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No mundo em que vivemos hoje, enfrentando tantos problemas, é normal que crianças e adolescentes enfrentem dificuldade de aprendizagem. Estudantes apresentam dificuldades momentâneas ou mais prolongadas na escola pelas razões mais diversas e precisamos estar muito atentos para driblar os obstáculos que aparecem pelo caminho. 

Conversamos com a pedagoga e psicopedagoga Melissa Lamego para entender melhor qual o papel do professor (e da família)  na superação da dificuldade de aprendizagem. Melissa faz acompanhamento individualizado de crianças, trabalha em um curso de formação de professores (Instituto de Educação Pró-Saber), além de realizar um trabalho inovador como coordenadora de um projeto socioeducativo na fazenda Vira-Mundo, em Petrópolis, região serrana do estado do Rio.

O que é a dificuldade de aprendizagem

A dificuldade de aprendizagem é quando um estudante enfrenta desafios para compreender o que é apresentado a ele. Segundo a pedagoga, é necessário uma investigação para entender as causas e conseguir vencer esse desafio.

“Eu não gosto de falar ‘problemas de aprendizagem’, prefiro falar em desafios. O problema parece ser algo irreversível e o desafio a gente precisa se debruçar sobre ele para vencê-lo, entendê-lo como uma oportunidade de aprendizado. Se hoje lidamos com novas formas de ensinar, precisamos lidar também com novas formas de avaliar e diagnosticar,” explica Melissa.

Separando transtorno aprendizagem de dificuldade de aprendizagem

Para falar sobre o assunto, é importante deixar claro, que existe uma grande diferença entre dificuldade de aprendizagem e transtorno de aprendizagem. Transtorno é algo que tem uma causa genética e/ou neurobiológica e os alunos devem aprender maneiras de driblar essas dificuldades ao longo de sua vida.

Alguns exemplos de transtorno de aprendizagem são: TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), TEA (Transtorno do Espectro Autista), TOD (Trastorno Opositor-Desafiador), Dislexia, Disortografía, Diosgrafia, Discalculia,… 

 

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as dificuldades de aprendizagem são mais pontuais, podendo ter, no entanto, causas internas ou externas. Existem dificuldades circunstanciais/ocasionais (como a pandemia), dificuldades pessoais (problemas em casa, separação de pais, doença …), dificuldades físicas…

São muitos os fatores que ajudam um aluno no processo de aprendizagem, e também são muitos os que desmotivam. Tristeza, medo, falta de atenção, preguiça, etc. Nem sempre é fácil identificar a causa da dificuldade de aprendizagem na escola. 

Como identificar um aluno com dificuldade de aprendizagem

Professores e pais devem estar sempre atentos para que a criança receba o diagnóstico correto e possa receber a ajuda adequada durante seu processo de aprendizagem, tanto dentro quanto fora da escola. 

É preciso ver se a criança não tem dificuldade para ver, ouvir e falar, se tem as necessidades básicas atendidas (sono, alimentação e etc), se enfrenta problemas pessoais, entre outros, – e, assim, aplicar diferentes estratégias de ensino. 

É importante lembrar que cada criança tem seu ritmo de desenvolvimento e que é muito importante respeitá-lo, adotando diferentes metodologias de ensino para diferentes dificuldades de aprendizagem. 

Sintomas da dificuldade de aprendizagem que devem ser observados por pais e professores

  • Falta de foco
  • Demora para realizar tarefas
  • Ansiedade
  • Dificuldade para realizar atividades sozinho/a
  • Dificuldade de entender as atividades propostas
  • Desinteresse pela escola no que se relaciona a atividades de aprendizagem
  • Esquivamento da hora de fazer lições
  • Desejo de não ir para a escola
  • Falta de comunicação sobre o que acontece na escola
  • Dificuldade para socializar com colegas
  • Falta de uma (ou mais) disciplina favorita
  • Irresponsabilidade
  • Agressividade
  • Introspecção em sala de aula e durante intervalos

Os efeitos da pandemia no processo de aprendizagem

“Pensando na pandemia e na consequente interrupção do ritmo normal das escolas, o que venho percebendo são movimentos muito diferentes. Existem crianças que enfrentam muitas dificuldades, mas existem outras que encontraram novas formas de aprender, de se comunicar, de sentir e de se relacionar com o próprio conhecimento. Crianças que desenvolveram outras habilidades e competências, lidando com as novas ferramentas de estudo com muita desenvoltura e tranquilidade”, a pedagoga.

