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Que medidas vão precisar ser tomadas para que as crianças e jovens brasileiros voltem às aulas? Como garantir a segurança sanitária nas escolas com o retorno do ensino presencial? 

Alguns protocolos já começaram a ser divulgados no Brasil, para garantir que alunos voltem aos colégios da maneira mais segura possível, com uma série de ações para evitar a contaminação na comunidade escolar.

Orientações internacionais como as do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), com base nas diretrizes da OMS (Organização Mundial de Saúde), já vêm sendo colocadas em prática nos países em que crianças e jovens já puderam voltar ao ensino presencial.  

No Brasil, embora cada estado deve atuar com suas regras sanitárias próprias, nós reunimos neste post as principais diretrizes que já foram divulgadas por órgãos nacionais e internacionais para que os gestores possam ir se organizando para o tão desejado retorno às aulas presenciais.

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UNICEF:

Segundo o documento divulgado pela UNICEF para embasar o retorno às aulas, estão entre as principais recomendações: 

  • Evitar todas as atividades que gerem aglomerações na hora da entrada e saída da escola, com a sugestão de fazer escalas para que os alunos entrem em horários diferentes
  • Evitar atividades que gerem aglomeração nos intervalos e recreio
  • Reduzir tamanhos de turmas, para aumentar espaçamento entre alunos
  • Realizar treinamento de todos os funcionários (administrativos, professores, pessoal de limpeza,…) para a implementação de práticas de higiene e distanciamento físico
  • Dar treinamento específico para equipes de limpeza, de modo a realizar a desinfecção dos ambientes, sempre usando equipamento de proteção individual (EPI)
  • Aumentar a intensidade e frequência da limpeza
  • Melhorar as práticas de tratamento de resíduos
  • Monitorar a saúde de funcionários e alunos 
  • Fornecer orientações claras sobre como proceder em caso de alguém apresentar sintomas, criando espaço para a separação temporária dessas pessoas, sem criar qualquer tipo de estigma
  • Fornecer orientações claras de quem não deve ir a escola, entre alunos e staff (grupos de risco)
  • Dar ênfase à lavagem das mãos e à etiqueta respiratória (cobrir a boca e o nariz ao espirrar com lenço de papel, descartando-o em seguida no lixo. Caso não tenha lenço de papel, utilizar o antebraço, para tossir ou espirrar. Além disso, evitar tocar olhos, nariz e boca sem ter higienizado as mãos, o que deve ser feito com frequência).

 

O plano nacional da Fenep

Para realizar a retomada das aulas presenciais de forma gradual e segura, a Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares) criou o Plano Estratégico de Retomada das Atividades Educacionais do Segmento Educacional Privado Brasileiro. A Fenep representa cerca de 40 mil colégios no Brasil e elaborou um plano com orientação da Sociedade Brasileira de Infectologia. O plano contempla, além do protocolo no âmbito da saúde, orientações pedagógicas e jurídicas para a reabertura das escolas.

Conheça as 17 orientações do plano da Fenep:

  1. Organizar o espaço para que os alunos sempre estejam pelo menos a um metro de distância dos outros
  2. Higienizar diariamente a unidade educacional com água sanitária diluída (1 colher de sopa por litro de água), antes da chegada das pessoas envolvidas nas atividades presenciais
  3. Disponibilizar álcool gel 70% em todos os espaços, especialmente nas salas de aula
  4. Orientar que todos higienizem as mãos ao chegar à escola
  5. Promover e fiscalizar o uso obrigatório de máscaras por todos dentro da instituição de ensino
  6. Realizar medição de temperatura de todas as pessoas no momento do ingresso
  7. Promover isolamento imediato de qualquer pessoa que apresente sintomas, orientando as famílias ao procedimento de quarentena
  8. Notificar casos confirmados às autoridades de saúde do município
  9. Promover demarcação de espaços físicos, de forma a aprimorar o distanciamento social
  10. Manter professores e funcionários que pertencem a grupos de risco afastados das atividades presenciais, reorganizando-os em alguma das modalidades remotas possíveis
  11. Desenvolver treinamento intenso e contínuo de trabalhadores, alunos e familiares sobre este protocolo de saúde
  12. Realizar o mesmo treinamento com famílias da comunidade escolar
  13. Recomendar que, se possível, os alunos e funcionários devem levar um calçado extra, para usarem dentro das salas de aula
  14. Recomendar que, se possível, alunos e trabalhadores devem levar máscaras extras para realizar a troca a cada 3 horas, durante o período escolar
  15. Recomendar a alunos e trabalhadores que, se possível, levem sua própria toalha de mão de tecido, para uso individual
  16. Disponibilizar em todas as vias de ingresso à instituição de ensino tapetes úmidos com água sanitária
  17. Garantir que os ambientes estejam o mais arejados possível, especialmente salas de aula, realizando atividades educacionais, sempre que for viável, em áreas abertas

