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Em 2009, Brian Acton e Jan Koum estavam lançando o que seria o pesadelo de qualquer escola, o Whatsapp. Em 2011 esse pesadelo concretizou-se com a chegada dos temidos Grupos. 

Desde a criação dos grupos, eu fico imaginando quem foi a primeira mente que propôs o “Grupo da turma”. Um dia, após uma reunião de pais e professores, teve um estalo do nada e comentou com os outros presentes: “e se a gente criasse um grupo no Whatsapp para conversar sobre nossos filhos e filhas?”

Um voluntário arrancou a folha da agenda e foi passando de mão em mão, todo mundo foi colocando o nome, nome do filho e número do telefone com DDD – só para não errar. Em menos 5 minutos estava lá, grupo criado (já o trabalho que vai para casa para fazer junto à família passa 2 dias do prazo de devolução).

Acredito que a ideia se espalhou pelo Brasil feito sarna. Em menos de 1 semana todas as escolas do mundo já contavam com seus grupos de Whatsapp. Com regras específicas para não virar bagunça, esses espaços costumam sobrar chorume e faltar bom senso. Ali apenas reclama, mas pouco se resolve.

Não estou falando que este tipo de grupo não deva existir ou que é coisa de gente desocupada. Estou falando que é perigoso.

O grupo de Whatsapp da turma é um catalisador de problemas, aconteceu uma coisa na escola, a mãe foi buscar 17h30min, ficou sabendo 17h31min, 17h31min18s já está no grupo. E aumenta. Uma integrante do grupo que tem filhos em duas turmas, compartilha com outro grupo, aí o maternal fica sabendo do que aconteceu, de forma aumentada, na turma do quinto ano. 

Escândalo 

Fulano está batendo em ciclano e pegando o lanche dele. Vamos nos organizar para todas irem juntas à escola. É para ir em grupo hein. Em grupo todo mundo é corajoso. Chega o grupo na escola para resolver um problemão, que na verdade era um probleminha e que só envolve uma pessoa do grupo inteiro.

Aí a gente vê que há organização, mas falta estratégia, porque no final das contas, ninguém sabe o que está fazendo ali de fato, mas “querem o melhor para escola”. 

Acho ótimo, de verdade, que as salas tenham seus grupos de Whatsapp, funciona como um termômetro da escola, todo gestor precisa saber usar como ferramenta. Mas repito, é preciso cautela, são perigosos. 

Se a participação e empenho nos grupos do Whatsapp fossem proporcionais ao empenho em auxiliar o filho na escola, a vida ia ser muito mais leve. Se a frequência em postar comentários no grupo fosse a mesma nas reuniões com a escola, a molecada ia brilhar mais ainda.

Eu ainda acho que essa coisa de grupo de Whatsapp vai dar certo, um dia usaremos para o bem. Gosto de acreditar que um dia, assim como antes dos grupos da turma no Whatsapp, as pessoas terão consciência de que o problema da família X escola se resolve dentro da escola, junto à família envolvida. 

Para além disso, vamos conseguir separar melhor as coisas, deixar o Whatsapp da Coordenadora pedagógica em paz e utilizar as ferramentas que de fato são pensadas para comunicação escolar. O grupo pode ser um instrumento potente para as famílias, mas é ineficiente e, por vezes cruel, com a rotina escolar. 

Gosto muito de acreditar que ninguém expõe seu próprio filho ou filha em um grupo com semi-conhecidos apenas para “ver o que todo mundo acha”. 

Gosto de acreditar que ninguém precisa de validação da outra família, para tomar as decisões sobre seu próprio filho. 

E gosto muito de acreditar que um dia as famílias vão ficar menos tempo grudadas no Whatsapp falando sobre o filho das outras e da rotina da escola. E sim estarão brincando e estudando com o filho em casa, como deve ser. 

Colunista Rafael Mansur
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Rafael Mansur

Rafael Mansur (@rafasmansur)  é antes de tudo, um orgulhoso neto, filho e pai.

Pedagogo pela Universidade do Estado de Minas Gerais, com MBA em Gestão de Projetos pela USP, tem toda a formação focada na educação e no dia a dia escolar. É gestor educacional, atua também enquanto consultor de mais de 10 instituições de ensino. Foi curador da Bienal do Livro de Contagem, premiado por seus projetos em prêmios nacionais e reconhecimentos internacionais, tanto na área de cultura, quanto educação.