Todas essas mudanças bruscas que aconteceram não foram totalmente negativas. Para ela, acelerar o uso da tecnologia nas escolas possibilitou grandes conquistas para muitas crianças.

Como os professores podem ajudar?

Melissa conta da importância de preparar as aulas para os alunos e para isso é preciso construir vínculos, conhecer e saber quais são as preferências da turma e também quais são as suas dificuldades. 

“Nesses meus 25 anos de profissão, o que eu mais valorizo é a oportunidade de construir vínculo com as crianças. Se eu tivesse que dar uma dica para vencer as dificuldades de aprendizagem e ensino, é: aposte no vínculo”. 

“O modelo de escola existente ainda é muito antiquado, muitas instituições ainda não apostam no trabalho em grupo e fazem muita aula expositiva. Claro que existem muitas pessoas tentando ser inovadoras e buscando novos caminhos,” explica Melissa.

“Cada aula precisa ser voltada para aquele aluno ou para aquele grupo. É preciso fazer planejamento, mas é essencial apostar no calor da relação, no olho no olho, na empatia, em se colocar no lugar da criança. Tudo deve ser reavaliado dia a dia e aprendemos isso na marra com a pandemia”, reforça.

4 formas de ajudar o aluno a superar os desafios da aprendizagem

  1. Conhecendo quais são as preferências e desafios de cada aluno
  2. Construindo projetos com os alunos, tornando-os protagonistas da aprendizagem
  3. Tendo empatia e se colocando no lugar da criança
  4. Realizando avaliações periódicas para saber quando é hora de mudar a abordagem 

Ferramentas essenciais para superar os desafios da aprendizagem em sala de aula

Para Melissa, duas ferramentas são fundamentais para alunos com dificuldades: “Eu não abro mão de arte e literatura em minhas aulas e estas hoje são aliadas ainda mais fortes da educação.”

 

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Alunos com dificuldade de aprendizagem: como a família pode ajudar?

Outro ponto a ser destacado é a importância de uma boa relação entre a escola e a família. “A parceria escola-família é essencial, a família tem que comprar a ideia da escola e a escola tem que abraçar a família, com suas características, sintomas, … É preciso haver uma relação de confiança. Eu vejo muitos casos de pais que falam mal da escola na frente das crianças. Isso é um erro grave nessa relação de parceria. Não tem como a criança acreditar na escola, se dedicar aos estudos, se a mãe e o pai não acreditam.”

Dicas para lidar com crianças com dificuldade de aprendizagem

  • Personalização do ensino
  • Realizar atividades dinâmicas
  • Cativar alunos
  •  Dar liberdade para que os alunos se expressem
  •  Incentivar os alunos a terem autocontrole de emoções
  • Desenvolver sua autoestima
  • Ensinar a lidar com conflitos
  • Ajudá-lo a se relacionar com os outros
  • Envolver a família no processo de aprendizagem
  • Organizar a rotina de estudo
  • Organizar o ambiente de estudo 
  • Envolver um psicólogo no caso de um problema com origem emocional
  • Envolver um psicopedagogo no caso de uma dificuldade cognitiva
  • Reforço escolar – escolas adotam como estratégia pedagógica o desenvolvimento de um método de estudo individual. Excelentes resultados, inclusive de crianças com dificuldade de aprendizagem de nível neurológico.

A especialista termina chamando a atenção para a importância de se valorizar a vida de cada aluno. “Nunca foi tão importante o conteúdo do sujeito, a vida de cada um, as percepções e sentimentos, como lidamos com as dificuldades. É preciso transformar isso em uma oportunidade de reflexão. É fundamental ter foco na casa das crianças. Por exemplo, fazê-las ver o que há de belo dentro da casa, fazê-los escutar os sons de sua casa, valorizar os jogos com os pais, fazer da casa uma oportunidade de construção de conhecimento. Não existe criança que não quer aprender.

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