Enquanto alguns pais dizem: “A gente precisa de menos conteúdo, está vindo muita atividade”. Outros falam justamente o oposto: “Eu preciso que esse ano a escola seja muito rígida, que realmente cobre mais conteúdo e aprendizado do meu filho”.
Há também aqueles que falam: “Precisamos de aulas síncronas, a gente precisa que a professora esteja ali na hora”. Mas há também pais que questionam: “Precisa de aula gravada, pois como o filho vai dar conta dos rodízios?
Conciliar o desejo e anseios dos pais, principalmente em um momento atípico de pandemia, não é uma tarefa fácil para os gestores escolares. Mas será que o que as famílias querem hoje é muito diferente de 2020 para trás?
Um estudo inédito realizado pela ClassApp em 2017, com cerca de 27 mil pais de alunos do ensino médio, fundamental e básico de escolas particulares de todo Brasil, mostrou os principais diferenciais que os pais mais valorizam em uma escola:
- 82% consideram o cuidado e a atenção pessoal com os alunos mais importante;
- 80% prezam pela excelente educação de valores morais e éticos;
- 72% valorizam o relacionamento próximo e participativo com pais e alunos.
Para mostrar aos gestores como é possível conciliar a expectativa dos pais com o novo modelo de ensino imposto pela pandemia, a equipe do Escolas Exponenciais conversou com Roberta e Taís Bento, respectivamente mãe e filha, e também especialistas na relação família-escola e fundadoras do SOS Educação.
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As lições da parábola dos cegos e o elefante
Com o objetivo de ilustrar o momento delicado que as escolas vivem atualmente e, consequentemente, indicar os caminhos para fortalecer essa relação entre família-escola, Roberta Bento conta uma parábola. Leia abaixo:
Um rei reuniu no pátio do seu palácio várias pessoas cegas de nascença, que nunca enxergaram na vida. Então, esse rei trouxe um elefante para o pátio do palácio e posicionou cada um desses cegos em um ponto do elefante e explicou para eles assim:
“Olha, o desafio de cada um de vocês é explicar para nós o que é um elefante, e para que vocês possam explicar o que é um elefante, cada um vai poder apalpar o que está exatamente aí na sua frente”.
E assim o rei deu um tempo para que cada um dos cegos tocasse e pudesse sentir aquela parte do elefante que estava bem ali na sua frente. Depois de alguns minutos, ele pediu para que cada um parasse e explicasse para todo mundo o que é um elefante.
O cego que ficou ali na frente apalpando a tromba, falou assim “é muito fácil de explicar, o elefante, é alguma coisa que se parece muito com uma mangueira, é bem comprido, maleável, parece uma mangueira de bombeiro, porque tem uma textura bem firme, isso que é o elefante, alguma coisa bem parecida com uma mangueira”,
Aquele que estava próximo da orelha falou “não, não, isso não é um elefante. Um elefante é alguma coisa muito parecida com um leque, é bem flexível, a gente segura e consegue balançar, inclusive quando se movimenta chega a fazer um vento na gente, não tem nada a ver com mangueira de bombeiro”.
O outro cego que estava próximo de uma das patas, falou assim “não, vocês estão totalmente errados, um elefante é alguma coisa muito parecida com um tronco de uma árvore, tanto na espessura quanto no peso, na firmeza, é isso que é um elefante”. E assim sucessivamente até que cada um descrevesse uma coisa totalmente diferente do que outra pessoa descreveu.
Roberta explica que a lição da história está em mostrar que o elefante, na verdade, é a junção das partes que cada pessoa ali teve a oportunidade de conhecer. Desse modo, não teria como, individualmente, nenhum deles descrever com precisão o que é um elefante.
Contextualizando com o momento presente, Taís afirma que não há certos ou errados, cada família contesta aquilo que está dentro do seu campo de visão. “Então, o pai que está achando que tem muito conteúdo no ensino remoto, ele está certo, é aquilo que está vivendo na rotina dele. Já o pai que acha que está pouco também está certo, é verdade que ele está vivendo e que ele queria que o filho fizesse mais coisa”, completa.
Transparência e confiança são as chaves para fortalecer a relação família-escola
Se por um lado, a exigência de cada família é proveniente da sua vivência particular e cabe à escola compreender isso, da mesma forma, é fundamental que as famílias enxerguem o esforço que as escolas estão empenhando para garantir a continuidade do processo de ensino-aprendizado das crianças, no mesmo grau de qualidade antes da pandemia.
Roberta aconselha que os gestores mostrem para as famílias os desafios enfrentados pela escola, como uma forma de mostrar que a solução está na união entre essas duas partes, sempre com foco no aluno e suas necessidades. “Então, o primeiro ponto é, de fato, formar uma parceria que não seja somente a família ir para a escola no dia da família ou no evento da festa junina, […] mas participar do processo de ensino-aprendizagem”.
O segundo ponto, agora trazido por Taís, é a organização da rotina familiar. Segunda ela, o que tem acontecido em muitos lares é que no primeiro sinal de desafio que os alunos têm em relação à hora da aula ou a atividade, o pai enxerga como solução a escola fazer mudanças para que a criança consiga dar conta.
“Então, o filho que está chorando na hora da aula, o problema não é a escola, a solução não é a escola ajustar a dinâmica ou a frequência da aula remota, a solução está no ajuste da rotina da família. Esse é um ponto para conseguir essa parceria e que a escola realmente dê o que o aluno precisa”, pontua.
O terceiro ponto para conciliar esses diferentes desejos do pais é a criação da expectativa positiva, e isso parte mais da escola. Como o próprio nome sugere, a expectativa positiva consiste em dar encorajamento ao outro mesmo em uma situação adversa.
“Hoje a neurociência cognitiva mostra que a expectativa positiva que pais, professores e gestores da escola passam para um aluno em relação à capacidade que tem de superar os desafios de aprendizagem tem um impacto tão grande que chega a modificar o cérebro”, comenta Roberta.
Também graduada em Letras e especialista em Aprendizagem Baseada no Funcionamento do Cérebro, Roberta Bento é a prova viva de como a expectativa positiva e uma boa relação família-escola transforma vidas. Nascida com paralisia cerebral, ela ouviu de educadores e médicos que não poderia evoluir em termos cognitivos e foi desaconselhada a engravidar.
Mas durante a sua infância, uma das escolas que estudou, de fato, fez acontecer essa parceria escola-família, o que foi de extrema importância para seu desenvolvimento. Com isso, o seu cérebro criou rotas alternativas para contornar a lesão causada pela paralisia e, posteriormente, permitiu que ela se tornasse educadora e mãe.
Assista à palestra completa:
O que os pais esperam das escolas este ano?