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O Dia Nacional da Alfabetização é comemorado anualmente em 14 de novembro. A data tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância de melhores condições de ensino e aprendizagem no país. 

E para celebrar o dia, o Escolas Exponenciais mostra como a instituição de ensino, em parceria com os professores, pode propor práticas que deem um olhar mais atencioso na alfabetização de crianças com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).

Vale lembrar que o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado pela presença de desatenção, hiperatividade e impulsividade e afeta aproximadamente 5% da população. A idade média do diagnóstico varia bastante em função do país e de características da família. 

Um estudo da Inglaterra, por exemplo, mostrou que a idade média de diagnóstico era de 10 anos e meio. Em outra pesquisa, nos Estados Unidos, a idade média de diagnóstico foi de 6 anos (sendo que, para as crianças com sintomas leves, a idade foi maior, de 7 anos). Há dados também de que a idade de diagnóstico é maior entre famílias com muitos filhos e em famílias com maior diferença de idade entre os pais e os filhos.

“Crianças com TDAH geralmente enfrentam maiores desafios acadêmicos em comparação com seus pares, o que pode levar a dificuldades na vida adulta. Nesse sentido, é vital que as razões desses desafios sejam compreendidas para facilitar o desenvolvimento de intervenções educacionais eficazes”, afirmam as professoras Alessandra Gotuzo Seabra, da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Izabel Hazin, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 

Ambas integram o GT (Grupo de Trabalho) de Neuropsicologia da Anpepp (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia).

 

Dia Nacional da Alfabetização: os principais desafios para os alunos com TDAH

Segundo as docentes, estudos mostram que muitas crianças com TDAH têm dificuldades em matemática e na alfabetização. Porém, o desempenho nestes dois domínios se dá de modo distinto. O desempenho em matemática tem se mostrado mais variável ao longo do tempo, com o desenvolvimento de algumas crianças permanecendo estável e outras melhorando ou piorando.

Já o desempenho em leitura geralmente se mantém estável ao longo do tempo. “Isso significa que crianças cuja alfabetização se apresenta fragilizada podem ter dificuldades para superar os obstáculos sem qualquer intervenção”, explicam. 

Independentemente do diagnóstico, afirmam Izabel e Alessandra, o funcionamento neuropsicológico de crianças com esse transtorno pode ter repercussões sobre a alfabetização. Isso porque, explicam, apesar do TDAH não ser um transtorno de aprendizagem, alguns dos prejuízos podem dificultar a alfabetização e, de forma mais geral, a escolarização. 

De acordo com as professoras, uma criança, por exemplo, com dificuldades para manter o foco pode não conseguir prestar atenção ao que a professora está ensinando em aula, pode não conseguir sustentar a atenção por muito tempo durante a aula e também durante a execução das tarefas em casa, pode cometer erros por descuido nos seus afazeres, pode pular linhas na leitura, e tudo isso poderá levar a uma menor apreensão do conteúdo em relação aos seus colegas. 

Caso a criança apresente sinais de hiperatividade, ela poderá levantar-se da cadeira com mais frequência, o que também dificultará prestar atenção às atividades na escola ou em casa; poderá falar em demasia, o que, além de dificultar a atenção ao conteúdo, poderá levar a uma percepção negativa, por parte dos professores e dos colegas, o que pode gerar discriminação, isolamento social, dentre outras consequências. 

 

Vemos, portanto, que apesar do TDAH não comprometer diretamente a aprendizagem e a alfabetização, seus sintomas podem dificultá-la consideravelmente”, destacam.

 

Como a escola deve agir

Pedagoga com experiência em educação infantil, fundamental e EJA (Educação de Jovens e Adultos), Ana Cristina Gazotto afirma que, hoje, temos conhecimento suficiente para saber que estudantes que apresentam comportamentos como falta de atenção, desinteresse, hiperatividade, impulsividade e dificuldade de relacionamento com os colegas, podem ser portadores de TDAH.

