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Depois de tanto tempo em uma pandemia, a vacinação dos grupos prioritários significa esperança e traz um grande alívio à sociedade. Ao mesmo tempo, somos obrigados a pensar sobre o mundo novo que encontraremos do “outro lado” da Covid 19: essa experiência mudou todos nós, tanto pessoas quanto grupos e instituições, e mesmo quando a crise terminar, a nova visão de mundo e novos hábitos com os quais tivemos que nos acostumar permanecerão. 

Mas o que isso significa, especificamente, para a gestão das escolas? Sabemos que a relação escola-aluno-família se transformou, e que os modelos de ensino tiveram que ser adaptados para uma quarentena, mas como qual seria um plano de ação escolar no pós-pandemia?

Quem opina sobre o assunto é Felipe Sundin, executivo na Conexa Educação – um braço do grupo SEB com mais de 400 escolas e 150 mil alunos que foca em soluções educacionais inovadoras – e diretor da plataforma AZ. 

Sundin, que foi também cofundador e diretor geral do Colégio AZ – adquirido pelo Grupo SEB em 2018 -, explica antes de qualquer coisa que essa discussão sobre o pós-pandemia não tem nenhuma intenção de criar ou incentivar uma falsa sensação de que a pandemia já acabou ou está acabando. “Muito pelo contrário”, diz. “No meu entender, eu falo isso aqui como carioca, também como brasileiro, visualizo que estamos no pior momento da pandemia em termos de números”. Mesmo assim, já se trata de uma conversa interessante sobre a qual se pensar para podermos planejar o futuro. 

 

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1. Aprenda com o passado

O engenheiro de produção ainda ressalta que seu foco agora não é falar, necessariamente, sobre novidades tecnológicas da educação, e sim sobre gestão escolar – a administração pedagógica e financeira. Sendo assim, como podemos aprender com as experiências e desafios da pandemia e utilizar esse aprendizado para melhorar a operação escolar no futuro? 

Primeiramente, de acordo com Sundin, um benefício é que, após o fim da pandemia, nós teremos desenvolvido uma certa resiliência por ter passado por uma situação tão complicada. Ao mesmo tempo, no entanto, teremos lembretes constantes dos desastres ocorridos. Dessa forma, teremos uma mistura de novas ferramentas e novos problemas para resolver. O ponto onde eu queria chegar é que por mais que as duas figuras pareçam antagônicas, eu não vejo tanta antagonismo nelas”, explica Sundin. Isso porque dificuldades impulsionam a criatividade e força; Sundin visualiza, no pós pandemia, um cenário competitivo mais aguçado onde as escolas irão crescer mais. 

2. Construa um relacionamento de confiança

Um ponto importante, de acordo com o especialista, é lembrar que estamos lidando com pessoas e para pessoas; por isso, primeiramente temos que pensar em alguns pontos básicos que são imprescindíveis nesse momento, como a empatia: “Nossa capacidade de entregar empatia ficou comprometida por conta da distância física que a pandemia criou” diz Sundin. “Então, primeiro ponto, temos uma intenção muito clara, uma clareza muito forte, temos que ser ativamente empáticos, mais do que éramos antes”. Em um momento onde todos estão tão assustados, vale a pena fazer um esforço redobrado para entender o outro e fornecer gentileza – principalmente enquanto gestor.

Outro aspecto que faz toda a diferença é a capacitação do time. Segundo Sundin, os colaboradores entendem que o momento é difícil e que seria complicado, para as escolas, premiá-los com aumentos de salário ou promoções; por isso, o investimento na capacitação, no desenvolvimento de uma habilidade, é uma forma de demonstrar que os colaboradores são valorizados e, ao mesmo tempo, de preparar melhor a escola para o mundo pós pandemia. “Para o time pedagógico, deixo aqui a minha sugestão de investir em outras técnicas pedagógicas, outras técnicas didáticas” acrescenta Sundin, que cita a prática de aulas expositivas como uma boa opção de ensino. 

Sundin apresenta, então, mais um ponto essencial em relação ao contexto interpessoal: a transparência, que é a “base da confiança”. Principalmente em um momento tão instável e delicado, é importante que decisões – e suas razões e estratégias – sejam explicadas de forma clara e honesta. “Pode ser que os seus colaboradores, o seu time direto discorde, mas eles vão entender que você levou tanta coisa em consideração”, desenvolve Sundin. Ou seja, contanto que o líder seja empático e confiável de forma consistente, é muito provável que em momentos de decisões difíceis o time tenha fé no seu bom senso. 

3. Saia na frente da concorrência

Em termos de performance, Sundin vê o fim da pandemia como o momento ideal para que as escolas possam demonstrar seu potencial e ultrapassar seus concorrentes. Essa oportunidade se dá porque, depois da crise, é como se a “competição” estivesse começando novamente – e nisso, o uso de dados pode ser um recurso importante para a melhora do desempenho.

