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A Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE) afirma que é preciso debater a proliferação de discursos fascistas e de ódio para conter a violência que chega às escolas. Desde 2002, foram registrados 22 ataques em escolas no Brasil, como adiantamos por aqui, sendo que nove deles ocorreram entre o segundo semestre do ano passado e março deste ano, aponta pesquisa do IdEA (Instituto de Estudos Avançados) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ainda em andamento.

O estudo é fruto de uma pesquisa de mestrado da advogada Cleo Garcia, especialista em Justiça Restaurativa e mestranda da Faculdade de Educação da Unicamp. Ela é orientada pela professora Telma Vinha, coordenadora do Grupo “Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública” do IdEA. Ambas são integrantes do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral) Unesp/Unicamp.

De acordo com Cleo, apesar dos discursos de ódio sempre terem existido, atualmente, eles se amplificaram através das redes sociais. “E por discursos de ódio entendemos um conjunto de ações que contenham intolerância direcionadas a grupos, em sua maioria, composto pelas minorias sociais – mulheres, LGBTs [Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgênero], pessoas obesas, imigrantes, entre outros”, esclarece.

Por outro lado, afirma, estamos falando de um público vulnerável e em desenvolvimento, que é o adolescente. “Para aqueles que já se encontram em uma situação de sofrimento – bullying, exclusão, violência doméstica, episódios de humilhação, baixa autoestima, etc -, o mundo das teorias da conspiração on-line e grupos de ódio podem se tornar ainda mais atraentes”, comenta. 

Segundo a advogada, existem depoimentos de ex-extremistas que afirmam que esses grupos se tornaram uma família para eles, combatendo a solidão, exclusão e isolamento. Somado a isso, a falta de regulação das redes sociais e responsabilidade sobre os conteúdos, resulta em um cenário perfeito para uma escalada de violências, enfatiza a mestranda em Educação. 

“Postagens de ameaças e exibição de conteúdos altamente perigosos como incitação ao crime, tutoriais de como construir bombas caseiras, como utilizar uma arma de fogo e como se cortar, são veiculados livremente nas redes sociais”, alerta.

Cleo ressalta ainda que esses ataques em escolas são gerados por inspiração e imitação. Ou seja, aquele adolescente que se encontra numa situação de sofrimento e vulnerável, percebe que esse tipo de evento torna os autores “lendários”. E em meio ao “caos” que se encontra em sua vida, tem a fantasia de que aquilo pode também lhe trazer um reconhecimento e um momento de glória.

Aproveite para conferir uma entrevista com um especialista e saiba como tentar evitar novos ataques em escolas.

Ataques em escolas: como agir no combate ao discurso de ódio?

As escolas precisam ter medidas educativas que buscam mostrar e ensinar quais são os direitos individuais e coletivos, o que é liberdade de expressão, quais atitudes tomar na ocorrência de um discurso de ódio e estimular os alunos para que as redes sociais sejam lugar de liberdade e diversidade com respeito às diferenças. 

Cleo também defende a implantação de políticas públicas específicas para esse tipo de situação, uma vez que envolve muitas áreas, que necessitam estar integradas num protocolo único de prevenção, atendimento e tratamento, como educação, saúde e assistência social. “A escola sozinha, não dará conta”.

A advogada e mestranda em Educação também pontua que escola e família necessitam de toda rede de apoio em uma situação de ataque. Esse apoio é preciso para que ambas tenham acolhimento e acompanhamento tanto social, quanto de saúde mental.

“Podemos observar que por esses eventos, decorrem questões mais amplas da sociedade como a própria desigualdade social, o desemprego e a fome. Lembrando que as redes também necessitam de capacitação específica, principalmente, para um tratamento mais humanizado, priorizando a compaixão e empatia. E isso hoje, praticamente não existe”, lamenta.

Os associados do Escolas Exponenciais têm acesso a uma trilha de conteúdos sobre educação socioemocional, o que pode ajudar a impulsionar sua instituição de ensino.

 

E quando os ataques acontecem, o que a escola pode fazer?

Doutora em Educação pela Unicamp e pesquisadora do Gepem, Flávia Vivaldi defende que as instituições de ensino abram círculos de diálogos para conversar sobre esses ataques em escolas e saber o que os estudantes pensam a respeito. 

“E sobretudo, abrir um debate sobre a importância de não se brincar com esse tema, porque isso é muito grave, pode ser um gatilho para pessoas que são predispostas a essa postura de violência”, afirma.

Para a comunidade escolar, Flávia sugere lidar com a situação acolhendo a angústia de todos, abrir diálogo sobre as razões dos ataques. “Isso, efetivamente, abrirá espaço para se falar sobre a convivência na escola, sobre os sentimentos de pertencimento, é um bom caminho”.

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