca da escola.

 

storytelling na educação - como contar histórias