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Garantir o direito de todos à educação. Essa é a premissa da educação inclusiva, que propõe igualdade de oportunidades e a valorização das diferenças. Seu principal objetivo é assegurar o acesso, a participação e a aprendizagem de todos os indivíduos, sem qualquer exceção. 

“Educação inclusiva é uma modalidade de ensino que permite a convivência e a integração das pessoas com deficiência dentro da escola regular garantindo a todos o direito à escolarização. A premissa básica da educação inclusiva é o respeito à diversidade. Sabemos que todos as pessoas são diferentes, têm suas habilidades e suas dificuldades, e por isso devemos ter um olhar individualizado para cada uma, respeitando suas especificidades”, pontua a pedagoga Cinthia Salheb, que é especialista em psicopedagogia clínica e educação especial.


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A história da Educação Inclusiva

Essa visão de ensino contemporânea teve início em 2008, a partir da implementação da “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, que determinou que todos os alunos com necessidades educacionais especiais deveriam ser matriculados em turmas regulares.

Antes disso, existiam as chamadas ‘escolas especiais’, onde os profissionais da educação ficavam mais limitados a atuar a partir do laudo médico. “Esse modelo mudou, é recente que passamos a falar em inclusão e o modelo biopsicossocial, que não é voltado em limitações, mas no que a pessoa com deficiência pode fazer a aprender. Antes, presas em diagnósticos, as pessoas ficavam segregadas em espaços reservados para a pessoa com deficiência, que eram as escolas especiais.  E, ali, não se desenvolviam da maneira como podem se desenvolver. A educação inclusiva tirou as pessoas desses lugares e trouxe para a escola regular”, esclarece Luis Fernando Koptchinski Bokor, especialista em Deficiência Intelectual e Metodologia do Emprego Apoiado Profissional de Tecnologia.

Além de ser importante para o desenvolvimento socioemocional e psicológico, a educação inclusiva promove a escolarização de maneira efetiva e possibilita a formação de cidadãos autônomos.

A importância do ensino de libras

Agora que você já sabe o que é educação inclusiva e qual a relevância da inclusão social na escola, é necessário compreender a importância do ensino de libras, inclusive para alunos sem deficiência auditiva. 

Enquanto muitos acreditam que trata-se de uma comunicação com gestos e mímicas entre pessoas com deficiência auditiva, Libras (Língua Brasileira de Sinais) possui estrutura gramatical própria. Cada palavra é representada por um sinal, chamado de gestual-visual, sendo que as mãos são as responsáveis por emitir a comunicação e o receptor são os olhos.

Comumente direcionadas para pessoas surdas, o ensino de Libras é fundamental para o desenvolvimento emocional, intelectual e social, e os educadores afirmam que seu aprendizado deve ocorrer ainda no ensino infantil. Brincadeiras e jogos lúdicos são bons aliados para ensinar a linguagem de sinais aos pequenos. 

Segundo a pedagoga Eliana Rabelo de Araujo Bozio, que é especialista em Psicopedagogia, Neuroaprendizagem e Psicomotricidade, além de professora em cursos de pós-graduação, formação de professores e coordenadora educacional, pesquisadores observaram que a língua de sinais contribui para o desenvolvimento cognitivo e para a melhora das habilidades de atenção, discriminação visual e memória espacial das crianças com deficiência auditiva.

 

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Para uma melhor interação de todos os alunos no âmbito escolar, é interessante que os estudantes ouvintes também aprendam Libras. “A partir do momento que a relação entre ouvinte e não ouvinte se estabelece através da linguagem de libras, a comunicação se amplia. Do ponto de vista pedagógico, esses alunos poderão aprender um com o outro, trabalhar em duplas e participar de debates. Mas também pode surgir grandes amizades”, ressalta o especialista em Deficiência Intelectual Luis Fernando Koptchinski Bokor.

Entretanto, a educadora Janine Rodrigues, que também é escritora de literatura infantojuvenil e fundadora da Piraporiando (uma empresa de arte-educação), acredita que é preciso refletir sobre a formação do professor. “Ninguém dá o que não tem. Então, precisamos pensar na qualidade do ensino que este educador está recebendo. Ele também tem direito a educação de qualidade. E, depois, precisamos pensar que o ideal para uma sociedade justa é que todos tenham possibilidades de se comunicar, de ir e vir, de ser respeitado. Não é um favor ou algo para estampar no site da instituição porque é bonito. É um dever”, analisa.

A importância do ensino de braile

Por sua vez, o ensino de braile também é fundamental para promover a inclusão social na escola. Trata-se de um processo de escrita e leitura, que é baseado em 64 símbolos em relevo. Pode ser representado por letras, algarismo e sinais de pontuação. 

