Muitas crianças sentem dificuldade ao iniciar a vida estudantil, assim como para algumas é desafiador enfrentar uma transferência de instituição de ensino. E ainda há aquelas que a transição de uma etapa de ensino para a outra também não é uma tarefa fácil. Os motivos são diversos e, por isso mesmo, é importante enxergar a adaptação escolar como um processo que deve ser individualizado.
Ao notar que o aluno não está confortável no ambiente escolar nos primeiros dias de aula, o que dependendo da condução da situação pode levar até meses, gestores e educadores devem se atentar às necessidades individuais daquela criança. “É importante que nesse momento as ações não sejam padronizadas, cada criança tem necessidades e inseguranças diferentes. Em alguns casos, por exemplo, é importante que a mãe permaneça na escola na adaptação, em outros casos não é necessário ou talvez nem indicado. Assim, é importante estar atento às particularidades de cada caso”, recomenda a psicóloga Camila Ribeiro Lage.
De acordo com a psicóloga infantil Juliana Thomé, que é especialista em desenvolvimento infantil, é importante que esse processo seja feito por um profissional gentil, acolhedor e carinhoso, para tornar essa etapa mais leve e tranquila. “É importante se colocar no lugar da criança, que não tem nenhuma memória afetiva positiva daquele novo ambiente, entendendo que para ela construir boas memórias do espaço e vínculo com as pessoas, leva tempo”, ressalta.
A psicóloga e professora de educação infantil Veruska Azevedo de Lima Aires pontua ainda que é preciso um envolvimento da escola em conjunto com a família. “A escola, o educador, as auxiliares, as crianças e as famílias são os pilares para que a adaptação ocorra sem medos ou culpas. Portanto, a observância deve ocorrer de ambos os lados: gestores escolares e familiares”, completa.
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Os principais desafios da adaptação escolar
Para a psicóloga e professora de educação infantil Veruska Azevedo de Lima Aires, a falta de diálogo entre escola e família é um dos principais agentes de desgaste no processo de adaptação escolar. “Uma vez estabelecida a parceria entre a família e escola, a criança sente a segurança nos seus pais e a transfere para os seus educadores que a aguardam na escola”, afirma.
Já para a psicóloga Camila Ribeiro Lage, o maior desafio ocorre quando a escola padroniza o processo, com a expectativa de que todas as crianças se adaptem da mesma maneira e durante o mesmo período. “A criança que demora mais não deve ser considerada um problema, mas é importante notar a necessidade individual. A família também pode estar insegura, o que atrapalha no percurso de adaptação da criança. A escola deve entender as inseguranças da família para lidar da melhor forma”, destaca.
Compartilhando da mesma opinião, a psicóloga Juliana Thomé cita que a falta de acolhimento, empatia e paciência por parte dos professores para entender as individualidades de cada aluno, é uma barreira na adaptação. “Não permitir que um adulto referência para a criança participe da adaptação e não ter um ambiente atrativo, adequado para a infância, também pode ser um problema nessa fase”, ressalta.
Dicas para facilitar essa etapa
Mas, afinal, quais as melhores práticas para fazer uma adaptação escolar? Ao estruturar esse processo, a psicóloga e professora de educação infantil Veruska Azevedo de Lima Aires afirma que a escola deve deixar clara suas diretrizes, ser transparente nas propostas e nas regras estabelecidas para este processo. “Claro que pode e deve haver negociações de acordo com as necessidades de cada família, pois cada família é única. Mas ser flexível não é ser permissível. É importante tanto a família quanto a criança perceberem e se relacionarem com as regras para um convívio social dentro da escola e no ambiente familiar”, orienta.
Para a psicóloga infantil Juliana Thomé, permitir a participação dos pais durante as primeiras semanas de aula é uma estratégia que tem bons resultados e, aos poucos, a instituição pode ir reduzindo gradativamente a presença desse familiar conforme a criança demonstrar segurança nas pessoas e no novo ambiente.
Juliana ainda orienta aos gestores para permitirem a livre exploração do ambiente, prezar por brincadeiras para que a criança se familiarize com o espaço e evitar julgamentos. “Acolher qualquer tipo de emoção sem julgamento, tendo um olhar humano para um ser em formação que ainda está conhecendo o mundo e precisa de muito amor e carinho para estabelecer vínculos seguros com professores e cuidadores, que ainda lhe são desconhecidos”, explica.
Até onde vão as responsabilidades da escola?
A psicóloga Juliana Thomé acredita que a responsabilidade da escola é oferecer um espaço adequado à infância, com liberdade de exploração e movimento, além de ter profissionais capacitados, que entendam sobre desenvolvimento infantil, que respeitem a infância e saibam acolher as diferentes emoções que possam surgir durante essa etapa. “Passar a segurança aos pais, que ali a criança está sendo muito bem cuidada e amparada, portanto, irá construir lindas memórias de uma infância doce e respeitada”, reforça.
Para que a adaptação escolar aconteça de maneira tranquila, é dever da instituição de ensino elaborar estratégias de intervenção, para que o diálogo e o entendimento das necessidades da família e da criança tornem o momento menos penoso. “Infelizmente as escolas ainda se baseiam em ações coletivas e padronizadas. A partir do momento que as ações forem mais individualizadas, teremos um cenário de maior saúde mental na escola”, reflete a psicóloga Camila Ribeiro Lage.
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