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Uma das perguntas que mais têm sido feitas neste momento é: como a gente vai sair desta pandemia e desta crise? Os desafios estão por toda parte: na saúde, na economia, na educação. E as incertezas são muitas.

Em meio a tantas incertezas, existem também alternativas para lidar melhor com o momento e com os novos conflitos.

“Há 3 pilares fundamentais para um relacionamento não conflituoso, seja entre pais e filhos, gestores e professores, escola e família”, diz Aline Basso, empresária que desenvolveu uma metodologia de solução de conflitos baseada em 3 pontos: cooperação, conexão e comunicação.

Aline, formada em Relações Públicas, se autointitula uma treinadora de pais e educadores. Ela é certificada em disciplina positiva e é consultora em encorajamento.

“Conflitos sempre existiram e sempre vão acontecer. Todo ser humano tem necessidades essenciais a serem supridas, e à medida que não consegue saná-las, começa a se envolver em conflitos”, diz Aline.

 

Desafios por todas as partes no cenário educacional

De fato, existem desafios por todas as partes.

Gestores de escolas estão às voltas com pedidos de redução de mensalidades, dificuldades para pagar as contas, estão tendo que administrar a rotina de professores e colaboradores de forma virtual e ainda lidando com os pais de alunos, em meio ao estresse do homeschooling.

Os professores, por sua vez, estão cansados de um ritmo pesado de trabalho via computador. Eles tiveram que repensar todo o seu planejamento didático e aprender, de uma hora para a outra, a dar aulas ao vivo em frente à câmera, conversar via chats, gravar explicações em plataformas virtuais e corrigir tarefas digitalizadas. 

Os alunos vêm registrando índices altíssimos de estresse e até de depressão, com saudades dos amigos, lidando muitas vezes com falta de espaço para queimar as energias, e tendo dificuldades em se concentrar nos estudos dentro de casa.

Sem falar nos pais, muitos trabalhando em casa e acumulando a função de ajudar os filhos nos estudos.

Não está fácil para ninguém. Mas segundo Aline, dá para contornar boa parte dos conflitos focando nos 3 Cs: comunicação, conexão e cooperação.

 

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O Homem, o cérebro social e a comunicação

Segundo Aline Basso, o homem tem um cérebro diferente de todas as outras espécies, o chamado “cérebro social”.

“Nós nascemos com o desejo de nos conectarmos com as outras pessoas, para nos sentirmos realizados, plenos e felizes. A comunicação foi o que nos possibilitou evoluir tanto nos últimos milhões de anos. Tem historiadores e pesquisadores que afirmam que o “boom” na evolução foi exatamente a nossa capacidade de nos comunicar e criar grupos que pensam em ideais e soluções para melhorar a nossa vida. A comunicação nos ajuda a perceber as nossas necessidades e a dos outros, é a nossa humanidade em comum.”

Mas como a comunicação ajuda na resolução dos conflitos? 

A comunicação, de acordo com a especialista, ajuda a expressar as nossas necessidades de forma clara e nos ajuda a compreender as necessidades do outro, gerando empatia. E empatia é uma palavra muito importante neste momento de pandemia. É fundamental nos colocarmos no lugar dos outros, principalmente em um momento em que o mundo se mostra tão interconectado, cada pessoa tão dependente da outra.

“É a partir daí que a gente vai querer se conectar e cooperar. A comunicação nos ajuda a fazer pedidos, criar acordos e estabelecer diretrizes”, diz Aline.

E dessa forma, tão importante quanto o que comunicamos, é como nos comunicamos!

 

 

A experiência na Dinamarca para ajudar o Brasil

A metodologia desenvolvida pela empresária surgiu da experiência dos meses em que Aline passou na Dinamarca e trabalhou em uma escola.

“Na Dinamarca há várias formas de praticar empatia e humanidade dentro do ambiente escolar, da educação infantil até a conclusão do ensino médio. Existe uma lei que determina que, todos os dias, os alunos precisam fazer uma roda para compartilhar algo sobre eles, sejam sentimentos, emoções, pensamentos, desafios, conquistas. São 5 minutos, mas é uma regra. E sabe qual é o resultado disso? Eles conseguiram erradicar, no ano passado e no ano retrasado, o bullying das escolas na Dinamarca.”