4. Use a motivação como combustível da aprendizagem

Nesse tópico, Sundin explica que quanto mais o aluno treina, mais ele vai cometer erros; e quanto mais ele cometer erros, mais oportunidades de aprendizado ele terá. Consequentemente, quando o aluno consegue aprender, ele ganha melhor performance, e isso o incentiva a treinar mais. Esse ciclo de “feedback positivo” depende de motivação. Assim, de acordo com o especialista, quando um aluno diz “odiar” alguma disciplina, isso provavelmente significa que, em algum momento, ele não conseguiu mais seguir o fluxo – o que o impediu de se sentir motivado. 

No entanto, o grande desafio disso tudo é fazer com que o erro seja encarado, pelo aluno, como uma oportunidade de aprendizado em vez de algo negativo e vergonhoso. “Na minha concepção, é o elo mais difícil”, diz Sundin. “E quando o erro não é encarado como aprendizado, a performance fica totalmente comprometida”. Para prevenir esse tipo de problema, o educador recomenda que as escolas ensinem aos alunos uma mentalidade positiva em relação aos erros, apresentando-os como chances. 

Além disso, a disponibilidade de recursos tecnológicos nas escolas também é importante para que os alunos tenham a possibilidade de aprender e corrigir o erro imediatamente; “Ele só vai conseguir transformar um erro em oportunidade de aprendizado, se ele não tem vergonha disso e da mesma maneira se ele tem resposta rápida, tem uma ferramenta rápida”, explica Sundin, que menciona que a ferramenta AZ permite que o aluno saiba se acertou ou errou em um exercício instantaneamente – além de apresentar um vídeo com a resolução correta do problema. O especialista afirma que esse tipo de ferramenta tecnológica fornece autonomia e velocidade ao aluno quando ele está estudando individualmente.

Reflexões para o plano de ação escolar pós-pandemia

Sundin ainda compartilha alguns outros aprendizados que vem ganhando durante a pandemia. Acha, por exemplo, que as reuniões com pais em formato virtual funcionam muito bem, sendo uma alternativa flexível e rápida. Também pontua que, apesar da aula presencial ser insubstituível e ter um papel muito importante, a aula remota, de certa maneira, é positiva para alguns alunos com dificuldades cognitivas, ou que são muito tímidos ou introvertidos. “Então, quando a gente puder voltar 100% ao presencial, isso vai acontecer, não perca uma oportunidade de ter algumas atividades online”, aconselha Sundin. 

No meio de tantos desafios, ficamos ainda com mais uma questão: “Os estudantes não estão moralmente prontos para as avaliações remotas” diz Sundin, que avisou os pais de seus alunos que, apesar dos dados das avaliações serem importantes para a equipe pedagógica, as crianças não seriam reprovadas esse ano. E nesse desenvolvimento, apenas transformar provas de papel em provas online não é suficiente; existe um caminho que deve ser percorrido, Sundin explica, para alcançar realmente o novo modelo de educação. “É uma jornada disruptiva, se as escolas não estão prontas”, avisa, e reforça que hoje em dia seria muito difícil encontrar uma escola já pronta para terminar essa caminhada. 

A importância de desapegar para crescer 

Parte de desenvolver um novo ensino é, inclusive, manejar orçamento – e rever tradições e projetos que estamos historicamente acostumados a realizar. “Nem tudo que a gente tradicionalmente faz é tão essencial assim”, aponta Sundin. Segundo ele, a cada ano aparecem novas ideias e a vontade das escolas é de integrá-las ao seu ambiente; no entanto, elas não desapegam de práticas antigas para isso. Desse jeito, o cronograma anual vai ficando cada vez mais cheio e difícil de manejar. 

Nos últimos tempos, explica Sundin, a pandemia impossibilitou a realização de algumas ações clássicas, e assim ficou claro que certas tradições específicas consideradas essenciais na verdade podiam ser descartáveis. “Não estou aqui advogando por corte de custos, muito menos corte de pessoas, são as pessoas que vão levar vocês para terem sucesso na pós-pandemia, não é isso” clarifica. “Mas olha com parcimônia, com cautela, aproveite as oportunidades de coisas que não aconteceram e que você percebeu na não ocorrência, que não eram tão agregadoras de valor assim, não eram tão estratégicas assim, para você selecionar o que você vai manter é o que você vai abandonar”. Afinal, abrir mão de algumas coisas é o que nos permite continuar crescendo. 

Como seguir daqui para frente?

Algo importante para manter em mente enquanto traçamos esse longo caminho é um conselho de Sundin sobre o significado de inovação: “inovação não é necessariamente criar unicórnios, empresas bilionárias ou fazer uma coisa super disruptiva, uma super ideia da noite para o dia”. Inovação pode ser o ato de simplesmente avaliar o que já se tem e sonhar e visualizar pequenas melhorias que, no longo prazo, devem compor um futuro mais brilhante.

Assista à palestra completa:

Como preparar a gestão escolar para o cenário pós pandemia?