6 min de leitura

Muitas instituições de ensino estão apostando na tecnologia para minimizar o impacto da crise sanitária na educação. Na tentativa de conter o avanço da pandemia do coronavírus, as aulas presenciais foram suspensas em escolas públicas e privadas, de forma a reduzir o contato físico entre pessoas. 

Diante desse fechamento em massa, a tecnologia surge como um excelente instrumento para viabilizar que alunos sigam estudando à distância, por meio da internet, e  mantendo contato virtual com seus professores e colegas. 

A recomendação de profissionais do setor educacional é exatamente que professores e alunos sigam em contato, ainda que de forma remota, por meio de “ambientes virtuais de aprendizagem” (AVA ou LMS, na sigla em inglês). 

 

Veja também: com avanço do coronavírus, escolas planejam suspensão das aulas

 

O exemplo da Avenues

A escola Avenues suspendeu suas atividades na unidade da capital paulista no dia 6 de março, após a confirmação de um caso de Coronavírus entre os alunos. O estudante tinha acabado de voltar do Colorado, nos Estados Unidos, onde passou o  Carnaval.

O Escola Exponenciais conversou com a diretora de tecnologia da Avenues, Lia Muschellack, que nos contou como a escola está lidando com a situação há mais de 10 dias.


“A metodologia da Avenues é baseada em projetos e promove muito a autonomia do aluno. A escola já usava duas plataformas digitais, uma para Educação Infantil e Fundamental 1 e outra para Fundamental 2 e Ensino Médio, as duas como suporte online para o ensino presencial. Isso foi uma grande vantagem para a transição para o 100% online, pois os alunos já estavam habituados a usar essas plataformas. O que nós precisamos fazer para essa adaptação foi redesenhar o currículo dentro das metodologias. É muito diferente você programar uma aula para ter a interação e a mediação do professor, na qual o aluno somente usa o online para se preparar, acessar um conteúdo, entregar uma tarefa, do que um modelo em que tudo acontece à distância.”

 

EE: E como vocês fizeram essa adaptação?

LM: Toda manhã os professores postam uma proposta de agenda para os alunos seguirem em casa, que é mais ou menos o que eles fariam na escola, que funciona em período integral, com horário parecido ao que eles teriam em um dia de aula normal, com momentos de intervalos para os menores brincarem, os maiores descansarem, almoçarem. 

 

EE: Mas as aulas não têm a mesma duração, certo?

LM: Os professores têm organizado vídeo aulas curtos com focos bem específicos para garantir a atenção dos alunos. Nós quebramos o conteúdo em blocos menores, assim o aluno assiste a um vídeo, responde, assiste outro, … É muito difícil manter a atenção, mesmo de um adolescente do Ensino Médio, por mais de 3 ou 5 minutos no mesmo foco. Organizamos um movimento de idas e vindas, com flexibilidade de horário. E cada atividade tem uma orientação detalhada, seja de um texto para ler, um vídeo para assistir, uma tarefa para fazer e entregar de volta. 

 

EE: A carga horária é a mesma para todas as idades?

LM: Para os alunos maiores, existe uma sugestão de tempo para eles fazerem cada atividade. Para os mais novos, os horários sugeridos são mais delimitados, por exemplo, de 8h00 às 8h15: assistir ao vídeo de boas vindas do professor, de 8h15 às 9h00: atividade de leitura. E a gente sugere que algum adulto acompanhe esses menores.”

 

EE: E existe vídeo conferência?

LM: “Durante cerca de uma hora por dia, os professores ficam à disposição dos alunos por meio de uma ferramenta de vídeo conferência, para eles terem uma interação diferenciada com os alunos e tirar dúvidas. A escala de vídeo conferências é enviada no começo da semana, mas a participação é opcional.”

 

EE: Porque a escola optou pelo modelo em que os alunos não têm que se conectar ao mesmo tempo?

LM: “Não é um modelo que a gente inventou, a gente pesquisou muito para ver o que podia ser adaptado para a nossa realidade atual. A gente viu que exigir uma participação de todos os alunos ao mesmo tempo seria muito delicado em um momento assim, pois cada família tem a sua forma de lidar com essa nova rotina e isso adiciona mais um provocador de ansiedade e stress para essa família e para o aluno como consequência.”

 

EE: E o currículo está sendo seguido?

LM: “A escola revisou o cronograma para deixá-lo um pouco mais enxuto no momento e vamos recuperar o resto na retomada das aulas presenciais.“

 

EE: Vocês estão usando alguma ferramenta para que os alunos tenham contato virtual entre eles?

LM: “A gente percebeu rapidamente, depois dos dois primeiros dias de aula online, que os menores estavam se adaptando bem à nova rotina acadêmica, mas que eles sentiam muita falta da interação social, pois para eles a escola serve para encontrar os amigos. Então a gente começou a ter um momento de videoconferência para os alunos se conectarem e baterem papo, sempre com a supervisão de um professor nessa sala virtual. Esse processo dura 30 minutos de manhã e é a única coisa que os menores fazem de maneira coletiva. No aplicativo, depois que eles postam as respostas dos exercícios, eles conseguem ver as respostas dos colegas, e fazer comentários, dando feedback um para o outro. Já com os mais velhos a gente usa documentos colaborativos no Google Suite, que permite essa interação e algumas poucas atividades têm sido feitas de forma colaborativa. A gente ainda está medindo um pouco a temperatura nessas atividades colaborativas.”

 

EE: Como vocês avaliam esse período de EaD? Em cerca de 10 dias, deu para sentir se o modelo está dando certo? 

LM: O feedback dos pais tem sido muito positivo. Eles estão podendo viver em casa a metodologia da escola. É muito diferente assistir a uma palestra sobre a escola do que vivenciar o dia a dia. Mas o mais importante é ver que as crianças estão engajadas, envolvidas com algo. Para uma criança ou adolescente ficar presa em casa, em um momento assim, é muito difícil. A situação já é angustiante para todo mundo. Se não tivesse foco, isso seria ainda mais estressante.”