“As escolas que conseguirem equilibrar o lado acadêmico com o lado de gestão vão se destacar”, afirma CO-CEO da Exame
Formado em Administração pelo IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) e com mestrado em finanças na London Business School, Pedro Valente começou a carreira como analista sell-side do UBS Pactual em 2006, cobrindo inúmeros setores. Após dois anos morando no Chile e cinco anos em Londres, Valente retornou para o Brasil em 2019 e, desde então, atua como CO-CEO da Exame.
No dia 13 de abril, Valente será um dos palestrantes do Conecta Escolas Exponenciais, o maior evento de inovação de crescimento escolar brasileiro, que será realizado presencialmente no Expo Center Norte, em São Paulo (SP).
Na ocasião, o profissional compartilhará toda sua experiência e vivência na palestra “5 hacks de gestão para mudar a mentalidade da sua escola”. Valente promete realizar muitas provocações para os diretores de escolas, com o intuito de promover reflexões sobre a gestão de uma instituição de ensino. Algumas delas, você confere na entrevista exclusiva ao Escolas Exponenciais:
Escolas Exponenciais: No atual cenário, como você vê os principais desafios dos gestores escolares?
Pedro Valente: Olhando de fora, eu acho que há um desafio da profissionalização da gestão em si. Sempre tem um peso muito importante no lado acadêmico, e tem que ter, mas como esse peso acadêmico acaba sendo prioritário, a parte de gestão da empresa sempre fica num segundo plano. Vejo um espaço enorme das escolas se profissionalizarem.
E quando falo em profissionalizar a gestão, vou fazer algumas provocações: sua escola tem meta e avaliação de final do ano? Sua escola tem um plano de desempenho para pagar bônus? Existe meritocracia? O professor que consegue engajar melhor os alunos, que consegue fazer com que os alunos melhorem as notas, ele ganha mais no final do ano?
Esse tipo de estratégia é muito usada em outras indústrias e outros setores e não vejo sendo tão usada na educação básica. Até com minha experiência em marketing digital, eu acho que tem mato alto para as escolas atacarem. E como faz isso? Começa com conteúdo. Todos os pais querem colocar os filhos nas melhores possibilidades e oportunidades e isso começa na escola. Se o pai tem capacidade financeira, ele sempre vai querer botar o filho na melhor escola. O conteúdo é importantíssimo, seus potenciais clientes e os alunos têm que saber o que a escola representa, qual a linha da escola, o que o filho dele vai ganhar com a escola.
Como você se diferencia da escola do seu competidor? Com a internet, o conteúdo hoje é uma baita diferenciação. A partir do conteúdo, você começa a atrair famílias. Agora precisa entender se isso é qualificado. Precisa estabelecer técnica de marketing para entender se essa família é qualificada para sua escola, para saber se ela consegue pagar a mensalidade.
A inadimplência você ataca desde o começo. Quando a família entra na sua escola, você já deveria ter algum tipo de fórmula de risco de ele virar inadimplente. Os bancos fazem isso há muito tempo. Não sei se as escolas têm uma técnica para conseguir filtrar os pais que conseguem pagar a escola ou não.
A gestão também precisa entender o financeiro. Tem foco no controle do fluxo de caixa? Precisa de um financeiro que saiba conversar com os pais, que entenda metodologias para reduzir inadimplência e que controle muito bem o caixa.
Escolas Exponenciais: Com a pandemia, alguns colégios privados perderam muitos alunos. Para as escolas que conseguiram se manter, mas ainda enfrentam dificuldade, como a gestão pode ser fundamental para superar essa crise?
Pedro Valente: Quando os pais deixam a escola, você tem que ter um time bom de atendimento. Às vezes, basta uma ou duas pessoas que tenham uma interação com os pais e entendam suas dores, que saibam levantar algum tipo de reclamação mais delicada. Hoje toda empresa grande tem um customer success. Precisa fazer muita pesquisa com os pais, porque pesquisa dão dados e você consegue antecipar fluxos grandes.
Se a escola tem uma proximidade com os pais, entende o que está acontecendo com eles, você consegue evitar muita coisa e consegue antecipar com planejamento outras coisas. Evasão escolar é algo que, com pesquisa, pais respondendo de seis em seis meses, você começa a ter tendência, os dados mostram o que está pegando. As empresas pedem muito o NPS, que é uma metodologia que tenta entender o quanto o cliente voltaria a fazer negócio com a empresa de novo. É super importante porque se você está com NPS baixo quer dizer que os pais não estão felizes. A meta principal é deixar seu cliente feliz. Pais têm que entender que a mensalidade que ele paga tem um retorno de curto, médio e longo prazo. Outro lado, é quando o pai liga para cancelar a escola, já tem um time ali que faz só isso e tem uma técnica para convencer a não sair ou uma técnica de negociação para tentar segurá-lo com desconto ou com proposta de valor melhor. Importante usar dentro do mundo escolar técnicas que hoje já existem em grandes empresas.
Escolas Exponenciais: Entrando um pouco no tema da sua palestra do Conecta, quais são os pontos que você considera fundamentais que devem ser mudados na atual mentalidade da escola?
Pedro Valente: Olhar a escola como uma empresa. Uma empresa tem que ter lucro, tem que ter uma satisfação do seu consumidor enorme, tem que entender as dores do consumidor. Olhar uma escola como uma empresa é o principal fator, e você conseguir equilibrar o lado acadêmico com o lado de negócios é o grande desafio. Tem que pensar no processo acadêmico com os professores, mas tem que ter processos de empresa com seus funcionários. Se as escolas não têm departamento estratégico de tecnologia vão ficar cada vez mais para trás, o mundo hoje é digital. Continuo sentindo falta de pensar desse lado mais como uma empresa.
Escolas Exponenciais: Pensando no futuro e no seu conhecimento de gestão, como você acredita que serão as escolas que se destacarão daqui alguns anos?
Pedro Valente: As escolas que conseguirem equilibrar o lado acadêmico com o lado de gestão, elas vão se destacar. Eu ainda sinto falta de um grande “winner”, de um vencedor, alguém que tem o lado acadêmico forte, mas que também tem toda uma estratégia em uma estrutura de gestão empresarial forte, e que consiga comprar e ir consolidando o setor. Isso vejo como oportunidade, pode ser um diferencial. As escolas que conseguirem fazer isso, ter essa estrutura de processo, sistema e finanças vão se destacar.