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Juntar, inserir, fazer parte de um mesmo grupo. Educação inclusiva é um modelo de ensino contemporâneo que propõe igualdade nas possibilidades de escolarização. 

O objetivo é que, por meio dela, todos os estudantes – crianças, adolescentes e até alunos do ensino superior – tenham direito à educação em um só ambiente.

No entanto, trata-se ainda de um desafio para muitas escolas. Por isso, o Escolas Exponenciais conversou com profissionais de duas instituições de ensino referência no assunto. 

Com ajuda delas, reunimos algumas orientações para os gestores que buscam melhorar sua estrutura, capacitar a equipe pedagógica e fazer da educação inclusiva um modelo de verdade.

Diretora conta como implementar a educação inclusiva

Fundadas há 23 anos na Zona Oeste de São Paulo, as escolas de educação infantil Espaço Lúdico e Espaço Pensar tornaram-se referência neste modelo de ensino. 

Mantenedora das instituições, Marcela Guardia afirma que o primeiro passo para colocar a educação inclusiva em prática é uma gestão cooperativa e livre de preconceito.

“A gestão tem que ter essa mentalidade livre, aberta, empática e acolhedora para lidar com todos e favorecer a cooperação e a empatia também dentro do ambiente escolar”, destaca.

Para Marcela, o conceito de educação inclusiva não faz sentido, uma vez que a legislação diz que educação é para todos. “Se ela é para todos, ser inclusiva é uma redundância”, acredita. 

Os Espaços Lúdico e Pensar têm alunos com TEA (Transtorno do Espectro Autista), TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), Síndromes de Down, de Cornélia de Lange – que causa comprometimentos físicos, cognitivos e neurológicos – e do Cromosso em Anel – doença genética e que afeta, principalmente, o desenvolvimento neuropsicomotor.

O que diz a lei

A educação inclusiva parte da premissa de que a educação é um direito de todos, de acordo com a Constituição Federal, em seu artigo 205, que diz:

“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

O artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) afirma que o modelo de educação inclusiva pressupõe que o estudante seja, preferencialmente, inserido na rede regular de ensino. Desse modo, todas as pessoas “devem ser inseridas em classes comuns, sendo que os ambientes físicos e os procedimentos educativos é que devem ser adaptados aos alunos, conforme as suas necessidades e especificidades”.

A legislação diz ainda que se trata de proposta fundamental para as pessoas com deficiência, mas também para os demais discentes, pois consiste justamente na oportunidade ofertada aos alunos de serem mais cooperativos, solidários e de respeitarem as diferenças e os direitos dos outros.

Como adequar as instalações para a educação inclusiva?

Segundo Marcela Guardia, as instalações têm de garantir a acessibilidade do aluno a todos os ambientes da escola, tanto dos estudantes com alguma deficiência física, como visual ou auditiva. “Eles precisam ter a liberdade e a possibilidade de se locomover pela escola com autonomia e, claro, com os devidos cuidados, dependendo da faixa etária que estiverem”, afirma.

Entre as instalações consideradas necessárias, Marcela destaca plataformas de acessibilidades, elevadores, rampas, comunicação em braile para que todos os deficientes visuais possam se localizar no ambiente e piso podotátil, um material que permite criar uma faixa em alto relevo para indicar o caminho a ser percorrido, o local correto para fazer travessias, possíveis obstáculos e mudanças de direção.

É preciso investir também em qualificação profissional

Só adequar as instalações da escola para torná-la um modelo em educação inclusiva não é suficiente. É preciso também investir na qualificação profissional daqueles que trabalham no ambiente escolar para que saibam lidar com todos os tipos de alunos e personalidades diferentes.

De acordo com Marcela, a unidade de ensino deve dispor de uma formação continuada e também ter abertura para discutir as ações com a equipe interdisciplinar que atende as crianças em acompanhamento.

Na Escola Giz de Cera, em Americana (SP), ao menos uma das professoras é pós-graduada em educação inclusiva para dar todo suporte que a unidade precisa. 

Além disso, explica a pedagoga da instituição, Michele Capela Martorelli, a escola mantém uma troca frequente com os especialistas que acompanham as crianças, bem como com as famílias. “Tudo com o objetivo de trabalharmos da melhor maneira com esses alunos”, diz.

A instituição tem cerca de 25 anos, mas trabalha com foco na inclusão desde outubro de 2010, quando foi comprada pela atual gestão. Hoje, 75 estudantes estão matriculados na unidade, sendo que dois deles têm Síndrome de Down, três são autistas e um tem a Síndrome de Joubert – uma rara formação cerebral, caracterizada pelo subdesenvolvimento.

Quanto mais natural, melhor, diz pedagoga

Para Michele, pedagoga da escola Giz de Cera, o segredo de trabalhar a inclusão é respeitar o limite de cada criança e fazer com que tudo flua da maneira mais natural e tranquila possível. 

“Incluir faz parte e é bonito de ver o carinho, o respeito, e o amor que as crianças têm pelos colegas que apresentam algum tipo de deficiência. A vontade deles em querer ficar perto, de interagir, de colaborar”, comenta.

De acordo com ela, o contato com a diversidade é benéfico para todos – tanto para os que são inseridos no contexto comum quanto para aqueles que os acolhem. 

“Todo mundo tem capacidade de aprender. Alguns podem seguir os métodos tradicionais, outros precisam de recursos mais elaborados, mas todos podem e devem ter acesso ao aprendizado”, conclui.

Para se aprofundar neste assunto, clique aqui e saiba como criar uma escola inclusiva.