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Apesar das inúmeras lições que o isolamento social proporcionou, caminhamos para um “novo normal” totalmente desconhecido. A retomada das aulas presenciais terá novos desafios e agora, mais do que nunca, a parceria entre família e escola é fundamental para dar continuidade ao aprendizado das crianças. 

Fotógrafa, escritora e com vasta experiência em mares desconhecidos, Marina Klink, que já navegou por 17 vezes rumo à Antártida, enxerga esse momento como uma oportunidade de resgatar uma tradição bem preciosa: a contação de histórias, uma prática que fez parte da sua infância e a inspirou a ser quem é hoje.

“Meu pai contava histórias para mim, eu me lembro do meu pai lendo para mim a coleção Monteiro Lobato, eu adorava a coleção, e o exercício de contar história era muito gostoso. Porque quando meu pai terminava de ler um livro para mim, havia um instante de reflexão”, relembra.

Mas essa tradição se modificou à medida que a sociedade evoluiu. Os momentos de encontros coletivos, em que os grupos se reuniam em torno de uma fogueira e, mais tarde, na sala para assistir TV, aos poucos foram trocados por momentos individuais. Hoje, poucas famílias mantêm a tradição de contar histórias para as crianças.

Agora que a pandemia impôs isolamento social, Marina vê isso como uma oportunidade de resgatar a tradição, levando a reflexões importantes. “Isso de você poder contar uma história, sem dúvida, provoca estímulos emocionais nas crianças, e dessa maneira a gente pode passar a valorizar […] os insetos, as plantas do jardim, aquilo que a gente vê, valorizar o tempo, as nuvens, e repensar essa história do entorno da fogueira, de contar histórias outra vez.”, comenta.

 

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Melhor que contar histórias é criá-las!

O ambiente escolar em si rende várias histórias. Sempre há um estudante bastante criativo, um professor que supera as expectativas e até mesmo pais com histórias incríveis junto aos seus filhos. Há várias possibilidades de histórias, basta saber como coletá-las.

Marina encontrou uma forma de criar as próprias história, tornado sua filhas Tamara, Marina Helena e Laura protagonistas. Em 2006 ela e seu marido, o também navegador Amyr Klink, resolveram fazer uma viagem em família rumo à Antártica.

O que para muitas pessoas parecia uma loucura, Marina viu como uma forma de fazer com que as crianças entenderam a ausência do seu pai, que passava longos períodos nas expedições marítimas, e mostrar para elas a importância da natureza.

“Apesar de todo mundo dizer que eu era louca, cada um sabe dos seus problemas e eu percebi que enfrentar o Drake [ponto de encontro dos oceanos Pacífico e Atlântico] não era o pior dos problemas, o pior dos problemas são as dores que as crianças ficam da ausência, a incompreensão”, justifica.

Durante a viagem, Marina relata que as meninas tinham tarefas domésticas, faziam as lições da escola e ainda escreviam um diário de bordo. Afinal, era muito importante manter a disciplina no barco, e na vida.

Assim, toda a viagem foi documentada em três diários, a partir de três perspectivas e três visões de mundo diferentes. O resultado não podia ser melhor! As histórias narradas por Tamara, Marina e Laura mais tarde deram origem ao livro “ Férias na Antártica”, composto também por várias fotografias de Marina.

Além disso, a viagem, segundo Marina, foi de extrema importância para comunicar a urgência do meio ambiente. “As crianças são excelentes formadoras de opinião da geração deles, porque não usar as meninas para contarem para outras crianças seus próprios valores”.

 

Educação ambiental em pauta

Seja em casa ou na escola, a contação de histórias sempre é uma alegria para as crianças, pois estimula a criatividade e fortalece relacionamentos. Essa também é uma boa oportunidade para estimular reflexões e, de uma forma bem lúdica, tratar de temas importantes, como a vida em comunidade e o meio ambiente. 

Trazendo para o contexto atual, apesar de todo o caos, a pandemia nos deu mais uma chance de repensar nossa relação com a natureza. Como o isolamento social obrigatoriamente reduziu a circulação de pessoas, um dos resultados positivos foi a diminuição no lançamento de gases poluentes na atmosfera. 

Por outro lado, o desconhecimento ou a falta de informação sobre o descarte correto de luvas e máscaras fez com que muitas pessoas se desfaçam desses materiais de forma inadequada. Em um futuro bem próximo, Marina acredita que isso pode virar mais um grande problema ambiental. 

“Agora não tem mais canudo, mas tem isso aqui no mar (luvas), o mar está sendo saturado com luva plástica, com máscaras que as pessoas estão descartando na natureza. Primeira recomendação que eu daria se fosse educadora, atenção com o que a gente está descartando […] essa luva aqui vai virar micro pedaços de plástico com o passar dos anos, e esses pedaços ficarão espalhados na natureza para sempre”, alerta.

Como bem pontua Marina, demoramos anos para abolir os canudos de plásticos e agora estamos cometendo novos erros. Isso denota a importância da educação ambiental não só dentro da escola, mas para a sociedade em geral.

 

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