Costuma ser destinado para pessoas cegas ou com baixa visão e, assim como a Libras, também pode ser ensinado a partir da educação infantil. É fundamental que as crianças com deficiência visual aprendam braile para que possam desenvolver a leitura e a escrita, possibilitando assim seu conhecimento de mundo e favorecendo sua inclusão na sociedade. 

Aos pequenos com cegueira, os estudiosos da área indicam o contato com objetos de diferentes formas, tamanhos, pesos e texturas, além de tatear desenhos com representações em relevo, como figuras, gráficos e mapas.

Esses exercícios são importantes para que as crianças adquiram refinamento tátil, essencial para reconhecer e ler os caracteres que formam as letras no sistema braile. Livros infantis com desenhos em relevos também são indicados, assim como a máquina de datilografia em braile, que pode ser usada tanto nas escolas quanto nas casas das crianças.

Para que a inclusão social na escola realmente ocorra, também é recomendado ensinar o sistema braile aos alunos que enxergam. “Existe pouca coisa na literatura a respeito do ensino do braile para os videntes, mas vejo que muitos professores itinerantes (que acompanham os alunos na escola regular) são orientados a estimularem os colegas de turma (que enxergam) a aprenderem o braile, disponibilizando, inclusive, o alfabeto braile para todos. Isso faz com que os videntes possam ajudar os deficientes visuais e os mesmos se sentem mais estimulados ao aprendizado”, afirma a pedagoga Cinthia Salheb, especialista em psicopedagogia clínica e educação especial.

Garanta a educação inclusiva na sua escola

De acordo com a profissional, para que a inclusão escolar aconteça de maneira eficiente, é primordial que a escola se adapte ao aluno com necessidades especiais, e não o contrário. “É essencial também que o professor, que é considerado o agente determinante da transformação da escola, seja preparado adequadamente para gerenciar o acesso às informações e conhecimentos por parte dos alunos. A escola deve garantir não só o acesso ao ambiente escolar, mas também a participação e os recursos necessários para o desenvolvimento de sua aprendizagem e autonomia”, destaca.

Entre os recursos que devem ser disponibilizados na educação inclusiva, a profissional lista os jogos didáticos e atividades lúdicas. “Além disso, sempre que possível indicamos que os educadores trabalhem atividades que envolvam toda a turma para que o aluno possa ser incluído naturalmente”, recomenda.

Dicas para os educadores promoverem uma educação inclusiva de forma eficaz.

Parceria com os pais

Cinthia ainda destaca a importância de conhecer o estudante em sua totalidade, assim como os profissionais que o atendem fora da escola, além de manter um contato próximo e contante com a família. “A sincronia de todos os participantes do processo é essencial para o desenvolvimento de qualquer aluno”, justifica.

Nesse sentido, a pedagoga Eliana Rabelo de Araujo Bozio, que é especialista em psicopedagogia, neuroaprendizagem e psicomotricidade, ressalta que a equipe de coordenação, ou serviço de psicologia e/ou orientação educacional deve realizar uma entrevista com os pais e/ou responsáveis para conhecer o histórico de vida do aluno e saber quais as reais necessidades da criança.

“Juntos, é preciso analisar, por exemplo, o ambiente físico e se há alterações a serem realizadas a curto, médio ou a longo prazo. Por exemplo: se há necessidade de rampas, de ampliar portas ou a aquisição/confecção de algum equipamento de apoio diferenciado. Os pais precisam ver o que é possível para a escola. É menos desgastante para um aluno cadeirante, por exemplo, usar uma sala no pátio inferior, onde as aulas e atividades acontecem neste espaço. Muitas vezes, é necessário mudar uma sala inteira com móveis, cadeiras, materiais e equipamentos de piso para que o aluno tenha maior mobilidade e autonomia”, explica.

Para Luis Fernando Koptchinski Bokor, especialista em Deficiência Intelectual e Metodologia do Emprego Apoiado Profissional de Tecnologia, também é imprescindível que os educadores tenham capacitação para lidar com pessoas com deficiência. “A direção ou a secretaria de Educação devem oferecer planos de educação e capacitação contínua para que se possa atender de fato e garantir o aprendizado e o desenvolvimento dos alunos com deficiência”, explica.

Ele ainda enfatiza que o corpo docente deve cobrar quando a instituição não fornecer esse apoio, uma vez que é fundamental para desenvolver um bom trabalho com os alunos.

Quando o assunto é educação inclusiva, a comunicação com os pais é de extrema importância para o melhor atendimento e integração dos alunos nas atividades escolares.

Veja aqui como é possível estreitar a comunicação dos pais com a escola.