De acordo com Ana Cristina, cabe à escola ter uma conversa com os pais no sentido de orientá-los para que procurem um médico especialista que realize o diagnóstico, pois somente o profissional é capacitado para indicar o tratamento com terapia ou medicação em alguns casos. 

“Diante do resultado positivo, a escola precisa iniciar um trabalho diferenciado com essa criança usando diferentes estratégias pedagógicas para auxiliá-la em seu aprendizado”, destaca a pedagoga, pós-graduada em Psicopedagogia, Gestão Escolar e Direito Educacional.

Ana Cristina enfatiza que os estudantes com TDAH são muito inteligentes e têm potencial para se alfabetizar, desde que recebam atenção necessária para desenvolver-se. “Uma criança com TDAH pensa muito e muito rápido. Ela pensa em muitas coisas ao mesmo tempo, e não o contrário como algumas pessoas acreditam”.

Um outro aspecto considerado importante pelas professoras Izabel e Alessandra é a oferta aos docentes de formação sobre o TDAH. De acordo com elas, na ausência deste conhecimento estigmas são produzidos e essas crianças tendem a ser rotuladas de descuidadas e mal-educadas. 

“Essas percepções negativas podem ter um impacto significativo no bem-estar destes estudantes. Por sua vez, evidências apontam que professores com maior conhecimento sobre o TDAH desenvolvem atitudes mais positivas em relação a crianças com o transtorno em comparação com aqueles com pouco conhecimento”, enfatizam.

Por isso, em datas como o Dia Nacional da Alfabetização, é fundamental ampliar as discussões sobre o processo de aprendizagem das crianças diagnosticadas com TDAH.

 

Dia Nacional da Alfabetização: atividades para crianças com TDAH

Atualmente coordenadora pedagógica e formadora de professores em uma escola da rede pública municipal de Mogi Mirim, Ana Cristina afirma que a escola deve conduzir o processo de alfabetização de alunos com TDAH em parceria com a família, estabelecendo o que compete a cada uma das partes.

“Os professores e pais que me procuram, sempre têm a mesma reclamação: que a criança é tão esperta para algumas atividades, mas não tem foco para leitura e escrita. Por isso, o desafio é organizar propostas de alfabetização, nas quais a leitura e a escrita tenham sentido para os estudantes, a fim de que eles queiram aprender”.

Neste Dia Nacional da Alfabetização, confira algumas dicas listadas pela pedagoga que podem contribuir com a aprendizagem das crianças:

– Variar a rotina, pois estudantes com TDAH tendem a se dispersar e se entediar muito rápido.

– Passar uma instrução por vez, com menções diretas e se for preciso repetir várias vezes até ter a certeza de que a criança compreendeu o que é para ser feito.

– Utilizar coisas do dia a dia para estimular a aprendizagem, demonstrando que será útil aquilo que ela precisa aprender.

– Colocar a criança sempre do lado da professora, nunca numa carteira próxima à janela, à porta, ou no fundo da sala para evitar distrações.

– Combinar com a família para que envie na mochila somente o material necessário para o dia e sempre com identificação, pois as crianças se distraem facilmente, não se organizam, estragam e perdem com frequência quando os pertences são muitos e variados com estímulos de personagens.

– Estabelecer uma rotina diária e registrar em lugar visível para que a criança possa se organizar e retomar quando for necessário.

– Evitar atividades cansativas que demandem um tempo muito grande. Nada de ficar muito tempo parado, precisa se movimentar, ir ao banheiro, beber água.

– Os pequenos gostam de ser ajudante da professora, auxiliando em algumas tarefas como apagar a lousa, distribuir material, dar recados, etc.

– Usar o primeiro momento antes do recreio para tarefas que exijam maior concentração.

– Aplicar sempre o reforço positivo.

– Não é recomendado passar muitas atividades de uma vez e sim uma de cada vez.

– Tarefas de raciocínio, como palavras cruzadas, jogos de cartas, memória, quebra-cabeças, letras móveis, livros de história são muito bem-vindas pelas crianças.

 

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