Leis, planos e políticas foram desenvolvidas no Brasil nos últimos anos para combater a discriminação contra pessoas com deficiência. A inclusão deste grupo, sobretudo nas escolas, ainda esbarra no capacitismo.
Apesar do termo capacitismo ser ainda novo, ele trata de um comportamento antigo e ultrapassado. Já que ele se refere ao preconceito com pessoas com deficiência e a ideia de que esses indivíduos são inferiores, podendo ser manifestado de várias formas, por exemplo, ao tratá-los como coitados, doentes e até mesmo heróis por desenvolver a mesma atividade que os demais.
“A principal barreira para uma educação inclusiva é o capacitismo, por isso, ele precisa ser combatido. O capacitismo se sustenta na barreira mais difícil de ser quebrada por pessoas com deficiência, que é a barreira atitudinal. Ou seja, o reconhecimento de que elas não são menos capazes que as demais”, diz Augusto Galery, coordenador de gestão educacional do Instituto Rodrigo Mendes.
Capacitismo: identificar e reconhecer para combater
Para Galery, o primeiro passo para combater o capacitismo nas escolas é reconhecer que ele acontece e identificar as situações em que está presente.
“Há ainda no país uma ideia muito danosa de que fazer a inclusão é apenas garantir o acesso dessas crianças e adolescentes à escola. Como se só frequentar a sala de aula, já fosse suficiente. A inclusão depende de mudanças, físicas, materiais e atitudinais, para que de fato ocorra”, explica.
Algumas modificações podem ser mais fáceis de serem percebidas como necessárias, principalmente, aquelas físicas. Por exemplo, a instalação de rampas e elevadores para cadeirantes.
“O que poucos enxergam é que a inclusão de fato não está resolvida ao se colocar uma rampa. A escola precisa garantir, por exemplo, que essa criança vai ter as mesmas oportunidades para fazer as atividades numa aula de educação física. Ou seja, são necessárias adaptações pedagógicas”, diz.
Repensar os pilares da escola
O especialista também avalia que parte da dificuldade das escolas em promoverem uma educação inclusiva está no fato de pensarem o ensino se preocupando apenas com a questão cognitiva. Ou seja, em garantir que os alunos aprendam conteúdos escolares e não que desenvolvam habilidades.
“A maioria das escolas ainda tratam a aprendizagem apenas como a repetição de conteúdos. Por exemplo, que aprender matemática é saber qual é a Fórmula de Bhaskara e não aprender uma nova lógica de raciocínio”, explica.
Para ele, as mudanças mais importantes em uma escola para que se torne inclusiva são pedagógicas. Partindo desde alterações sobre os objetivos dos aprendizados até a forma como se ensina.
“O professor não pode querer que todos aprendam da mesma maneira, no mesmo momento e ritmo. Por isso, adaptações são necessárias para que todos os estudantes, os com deficiência e os sem, tenham a oportunidade de aprender. As mudanças são benéficas a todos”, diz.
Segundo ele, o professor deve buscar estratégias que usem estímulos e usem habilidades diferentes para o aprendizado. Por exemplo, em uma sala de aula com um aluno com cegueira, pensar em atividades mais sensoriais ou aditivas.
“Uma aula que se concentre apenas no professor escrevendo na lousa, provavelmente, vai deixar esse aluno de fora. Assim como muitos outros da turma que podem aprender menos apenas com esse formato de ensino”, diz.
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Combate ao capacitismo exige preparação e formação dos professores
Professores e gestores são a peça chave para as mudanças necessárias para a inclusão na escola. Por isso, precisam ter uma formação básica que os prepare para essas situações, além da formação continuada – onde terão a oportunidade de pensar e planejar atividades diferentes para cada caso.
Gallery destaca a necessidade de fortalecimento das políticas públicas de formação dos docentes, que foram paralisadas e pouco incentivadas pelo Ministério da Educação nos últimos quatros anos.
Dados do Censo Escolar mostram que apenas 94,5%, dos cerca de 2,22 milhões de professores da educação básica do país, possuem formação para o AEE (Atendimento Educacional Especializado). É com esse tipo de treinamento, por exemplo, que eles aprenderiam a identificar as necessidades dos estudantes e a pensar em adaptações para o melhor aprendizado.
Adaptar também as avaliações
Além da adaptação dos currículos e das atividades, é importante avaliar o aluno de acordo com seu próprio desenvolvimento, e não em comparação com a sala. Um dos motivos para a alta desistência da escola por crianças com deficiência ocorre, em parte, porque a falta de adaptação faz da escola um ambiente hostil e desmotivante.
Os dados do Censo também reforçam como a lógica de ensino atual continua excludente. Conforme avançam as etapas da educação básica, menos os alunos com deficiência estão presentes. Dos cerca de 1,3 milhão de estudantes da educação especial, 37,3% estão matriculados nos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano), 31,4% nos anos finais (do 6º ao 9º ano) e apenas 12,9% no ensino médio.
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