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A dificuldade de aprendizagem traz preocupações para a comunidade escolar e é preciso um esforço conjunto entre a escola, pais e alunos para que o problema seja resolvido. A dificuldade de aprendizagem se manifesta de diversas formas, podendo ser no âmbito do conteúdo em si como no desenvolvimento de competências de habilidades. Há, ainda, o transtorno de aprendizagem, que muitas vezes demanda atendimento clínico.

A dificuldade de aprendizagem pode ser gerada por algum transtorno patológico, mas também pode estar relacionada ao momento de vida do aluno. Portanto, a escola pode e deve ajudar nesse processo de identificação e ajudar o estudante.

 

O que é dificuldade de aprendizagem?

De acordo com a pediatra e neurologista Gesika Amorim, também especialista em neurodesenvolvimento e saúde mental na infância e adolescência, a dificuldade de aprendizagem pode estar ligada à leitura, escrita e à dificuldade em matemática. 

Crianças com maior dificuldade em leitura, por exemplo, lêem de forma silabada e tem dificuldade de compreender e evocar a leitura. Na escrita, a dificuldade se apresenta na hora de escrever em linha reta, escrita em espelho, troca de fonemas e letras, dentre outros. Na matemática é importante os professores identificarem se as crianças têm dificuldades em reconhecer os números, e realizar operações matemáticas simples, estejam elas escritas ou não.

Para além dessas dificuldades, a especialista alerta também para transtornos de comportamento, que por si só atrapalham o aprendizado e o rendimento da criança. “É importante o professor ter conhecimento da turma e onde o aluno está inserido socialmente e se tem algum outro sofrimento, ou se a criança tem alguma patologia clínica, como miopia, astigmatismo, cefaleia, dentre outros”, sugere Amorim.

Muitas vezes as dificuldades estão relacionadas com a falta de organização e da gestão do tempo, ou de conhecimento de como se estuda cada uma das disciplinas. 

Como identificar as dificuldades de aprendizagem

A orientação educacional da escola, com atendimento individual ao aluno e envolvendo as famílias, pode auxiliar no desenvolvimento de habilidades para aqueles que enfrentam dificuldades. 

Nesse sentido, a escola precisa estar próxima do aluno para conseguir identificar as dificuldades de aprendizagem. No Colégio Poliedro de Campinas (SP), o processo de diagnóstico e avaliações dos estudantes são por meio de provas, trabalhos e dinâmicas de grupo.

Segundo a coordenadora pedagógica do colégio, Isabel Settin, essas são algumas ferramentas que possibilitam a coordenação pedagógica e os professores conseguem perceber se o estudante possui dificuldades de aprendizagem de conteúdo ou dificuldades de habilidades.

Além disso, o professor também observa a participação e o envolvimento dos alunos nas aulas. Segundo Isabel, geralmente o educador é o primeiro a observar as dificuldades dos alunos.

A neuropediatra Gesika Amorim ressalta a importância do professor estar capacitado para conseguir perceber essas dificuldades, caso contrário pode ser difícil para que ele tenha a percepção de que algo não vai bem com o aluno. “É apenas conhecendo os transtornos que a escola pode ajudar. O professor precisa ter conhecimento da turma. Conhecer o aluno e observar se tem alguma alteração comportamental dele”, diz.

O papel da escola

No Poliedro, a escola também busca as famílias dos alunos com dificuldades para investigar se existem outros fatores que possam estar interferindo e se alguma medida já foi tomada com algum outro profissional junto a esse aluno. 

Depois disso, o colégio dá início ao trabalho de reforço com o aluno, que é dividido em dois tipos. “Para o aluno com dificuldade no conteúdo, o reforço é acadêmico através de aulas e de plantões de dúvidas. Já para os que têm dificuldades em alguma habilidade ou competências das áreas de conhecimento o reforço é por meio de dinâmicas e trabalhos, com tutoria dos professores e análise individual”, explicou Isabel.

Provas e testes são algumas das ferramentas para se identificar alunos com dificuldades específicas, principalmente as no âmbito acadêmico. Mas para Isabel, o diagnóstico para dificuldades no desenvolvimento de habilidades e de competências precisa ir além, utilizando ferramentas como o seminário, desenvolvimento de trabalhos e de projetos.

“Pode ser que a maior dificuldade do aluno seja enfrentar seu medo de expor suas dúvidas na frente dos colegas, então o apoio emocional é importante para que o aluno confie na sua capacidade de aprender”, exemplificou a coordenadora pedagógica do Colégio Poliedro.

“A prova é um momento da vida do aluno. Se ele estiver doente, ou ser portador de um transtorno de ansiedade, existe uma grande chance dele não vai bem no teste. Muito mais importante que uma nota, é o contínuo na vida letiva deste aluno. É verificar o interesse dele na sala de aula, em buscar o aprendizado, a socialização dele. A avaliação precisa ser global”, sugeriu Gesika Amorim.

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Transtorno de aprendizagem

Para além das dificuldades de conteúdo e de desenvolvimento de competências, é preciso ficar atento para verificar se o aluno não possui algum transtorno de aprendizagem, que em termos gerais se refere a condições neurológicas que afetam a aprendizagem. Para isso, é necessário uma equipe multidisciplinar para a realização do diagnóstico e melhor tratamento para o estudante.

No caso do Colégio Poliedro, o acompanhamento próximo dos alunos é um facilitador para uma primeira identificação do transtorno.

“A escola pode observar e indicar o possível problema para que a família tenha possibilidade de buscar ajuda especializada o mais cedo possível. Quanto antes, menos experiência de fracasso escolar o aluno vai vivenciar e mais cedo ainda a escola pode oferecer adaptações no contexto escolar condizente com a orientação desses profissionais”, explicou Isabel.

A pediatra e neurologista Gesika Amorim corrobora a importância da escola e do professor conhecer sua sala de aula. Isso facilita o diagnóstico, na visão da especialista. “Desenvolver estratégias que realcem o que aquela criança tem de melhor. Individualizar o plano pedagógico dessa criança pode ser uma forma de fazer com que ela volte a sentir prazer em aprender”, sugere.

O vínculo das escolas com os pais também deve ser fortalecido. O pai precisa conhecer a realidade e o dia a dia do colégio e dos próprios filhos. “É preciso um time que esteja empenhado para desenvolver o conhecimento e a evolução pedagógica dessa criança”, disse Gesika.

Vale ressaltar que a dificuldade de aprendizagem é o sintoma, que pode ter inúmeras causas. Pode ser causada por uma patologia clínica, como deficiência auditiva, situação social, como crianças cujos pais estão se separando, transtorno comportamental (autismo), deficiência intelectual, dentre outros. O transtorno de aprendizagem, como a dislexia, também é uma dessas causas. 

“Cada criança é uma criança. O importante é identificar que ela não vai bem e quanto mais precoce for identificado o porquê dessa dificuldade de aprendizagem, melhor vai ser o rendimento escolar e a evolução. E mais feliz, como consequência”, resume a neuropediatra.

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