6 min de leitura

Após mais seis meses de pandemia no Brasil, a maioria das cidades já abriu bares, restaurantes, shoppings e academias, e o retorno das aulas presenciais passou a ser um dos assuntos mais discutidos no momento. E já não basta mais apenas se posicionar entre a favor ou contra à reabertura da escola. O período de suspensão das atividades escolares tornou ainda mais notória a importância do papel dos professores e a relevância da escola para toda a sociedade. Mais do que planejar os protocolos sanitários que devem ser seguidos para a segurança de toda a comunidade escolar, é hora de refletir sobre os novos desafios da educação pós-pandemia, como as questões que envolvem o ensino híbrido.

De acordo com a coordenadora do departamento acadêmico da You Bilingual Education, Priscilla Lucena, o primeiro passo para iniciar o planejamento do retorno das aulas presenciais com ensino híbrido, é pensar no acolhimento de todas as pessoas que pertencem ao espaço. “Preciso acolher toda comunidade escolar. Isso inclui quem cuida da limpeza, os alunos, a secretaria, professor, coordenador e diretor. Como vamos nos acolher? Como vamos nos ouvir nessa volta? Precisa de um espaço de escuta”, afirma.

Apesar de o conteúdo ser importante, a consultora de tecnologias educacionais e criadora de conteúdo para a Khan Academy, Natália De Nadai, reforça a necessidade de promover o acolhimento, até mesmo devido ao desgaste emocional provocado pela pandemia. “Será que é só de conteúdo que vive uma escola também? No acolhimento, precisamos trazer momentos de escuta e fala dos alunos. Precisamos fazer com que a saúde mental traga outros benefícios. O retorno não é só sobre conteúdo”, enfatiza.

Autonomia e acolhimento: estratégias para cuidar da saúde mental dos alunos

 

Outro ponto sugerido pelas educadoras é fazer um levantamento para saber quais crianças e adolescentes voltarão, assim como os professores, pois é preciso considerar que há docentes pertencentes ao grupo de risco. Depois, a recomendação de Priscilla é para também priorizar a comunicação, já que as famílias terão acesso físico restrito na escola, e é preciso encontrar ferramentas efetivas para conversar com pais e mães dos estudantes. 

“A volta às aulas exige uma nova configuração do espaço físico envolvendo os protocolos de higiene, que vão desde a entrada na escola até a sinalização dos ambientes. Mas não adianta ter o protocolo e não saber falar sobre eles. Por isso, a comunicação com a família é essencial. O acolhimento e comunicação não podem ser falhas. Esses pontos que vão aproximar ainda mais a família”, explica Priscilla.

Com os protocolos de saúde estabelecidos, acolhimento e comunicação já definidos, as profissionais destacam a importância da formação dos docentes para o ensino híbrido. “Os professores precisam saber sobre ensino híbrido, quem está presencial, quem está online, como vai avaliar os resultados e como aprimorar”, exemplifica Prisicilla.

Como preparar sua escola para o ensino híbrido?

O ensino híbrido é uma metodologia que envolve tanto as aulas presenciais quanto remotas, possibilitando que em determinados momentos o processo de aprendizado ocorra na escola, com outros em que o aluno pode estudar sozinho, na sua própria casa. 

Nesse tipo de ensino, a coordenadora do departamento acadêmico da You Bilingual Education, Priscilla Lucena, acredita que é preciso sempre lembrar que cada indivíduo é único e aprende de maneira distinta do outro. “Então, não adianta ensinar da mesma forma para todo mundo. Vou ensinar, lá na frente, para todo mundo a mesma aula? Não dá”, destaca.

 

Leia mais:
Ensino híbrido: uma nova forma de lidar com uma geração híbrida

 

Sendo assim, a profissional pontua que será necessário planejar de formas diferentes para atingir todos os estudantes. Para isso, ela recomenda a utilização da Rotação por Estações de Aprendizagem. Nessa metodologia, os estudantes são separados por pequenos grupos, chamadas estações, onde são trabalhadas atividades diferentes sobre o mesmo assunto. E, assim, os alunos são estimulados a fazer um rodízio pelos diversos pontos que devem ser abordados, promovendo uma espécie de circuito. 

Priscilla ainda lembra que alguns alunos não retornarão para o ensino presencial e que a escola precisará encontrar alternativas para que todos os alunos consigam ter acesso ao mesmo nível de oportunidades oferecidas na aprendizagem. “Tem aluno que não volta. A gente vai ter que pensar como todos vão caminhar juntos, entendendo que cada um aprende de formas diferentes. Então, será preciso usar a tecnologia para dar conta disso tudo”, reflete.  

 

Tecnologia como aliada no ensino híbrido

Para o ensino híbrido, a consultora de tecnologias educacionais e criadora de conteúdo para a Khan Academy, Natália De Nadai afirma que os gestores das escolas devem refletir quais ferramentas podem fazer a diferenças durante a retomada das aulas. 

“Cada escola tem processos diferentes, mas digamos que um plano de aula incluir uma aula por semana, no período de seis meses, para retomada dos conteúdos de 2020. Como esse professor vai usar uma aula para trabalhar um monte de coisa, que deveria ter sido trabalhada durante um ano inteiro? Como as ferramentas digitais podem ajudar?”, indaga.

Para isso, Natália recomenda a elaboração de estratégias junto com o corpo docente. “Digamos que você vai trabalhar soma de fração, mas você sabe que para soma de fração com denominador diferente, o aluno do 5º ano tinha que ter aprendido com o mesmo denominador. Como retomo esse conteúdo? Você pode usar vídeo com youtubers maravilhosos para esse aluno ver em casa”, sugere.

Natália também explica que ensino híbrido não é sinônimo de utilizar apenas recursos digitais. “Você também pode mandar conteúdos extras para aquele aluno, e pode ser no papel, para que ele faça em casa”, recomenda.

Entretanto, ela acredita que a pandemia possibilitou aos professores e gestores aprenderem a utilizar diversos recursos digitais e, na sua opinião, devem continuar fazendo parte da sala de aula. “Não podemos regredir, agora já sabemos usar os recursos. Não é porque voltou presencial que vamos abandonar a tecnologia. Não vamos esquecer o que aprendemos em 2020, para continuarmos usando em 2021”, reflete.

Para a profissional, o maior impacto do retorno às aulas presenciais será a retomada dos conteúdos referentes ao ano letivo de 2020. E, nesse cenário, Natália visualiza a tecnologia como uma ferramenta que irá agilizar esse processo. “Pedir para o aluno ver uma videoaula em casa, traz movimentos esclarecedores para aquela aula, porque ele já vem com dúvidas. Vamos fazer essas tecnologias serem utilizadas para alavancar e não para substituir”, ressalta a consultora em tecnologia. “Cinco ou seis aulas que ficaria trabalhando o mesmo conteúdo, com estratégias e uso da tecnologia, você consegue fazer em três aulas, por exemplo”, completa.

 

Assista ao seminário online para saber mais:
Gestão escolar, Ensino Híbrido e os novos desafios da Educação pós-pandemia