 

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Protocolos em São Paulo:  

A Sociedade Brasileira de Pediatria, a Associação Paulista de Medicina, a Clínica Santa Isabela, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (SIEEESP) e a Federação dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (FEEESP) elaboraram, em conjunto, um protocolo para São Paulo. O grupo ressalta, no entanto, que ainda não foi elaborado um protocolo oficial dos órgãos de saúde e educação do Estado.

As orientações básicas são as mesmas, com alguns pontos a mais, como:

  • Promover atividades educativas, com o intuito de reforçar as medidas de higiene, assim como exibir material ilustrativo em quadros de aviso, salas de aula, corredores, etc.
  • Manter lavatórios sinalizados
  • Evitar uso de ar condicionado
  • Suspender atividades que envolvam coletividade, como jogos, competições, festas, reuniões e comemorações
  • Evitar a entrada de pessoas externas ao processo educativo, que só poderão ter acesso excepcionalmente, de forma segura, com máscara e evitando contato com os alunos
  • Higienizar mochilas com álcool 70% na entrada
  • Trocar de sapatos ou higienizá-los na entrada
  • Orientar pais sobre o uso do uniforme somente para a escola, trocando-o ao chegar em casa e evitando ir com o aluno a outros locais com o uniforme
  • Escalonar intervalos (assim como a entrada e a saída), para evitar aglomerações
  • Sinalizar rotas dentro das escolas, para que os alunos mantenham distância entre si
  • Utilizar múltiplas entradas da escola e dividir os alunos de acordo com a proximidade das salas
  • Marcar lugares nos refeitórios, para manter espaçamento de um metro entre pessoas e realizar refeições em horários diferentes
  • Intensificar a higiene de pratos, copos, talheres e suspender, temporariamente, o self-service
  • Evitar o uso de bebedouros, recomendando que alunos levem sua própria garrafa de água de casa

Segundo Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do SIEEESP, alguns ajustes ainda estão sendo feitos no plano de reabertura. Por exemplo, estudar os custos para colocação de aparelhos para desinfecção do ambiente das salas de aula, como em hospitais e hotéis.

 

“Nós estamos buscando tudo o que for necessário, pois não podemos voltar às aulas sem segurança. A abertura vai ser em tempos diferentes. Existem cidades em São Paulo que vão retomar as aulas presenciais bem antes do que a capital. Nós temos realizado várias reuniões para organizar esse retorno, pois a situação de muitas escolas, principalmente da educação infantil, é desesperadora”, diz Benjamin  Ribeiro da Silva. 

“Acredito que muitas escolas vão voltar com 20% dos alunos, 50%, desde que tenham os espaço para distanciamento social recomendado pela OMS. É uma situação difícil, mas eu digo: agora não é questão de ganhar ou perder, é questão de perder menos. E o mundo inteiro está perdendo, não somente as escolas particulares. Ninguém estava preparado para essa pandemia”, completa.

 

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Os comitês criados pelo governo do Rio Grande do Sul

O Governo do Rio Grande do Sul divulgou um documento com diretrizes que deverão nortear a volta às aulas presenciais, chamado Distanciamento Controlado Educação – Primeiros Passos. Os protocolos que vão dar os rumos para a reabertura das instituições de ensino vão ser estabelecidos por uma portaria conjunta das Secretarias de Educação (Seduc) e da Saúde (SES), que deverá ser publicada ainda em junho. 

Um das medidas anunciadas antecipadamente é a criação em cada escola de um Comitê Operacional de Emergência em Saúde – COE Escola. Esse comitê é que vai responder pelo cumprimento dos protocolos em cada escola e cada um deve ser formado por um representante da direção da instituição de ensino e um representante da comunidade escolar. Eles deverão informar e capacitar sobre os cuidados a serem tomados, organizar os protocolos de reabertura das aulas presenciais, fazer o monitoramento dos protocolos, garantindo sua execução diária, planejar ações, definir atores…

Para instituições com mais de 100 pessoas (somando alunos e funcionários) vai ser obrigatório desenvolver um Plano de Contingência para Prevenção, Monitoramento e Controle da Transmissão de Covid-19.

A volta às aulas no Rio Grande do Sul está prevista para acontecer em cinco etapas, para que os alunos não voltem todos ao mesmo tempo.

 

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