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A internet e as redes sociais nos permitiram ter nas mãos todo e qualquer tipo de informação, inclusive as enganosas e de má qualidade. Como preparar os estudantes para lidar com essa infinidade de conteúdos e ter uma visão crítica em relação ao que acessam? A resposta está na educação midiática.

O termo surgiu em 1960, nos Estados Unidos, quando a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) fez um alerta para os riscos que a sociedade corria com as manipulações políticas que ocorriam pelas mídias da época.

Segundo a entidade, a educação midiática tem como objetivo dar aos cidadãos as competências necessárias para buscar e usufruir plenamente um de seus principais direitos humanos: o direito à liberdade de expressão e opinião. 

 

Cidadania plena

Se antes da internet, a desinformação já era uma preocupação, com a chegada dela, o aumento da produção de conteúdos e informações trouxeram um risco ainda maior para que os cidadãos consigam exercer sua cidadania de forma plena. 

“A gente vive um ambiente informativo extremamente poluído, que nos traz riscos muito graves de cair em manipulação e golpes. Nós temos uma responsabilidade muito grande em preparar nossas crianças e jovens para lidar com esse excesso. E a única forma é dando ferramentas para que eles tenham uma visão crítica sobre tudo o que recebem”, diz Patrícia Bianco, presidente do Instituto Palavra Aberta.

O instituto atua com a produção de conteúdos e cursos de formação para preparar os professores para trabalhar a educação midiática em sala de aula. 

“O grande desafio da educação midiática é que os professores também têm dificuldade de lidar com esse excesso de conteúdo, também é uma situação com a qual estão se acostumando. Por isso, é importante que eles recebam esse apoio”, diz Patrícia.

 

O que é a educação midiática?

A educação midiática tem como objetivo desenvolver habilidades para identificar as informações de forma segura, ou seja, fazer com que os alunos sejam capazes de interpretar, pesquisar e produzir informações de forma responsável e reflexiva.

Um estudo feito pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostrou, por exemplo, que 67% dos estudantes brasileiros de 15 anos não conseguem diferenciar fatos de opiniões ao fazer a leitura de um texto.

“A educação midiática tem o papel de ensinar aos jovens como avaliar os elementos de uma informação, seja ela veiculada em meio impresso, de áudio ou vídeo. Com isso, ele vai ter condições de avaliar qual é o propósito daquela informação, qual era o intuito de quem a produziu: se era informar, opinar ou manipular”, explica Patrícia.

Para ela, o grande desafio é que, além de termos uma sociedade com dificuldade de separar fato de opinião, hoje temos muita dificuldade até mesmo de separar fatos de ficção. 

“Como a internet democratizou a produção de conteúdo, qualquer um pode produzir informações e muitas vezes o fazem para impor e defender suas convicções, usando até mesmo notícias e informações falsas. Vimos isso nas eleições e as consequências são muito graves”, diz. 

 

Educação midiática e democracia

Para os estudiosos da área, é apenas com uma educação midiática efetiva que as pessoas estarão aptas para exercer sua cidadania democrática. Por que é com ela que se aprende os limites da liberdade de opinião e expressão da vontade política, o acesso à informação e à liberdade de imprensa.

“Os jovens precisam aprender que eles têm direito à informação de qualidade, mas também que são responsáveis pelo que produzem, consomem e compartilham. Disseminar informações falsas não é um direito, diz Patrícia.

O intuito da educação midiática não é proibir as informações falsas de circularem, mas ensinar o conhecimento necessário para filtrar e interpretar qual a intenção desse conteúdo. O exercício da educação midiática começa pelo livre acesso à informação e a participação da população de forma responsável.

 

Como a educação midiática é tratada na BNCC?

O principal documento que norteia o que deve ser ensinado nas escolas brasileiras, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) não cita o termo educação midiática, mas aborda as competências trabalhadas por ela. 

Em ao menos cinco das dez competências gerais esperadas pela BNCC, as habilidades desenvolvidas com a educação midiática estão presentes: conhecimento, pensamento científico, crítico e criativo, repertório cultural, e comunicação e cultura digital. 

 

Como trabalhar a educação midiática na prática?

Ela não deve ser uma disciplina a ser trabalhada a parte por um professor em sala de aula, mas deve fazer parte dos currículos de todos os docentes, fazendo parte do conteúdo de todos os componentes escolares. 

Por exemplo, em uma aula de português, o professor pode pedir aos alunos para pesquisar uma notícia que circula em grupos de WhatsApp. Ele pode solicitar que identifiquem as informações principais e chequem a fonte, verifiquem a veracidade do que é comunicado.

Também pode pedir para que comparem os elementos daquele texto com o de outros formatos, como uma notícia de jornal ou um estudo científico. 

Também pode ser trabalhada em outras disciplinas, como em biologia, em professor peça para os alunos analisarem um boato ou mito que envolvam uma doença ou tratamento médico. 

“A educação midiática é a proteção necessária para um mundo informativo cada vez mais complexo e hostil. É com ela que vamos ter cidadãos mais críticos para combater e enfraquecer as notícias falsas e desinformação”, conclui Patrícia. 

 

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