Aprendizagem centrada no aluno: o que é e como aplicá-la?
Quando gestores e professores resolvem adotar novas posturas, reconhecendo que todos os alunos podem contribuir para a sua própria educação, o estudante passa a fazer parte efetivamente do processo educativo. Essa é a premissa da aprendizagem centrada no aluno, que considera a criança como o protagonista do processo de aprendizagem, oferecendo condições para o crescimento pessoal, interpessoal e intergrupal.
“Esse método respeita a individualidade do estudante, suas necessidades e habilidades, e a partir daí constrói-se um caminho de aprendizado mais assertivo”, afirma a educadora Anne Taffin d’Heursel Baldisseri, que é Head of Primary Division na escola Avenues São Paulo, localizada na capital paulista.
De acordo com a profissional, na Avenues o professor em sala de aula é um mediador do processo criativo do aluno. A escola utiliza o PBL (Project Based Learning), sendo o aprendizado baseado em projetos. “Isso se traduz em aulas menos expositivas e mais dinâmicas e criativas para os estudantes, gerando um alto nível de engajamento e aprendizagem autêntica. O professor aponta para um problema a ser resolvido em classe e auxilia o processo de solução desse problema, porém nunca ofuscando o protagonismo do estudante em sala de aula”, pontua.
Para Anne, a aprendizagem baseada em projetos difere-se muito da aprendizagem e memorização mecânicas. “Projetos são motivadores, incríveis para aprender e praticar habilidades de leitura, escrita e matemática. As habilidades que os alunos desenvolvem neles se tornam parte de como abordam problemas, resultando em uma transferência significativa –– uma prática pedagógica eficaz”, ressalta.
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Quais impactos da aprendizagem centrada no aluno?
Segundo Anne Taffin d’Heursel Baldisseri, que é Head of Primary Division na escola Avenues São Paulo, para ensinar da forma que o cérebro aprende melhor, as experiências precisam ser ativas, interessantes, significativas, socialmente interativas e alegres.
“O despertar para o conhecimento pode vir de qualquer lugar ou coisa. A faísca do conhecimento é o que leva uma criança a querer saber mais e investigar mais. Quando alunos fazem projetos conectados ao mundo real e alinhados a seus interesses, eles aprendem mais conteúdos, pensam mais criticamente e aplicam aprendizados a contextos novos com mais confiança. Quando as crianças sentem que são independentes, competentes e pertencentes a um grupo que aprende e trabalha junto, ficam mais motivadas para brincar, explorar e aprender”, exemplifica.
Crianças que têm a oportunidade de vivenciar a vida estudantil sendo o centro do processo educativo, possuem mais facilidade na aprendizagem, absorvendo o ensino de maneira mais intensa, com compreensão mais empática do conteúdo, além de uma melhoria nas relações interpessoais.
“Os estudantes que participam desse tipo de formação se tornam cidadãos emocionalmente mais seguros e mais preparados para o mundo, pois estão acostumados a lidar com soluções de problemas de vários tipos e aprendem que pode haver muitas formas de resolver uma mesma questão ou problema. Os estudantes são formados para a autonomia de pensar, fazer conjecturas, errar, elaborar perguntas, criar e buscar respostas possíveis”, afirma.
Como colocar esse método em prática?
Primeiramente, os educadores precisam saber quem são seus alunos e alunas, entendendo melhor o perfil de cada estudante e, então, traçar quais são as condições que favorecem ou dificultam sua aprendizagem individual. “Há muitas maneiras de colocá-la em prática, mas a chave para se atingir bons resultados é um sistema de avaliação contínua do estudante e constante orientação, com um olhar atento ao seu desenvolvimento, dificuldades e conquistas”, pondera a educadora Anne Taffin d’Heursel Baldisseri.
A escola Avenues, onde Anne atua como Head of Primary Division, utiliza um planejamento educacional chamado Understanding by Design ou UbD. O modelo ajuda a esclarecer os objetivos de aprendizagem, elaborar avaliações que revelam a compreensão do aluno e criam atividades de aprendizagem eficazes. “A ideia-chave do UbD é que o objetivo principal da educação deve ser o desenvolvimento e o aprofundamento da compreensão do estudante, que é mais eficaz quando os alunos podem transferir o que aprenderam em uma área para o entendimento de outras áreas. Ao definir os resultados que eles desejam alcançar, os professores trabalham de trás para frente para desenvolver seu currículo a fim de alcançar esses objetivos”, afirma.
Para implementar a aprendizagem centrada no aluno, Anne indica investir em um bom programa de avaliação, que permitirá aos professores, gestores escolares e até mesmo aos próprios alunos analisarem como estão progredindo em relação aos objetivos propostos e o caminho que ainda precisam percorrer. “O currículo pode, então, ser ajustado para responder às necessidades dos alunos, melhorando e fortalecendo-o em muitas iterações”, orienta.
Manter o diálogo respeitoso e acolhedor com as famílias, em que possam ser apresentadas as habilidades e dificuldades, também é fundamental para colocar esse tipo de proposta em prática. “As avaliações dos alunos da Avenues são conduzidas pelos próprios alunos e apresentadas aos pais e mães duas vezes no ano, em um momento chamado Student-Led Conferences (reuniões de pais conduzidas por alunos). Nessas avaliações periódicas, os alunos identificam quais foram suas maiores conquistas e desafios durante o semestre, assim como pontos a serem melhorados. O aluno é o protagonista de todo o seu processo de aprendizado”, justifica.
A partir de qual etapa é possível aplicar a aprendizagem centrada no aluno?
As instituições de ensino podem (e devem) aplicar a aprendizagem centrada no aluno ainda na educação infantil. Na opinião da educadora Anne Taffin d’Heursel Baldisseri, é essencial pensar na criança como centro do processo educativo ainda quando pequena, pois elas têm motivação natural para explorar, descobrir e aprender. “As motivações são intrínsecas, profundas, significativas e envolventes para a criança. Como tal, a experiência é autêntica e muito poderosa”, explica.
Permitir o livre brincar é uma das formas de colocar a aprendizagem centrada no aluno em prática ainda na educação infantil, uma vez que é por meio da brincadeira que a criança aprende sobre si mesma e passa a compreender o mundo. “As situações de brincadeira fornecem um ambiente seguro para a solução de problemas, a tomada de riscos, a comunicação oral e a negociação, entre outros que podem apoiar matemática, ciências, linguagem, curso mundial e muitas outras disciplinas”, ressalta.
Na Avenues São Paulo, para aplicar a aprendizagem centrada nos alunos por meio da brincadeira e da exploração, os professores preparam o ambiente e lançam provocações que convocam as crianças a liderar, para estar no centro do processo de aprendizado. “Em seguida, os observamos, coletamos informações que são convertidas em novo material que usamos para reiniciar as atividades, a fim de ampliar a compreensão do conteúdo e criar novos conhecimentos”, exemplifica.
Fonte: Anne Taffin d’Heursel Baldisseri é Head of Primary Division na Avenues São Paulo. Possui mestrado e doutorado em Zoologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e atualmente faz parte de um grupo de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde finaliza seu pós-doutorado sobre bilinguismo, leitura e motivação. Anne realiza workshops e cursos em eventos nacionais e internacionais centrados na diferenciação pedagógica e na avaliação formativa, além de cursos a pais e professores a fim de construir uma cultura sustentável de alto desempenho. Antes de se juntar à Avenues, Anne foi Head of Pre-Preparatory na St. Paul’s School em São Paulo de 2007 a 2016.
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