Para a treinadora, esse é um ótimo exemplo para mostrar que a comunicação, a conexão e a cooperação são chaves para a resolução de conflitos, também entre adultos.

“Se as pessoas conseguissem praticar essas três habilidades no dia a dia, os conflitos iriam surgir, mas facilmente seriam resolvidos.”

 

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Os 3 Cs e os 3 As: autoconsciência, autocuidado e autorresponsabilidade

A insegurança e o medo que estamos vivenciando geram em nosso corpo e na nossa mente efeitos como a produção de cortisol, que é o hormônio do estresse. As pessoas estão ansiosas, com medo de adoecer, não conseguem dormir direito, comem mais, muitas estão sem poder praticar exercícios físicos. Isso diminui a imunidade, aumenta a ansiedade e faz com que a gente perca nossa concentração, o nosso foco, o que gera dificuldade no aprendizado e distorção da realidade. Quando a gente está se sentindo assim, dificilmente a gente consegue pensar em boas soluções para lidar com conflitos.”

Para Aline, existem alguns passos que as pessoas podem dar para conseguir lidar melhor com os conflitos da vida, entre eles ter autoconsciência, autocuidado e autorresponsabilidade. Lembre-se sempre da máscara dentro do avião! Temos que nos cuidar, primeiro de tudo, antes mesmo de ajudar os outros.

“Quando eu cuido de mim, quando eu pratico a autoconsciência e aceitação, eu posso escolher o tipo de reação que eu terei. Essa é a grande sacada. É assim que eu trabalho o encorajamento nos grupos que eu atendo, sejam mães, escolas, mulheres, nesse processo de conectar, comunicar e cooperar.”

Segundo a empresária, todo mundo está passando por um processo de transformação e evolução muito grande, uma etapa de crescimento e de desenvolvimento de novas habilidades. E todo mundo está vivendo o desafio de lidar com a insegurança e com o medo:

“O medo é um desafio, que está todo mundo vivendo, e qual é a habilidade de vida que a gente ganha? Desenvolver coragem e esperança. No mundo em que a gente vive, não tem como voltar a ser o que era antes ou ficar pior: só melhor.”

 

Uma lista de dicas da Aline para ajudar em momentos de conflitos:

  1. Faça a respiração de 4 tempos: inspirar em 4, segurar em 4, soltar em 4. “Se você conseguir fazer essa sequência por 90 segundos, você consegue ter muito mais clareza dos seus pensamentos, equilibrando o seu batimento cardíaco, com o fluxo de sangue que vai para o cérebro.”
  2. Tenha momentos de pausa durante o dia (e principalmente quando surge um problema a resolver). “Percebeu que está entrando em um conflito, pegue um copo de água e tome em 90 segundos, dando um tempo para você antes de continuar a lidar com o problema.”
  3. Cuide da sua alimentação e do seu sono. “Quando a gente está ansioso, o que a gente faz? A gente come mais, não consegue dormir, fica ainda mais estressado, come mais açúcar e a má digestão prejudica o processo de raciocinar, de pensar em melhores respostas. Um círculo vicioso.”
  4. Identifique seus sentimentos antes de reagir.
  5. Depois de identificar as emoções que estão presentes, tenha uma atitude curiosa e pergunte-se: o que essa emoção ou sentimento quer me mostrar? O que tenho para aprender ou corrigir nessa situação?
  6. Foque em soluções e não em problemas.
  7. Desenvolva redes de apoio e parcerias: “A gente precisa de redes, sozinho a gente não chega em lugar nenhum.”
  8. Faça exercícios diários para manter o otimismo.
  9. Pratique empatia, com os outros e com você mesmo.
  10.  Divirta-se no processo: “Mesmo quando estamos tentando acertar e dando o nosso melhor, podemos errar e está tudo bem, seja gentil com você mesma e não leve tudo tão a sério.”

 

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